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Produtor mostra danos na soja de sua lavoura, em Tocantins (Foto: arquivo pessoal)

 

A área plantada de soja em Tocantins, aumentou mais de quatro vezes nos últimos 14 anos, chegando a 1,146 milhão de hectares, segundo a Conab. No ciclo 2020/2021, os produtores mantiveram a tendência, mas a safra tem sido a mais desafiadora dos últimos anos. Chuvas durante a colheita já causaram perdas de até 25% na produção.

Em 2012, o grupo Wink, que já atuava em grãos e pecuária em Goiás, desembarcou em Porto Nacional, região central do Estado, para plantar 2.500 hectares de soja. Nesta safra, a área chegou a 8.300 hectares e metade deve receber a segunda safra de milho. Caroline Schneider Barcelos, gestora do grupo no Tocantins, junto com o irmão Renato e o marido, Rodrigo, diz que 2021 tem sido diferente de tudo que a família já viveu na região.

Vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Tocantins (Aprosoja-TO), Caroline diz que, nos nove anos, o grupo precisou aprender a manejar o solo – bem diferente da região de onde vieram (Chapadão de Goiás) – adequar a época de plantio e lidar com questões comerciais e logísticas. Eles investiram forte em qualificação da equipe, tecnologia nos maquinários, defensivos e adubação e na verticalização do negócio, com armazenagem e transporte.

“Neste ano, quando a soja estava pronta para ser colhida, começou a chover sem parar. Mesmo com equipe, máquinas, armazém, não conseguimos colher. O solo ficou muito encharcado. Tivemos talhões com 15% a 20% de grãos avariados, o que prejudica a qualidade e a classificação. A colheita atrasou em metade da área e por isso devemos ter redução de segunda safra e quebra significativa na produtividade do milho”, diz ela.

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O paranaense Paulo Sergio Vendruscolo chegou ao Tocantins em 2007 e abriu área para plantio de 300 hectares. Atualmente, cultiva 940 hectares na mesma região de Caroline, Porto Nacional, maior produtora de grãos do Estado. Sua lavoura também foi muito afetada pelas chuvas constantes do final de fevereiro até o meio de março.

“Devo ter uma quebra de 20% na produção geral”, diz o produtor, que colhe em média de 60 a 65 sacas por hectare. Segundo ele, um problema adicional foi o acesso aos armazéns para entrega dos grãos, devido à precariedade das estradas e por haver fila de caminhões nos armazéns esperando secagem dos grãos. “Teve caminhão que demorou três dias para voltar à fazenda, que fica bem pertinho. Normalmente, voltaria em uma hora.”

O também paranaense Jhony Jorge Spricigo investe há sete anos na produção de grãos em Marianópolis, no oeste de Tocantins. “Foi um ano bem atípico na região. Atrasou o plantio por falta de chuvas. Na colheita, tivemos muitos dias seguidos de chuva e a qualidade caiu muito. A quebra estimada é de 20 a 25%, mas eu tive cargas que chegaram ao armazém com até 47% de grãos avariados.”

Spricigo planta 1.260 hectares com a ajuda do pai, Jorge, e do irmão Elton. Na safra passada, colheu 64 sacas por hectare, ante a média do Estado de 54 sacas. Seu objetivo agora é implantar pecuária na fazenda em integração com a lavoura.

A catarinense Anakely de Fabris Sgarbossa, produtora de grãos em Campos Lindos, nordeste do Estado, desde 2013, teve um resultado diferente nesta safra porque 380 hectares dos 450 de plantio da sua fazenda são irrigados. “Graças à irrigação, eu já tinha colhido quase tudo quando a chuva chegou, mas vi muitos produtores da região com perda de qualidade e problemas para chegar aos armazéns devido às péssimas condições das estradas com a chuva.”

Aprosoja

O gaúcho Dari Fronza, presidente da Aprosoja-TO, diz que a colheita continua em algumas áreas, o que impede um cálculo mais adequado dos prejuízos no Estado, mas estima uma quebra de 15% a 20%, dependendo da região e do estágio da cultura. Segundo ele, a torcida agora, com o atraso no plantio do milho safrinha, é pela permanência das chuvas.

Clodoaldo Vieira Barcelos, diretor comercial da Fazendão Agronegócio, uma das maiores agroindústrias de soja do Estado, diz que certamente houve perdas pelo excesso de chuvas, especialmente de quem plantou mais cedo, mas há muito "chute" nas previsões. “Muita gente está colhendo acima de 50 sacas por hectare.” No início de março, a agroindústria recebeu muitos grãos ardidos, sem qualidade para exportação. Nos casos em que mais de 8% dos grãos têm avarias, é feito um desconto na classificação.

Para Barcelos, o principal problema nesta safra não é a perda da safra e sim o cumprimento de contratos. “Muitos produtores que não entendem o mercado não querem cumprir o contrato firmado no ano passado.” O problema é que, no contrato antecipado, o produtor fechou a saca em torno de R$ 80. Hoje, ela está valendo R$ 130. “Eles não estão perdendo dinheiro. Estão deixando de ganhar, mas sabiam do risco ao fechar o contrato”, diz o diretor. Com cinco unidades no Estado, a Fazendão processa por ano em torno de 500 mil toneladas, sendo metade por contratos antecipados.

Governo

A dificuldade de acesso às lavouras, a perda de qualidade dos grãos que demandaram mais secagem e os transtornos no escoamento da safra levaram a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Aquicultura do Estado do Tocantins (Seagro) a fazer um levantamento dos prejuízos junto aos produtores, cooperativas e associações em vários municípios. Segundo o secretário Jaime Café, com base nos relatórios e informações coletadas, um ofício foi encaminhado para a Defesa Civil junto com toda a documentação comprobatória dos prejuízos para colocar em prática mecanismos de proteção aos produtores que tiveram suas rendas afetadas por situações de emergência.

Café afirma que os documentos também serão analisados em uma reunião com instituições financeiras visando facilitar o acesso dos produtores a créditos específicos e a renegociação de dívidas referentes a custeio.

Avanço da soja

Adriano Gomes, analista de mercado da consultoria AgRural, avalia que Tocantins deve colher neste ano cerca de 3,651 milhões de toneladas de soja em 1,148 milhão de hectares, com uma produtividade média de 53 sacas por hectare, abaixo do recorde de 55,4 sacas do ano passado. Ele afirma que, apesar de ter crescido a área em 6,5%, o aumento de volume é de apenas 2%.

“A produção no Estado, que é o segundo maior produtor do Matopiba, depois da Bahia, vem crescendo devido ao aumento de área, já que a produtividade dos últimos anos ficou estável, ao redor de 50 sacas por hectare.” Na Bahia, a área plantada é de 1,7 milhão de hectares, para uma produção de 6,460 milhões de toneladas e produtividade de 63 sacas por hectare.

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Para o presidente da Aprosoja-TO, Dari Fronza, uma das explicações do avanço da soja no Tocantins é a logística. A ferrovia Norte-Sul corta o Estado, que tem ligações com os principais portos de exportação. Além disso, o índice pluviométrico permite, na maioria das regiões, que se faça safra e safrinha, o que seria um atrativo extra para novos investidores, inclusive do setor industrial.

“Acreditamos que podemos triplicar a área com grãos nos próximos anos, sem derrubar florestas ou cerrado, somente crescendo em áreas já consolidadas ou em áreas de pastagens degradadas. Temos condições perfeitas de fazer integração lavoura-pecuária por ter grandes ofertas de matriz pecuária e bons frigoríficos voltados para exportação.”

Fronza, cujo grupo familiar cultiva 6.800 hectares de grãos nas regiões de Silvanópolis e Monte do Carmo, centro do Estado, acrescenta que a soja ocupa apenas 4% da área do Estado e a reserva legal é de 35% mais 10% de área de preservação permanente (APPs).
Source: Rural

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