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(Foto: Getty Images)

 

A indústria da carne de Santa Catarina, maior produtor de suínos e segundo maior de aves do país, entrou em alerta com a supervalorização e a escassez de milho no Estado. Pelos cálculos das agroindústrias desses setores, não há dúvidas de que haverá crise de desabastecimento de proteína animal no mercado.

Como principal insumo das agroindústrias de transformação de proteína animal, a insuficiência de milho pode desequilibrar as cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Afinal, o grão representa pelo menos 50% dos custos de produção.

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Com os atuais níveis de preço do milho, o custo final pode subir 25%. O impacto é ainda maior porque só essas duas cadeias do Estado catarinense necessitam de cerca de 19 mil toneladas de milho por dia.

“Não queremos ser alarmistas, mas é preciso ter consciência da situação”, alertou o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior.

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Segundo ele, situação deve se normalizar em 2022, “mas 2021 será um ano difícil de atravessar em razão do preço exorbitante dos insumos para a nutrição animal”.

A saca de 60 kg de milho está cotada atualmente em cerca de R$ 100, registrando uma alta de 72% em relação a fevereiro do ano passado. Aumento maior ainda sofreu a tonelada de farelo de soja, comercializada hoje a R$ 2.750 – 113% mais cara do que 12 meses atrás.

Outro item da planilha de custos que afeta as operações de granjas e fábricas é a energia elétrica, que encareceu 70% nos últimos dez anos. A média de alta prevista para 2021 é de 14,5%. A indústria já apurou que, com esses aumentos, o custo do animal vivo aumenta no minímo 35%, o que fica muito difícil de o setor suportar.

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Reações

Exportações em alta, além de pragas e problemas climáticos, contribuíram para a escassez do grão. Acrescenta-se a isso os baixos níveis dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o atraso do plantio da próxima safra.

O presidente da Acav diz que, no momento, se não houver o abastecimento necessário, seja pelo ajuste dos preços, seja em volume disponível, o setor terá que se adequar, reduzindo alojamento e a oferta de proteína animal no Brasil. Além disso, segundo ele, o encarecimento anula os ganhos dos produtores ao mesmo tempo em que afeta a produção industrial. 

Para atravessar 2021, o setor aponta a necessidade de incrementar a produção dos cereais de inverno e destravar as importações de milho. O segmento já opera em drawback, o que reduz encargos tributários, mas a situação requer o destravamento técnico das compras.

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Ribas Júnior prevê que as médias e as pequenas empresas terão dificuldades de fluxo de caixa e capital de giro, enquanto as grandes empresas operarão em fluxos negativos. Ele lembra a crise semelhante vivida em 2016, que provocou o fechamento de empresas, redução de alojamento e colocou em perigo os plantéis a campo, com risco sanitário.

“Infelizmente, teremos descontinuidade de empresas, atraso nos investimentos e desemprego. Já vimos isso no passado: muitos frigoríficos de pequeno porte não conseguirão manter suas operações com os grãos nesses níveis de preços”, lembra Ribas.

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Existem outras variáveis imprevisíveis que vão interferir no mercado da carne neste ano, como as oscilações cambiais que afetam os preços finais; a manutenção da demanda da China por carnes brasileiras, que mantém aquecido o setor; o debate sobre reformas estruturais para restituir a confiança dos investidores internacionais e a retomada do crescimento econômico.

Outro fator é a queda de consumo no mercado doméstico em razão do alto desemprego. De acordo com o Ribas Júnior, há ainda a dificuldade em repassar estes custos e, por isso, pode ocorrer queda na produção, o que afetará os preços ao consumidor.

“As iniciativas de importação e aumento da produção de cereais de inverno – especialmente nos Estados do Sul – ajudarão, mas não serão suficientes sob a ótica de custos. No longo prazo, precisamos ações estruturantes de logística de grãos para as regiões de produção de proteína e o setor operar de maneira efetiva no mercado futuro”, afirmou, em nota.
Source: Rural

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