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Fernanda Martins, gerente de Saúde e Nutrição da Unilever, em sua apresentação durante a Food Tech Expo (Foto: Reprodução/YouTube)

 

A Unilever, empresa global com marcas em diversos setores, inclusive de alimentos, sugeriu, nesta quarta-feira (17/3), durante a Food Tech Expo 2021, que produtos classificados como ultraprocessados podem ser mais saudáveis do que a comida caseira. Em apresentação, durante o primeiro dia do evento, a gerente de Saúde e Nutrição para a América Latina da Unilever, Fernanda Martins, chamou de mitos a associação dos conceitos de saudabilidade e sustentabilidade à alimentação preparada no ambiente doméstico.

"Mito derrubado: a comida caseira não é necessariamente saudável. Temos que prestar atenção em como preparamos as nossas refeições em casa", disse ela. "Não consumir ultraprocessados não garante que uma alimentação seja saudável. Alimentação com baixo consumo de ultraprocessado não parece ser saudável", acrescentou, citando informações de consumo no Brasil, Canadá e no Reino Unido.

Para embasar a afirmação, ela citou um levantamento que comparou cem receitas de pratos prontos de supermercados com cem receitas extraídas de publicações de culinária, baseada no Reino Unido. E, segundo a nutricionista, a conclusão foi de que as receitas culinárias seriam menos saudáveis porque continham significativamente mais energia, proteína, gordura saturada e menos fibra por porção do que as prontas.

“Isso ilustra que cozinhar em casa não é necessariamente mais saudável do que alimentos processados", disse ela. "Mas não quer dizer que a comida caseira não possa ser saudável. Mas do jeito que cozinhamos hoje, adicionando muito sal e açúcar nas preparações, faz com que nossas receitas, mesmo as caseiras, não sejam saudáveis. Dados brasileiros indicam que 51% do consumo total de sódio vem do sal de mesa, o adicionado no feijão, arroz, carnes e pão francês. Para açúcar adicionado, 55% vem só do açúcar adicionado ao café”, acrescentou.

Fernanda Martins mencinou os altos índices de obesidade da população. Ponderou, no entanto, que a situação é multifatorial e que não pode ser cresditada somente aos produtos ultraprocessados. A nutricionista destacou que a oferta de alimentos é mais ampla e boa parte da população não pratica atividades físicas regularmente.

"É muito simplista e errôneo dizer que a obesidade é causada por um tipo de alimento, no caso, os ultraprocessados", disse ela.

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A nutricionista afirmou também que o fato de um alimento ser natural não o torna, necessariamente, mais saudável. "A natureza pode nos matar. Nem tudo o que é natural nos faz bem", disse ela, mencionando casos de contaminação por consumo de cogumelos venenosos. Fernanda ressaltou o papel da ciência e do melhoramento genético na produção de alimentos mais saudáveis, mas pontuou que os alimentos resultantes desses processos não podem ser chamados de naturais.

“Temos que evitar esse olhar romântico da natureza. O planeta é muito importante para nós. A natureza é a nossa fonte de recursos, é a nossa casa, nossa sobrevivência e precisa ser cuidada. Mas a natureza não foi feita para nós. Nós escolhemos e modificamos a natureza para atendermos às nossas necessidades. Frutas e vegetais, como consumidos hoje, são resultado de seleção e melhoramento genético. Não são como foram criados pela natureza. Nós agimos para melhorar as linhagens silvestres e gerar produtos melhores”, argumentou.

Sustentabilidade

A gerente de Saúde e Nutrição para a América Latina da Unilever, Fernanda Martins, afirmou ainda, durante sua apresentação, que a comida preparada em casa pode ser menos sustentável que a industrializada. Segundo ela, o nível de desperdício de alimentos sugere que as preparações caseiras promovem uma maior emissão de carbono no preparo doméstico do que os preparos industriais.

“Ao descascar uma batata em casa, cerca de 15% da batata é desperdiçada. A indústria de alimentos, por outro lado, consegue processar a batata de forma muito mais eficiente e menos desperdício. Outro exemplo é o suco de laranja fresco, espremido na hora. O que você faz com a casca? Na indústria pode usada na indústria para a extração de pectina e geração de energia. Bacana se você faz tudo em casa, mas não ache que isso é mais sustentável se não tem uma composteira para descartas seu lixo orgânico”, disse.

Ela reconheceu que é preciso procurar materiais mais sustentáveis para embalar os alimentos. A nutricionista disse, no entanto, que isso não impede que esses itens tenham seu papel em uma alimentação mais sustentável, ajudando a preservar alimentos e evitar desperdício.

“Talvez, intuitivamente, acreditemos que as embalagens sempre serão pior para o meio ambiente", disse ela. "Mas, se a embalagem serve para conservar o alimento e evitar perdas, seu uso pode ser benéfico”, ponderou.
Source: Rural

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