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No primeiro bimestre, pecuarista de leite recebeu 7,5% menos pelo produto (Foto: Getty Images)

 

O preço do leite do leite ao produtor em fevereiro fechou, pela primeira vez em seis meses, abaixo de R$ 2 por litro. A média Brasil líquida calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) ficou em R$ 1,9889/litro. A baixa acumulada no primeiro bimestre deste ano chegou a 7,5%, em termos reais (descontando a inflação pelo IPCA de fevereiro/21).

Segundo a pesquisadora Natália Grigol, do Cepea, esse movimento de queda no campo deve persistir em março, influenciando as cotações do leite que foi captado em fevereiro. “Expectativas de agentes do setor indicam que o recuo no preço deve ser em torno de 2,5%, o que, caso se concretize, resultaria em diminuição de 9,8% no acumulado do primeiro trimestre de 2021.”

Ela lembra que mesmo assim os valores registrados neste primeiro trimestre superam os do mesmo período de anos anteriores, representando recorde da série histórica do Cepea (iniciada em 2004). A média deste trimestre supera em 34,5% a do mesmo período de 2020, em termos reais.

Natália explica que a desvalorização do leite no campo se deve ao enfraquecimento da demanda por lácteos, provocado pela diminuição do poder de compra do brasileiro, do fim do auxílio emergencial para muitas famílias, do recente agravamento dos casos de Covid-19 e da elevação do desemprego.

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O Cepea constatou que, desde dezembro de 2020, observa-se intensificação da pressão exercida pelos canais de distribuição junto às indústrias para obter preços mais baixos nas negociações de derivados. “E o fraco desempenho das vendas de derivados em fevereiro deve influenciar negativamente o pagamento ao produtor pelo leite captado naquele mês (e a ser pago em março).”

Em relação ao preço do leite fornecido em março e que será pago em abril, Natália comenta que há dúvidas sobre a manutenção ou não da tendência de queda. “Apesar de as cotações de muçarela terem recuado na primeira quinzena de março, houve valorização no leite UHT e no leite em pó no período.”

Além disso, diz ela, os preços do leite spot (negociado entre indústrias) saltaram de R$ 1,95/litro na primeira quinzena de março, para R$ 2,33/litro na segunda quinzena, ou seja, expressiva alta de 19,8%. “Esse cenário mostra que, mesmo com a demanda final fragilizada, a oferta de leite no campo começa a ficar limitada, o que estimula maior concorrência entre as indústrias para a compra de matéria-prima e, por consequência, preços mais elevados junto ao produtor.”

Ela observa que março marca, sazonalmente, um período de transição para a entressafra da produção leiteira, especialmente no Sul do País. “Além do impacto climático negativo sobre as pastagens, a produção de leite deve ser prejudicada pelas menores quantidade e qualidade das silagens neste início de ano, devido ao clima desfavorável no último trimestre de 2020.” Outro aspecto é que a valorização considerável e contínua dos grãos (principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira) tem comprometido a margem do produtor leiteiro.

Natália Grigol diz que é preciso considerar, também, que, diante da desvalorização do Real frente ao dólar e da alta nos preços internacionais de lácteos, as importações devem permanecer em queda, o que pode intensificar a restrição de oferta nos próximos meses.
Source: Rural

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