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Preço do ovo chegou acumulou alta de 10,5% ao consumidor no período de 12 mess encerrado em fevereiro (Foto: Globo Rural)

 

Assim como ocorre com a indústria de carne bovina, onde a perda de poder de compra da população tem dificultado o repasse da alta do boi gordo, no setor de ovos esse limite pode ter chegado em fevereiro deste ano. Principal substituto de origem animal para quem está fugindo da alta das carnes, o produto bateu novo recorde de preços no último mês, cotado a mais de R$ 131 a caixa de 30 dúzias, segundo acompanhamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O movimento foi seguido por uma desaceleração do consumo em março, explica a pesquisadora do Cepea, Juliana Ferraz. “Chegamos a um ponto que está muito difícil repassar preços e o consumidor está tendo uma resistência para aceitar preços maiores e deixando, realmente, de comprar”, avalia Juliana.

De acordo com os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculados pelo IBGE, o ovo de galinha registrou alta de 2,89% em fevereiro, acumulando uma inflação de 10,5% em doze meses. Quando comparado com os custos de produção, contudo, esses aumentos ainda estão aquém do que tem sido observado no campo, ressalta a pesaquisadora.

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“A valorização do milho e do farelo de soja está crescendo muito acima da valorização dos ovos e com isso, automaticamente, os produtores vão tentar repassar esses preços. Eles estão repassando, mas ainda com muita dificuldade e isso não está acompanhando este aumento nos custos”, diz ela.

Segundo Juliana, empresas já enfrentam dificuldade para negociar. “As grandes granjas conseguem lidar melhor com a situação, mas os pequenos e médios tendem a sofrer um pouco mais porque não têm um poder de barganha tão grande e isso acaba impactando bastante esse pessoal.”

Com isso, a pesquisadora acredita ser possível que haja redução da produção nacional ao longo deste ano. “O produtor já vem pressionado há algum tempo e esse cenário pode ser um fator que seja decisivo para que alguns agentes já estavam em dúvida sobre deixar a atividade saiam definitivamente”, aponta.

"Vencedor de curto prazo"

Na avaliação do consultor de agronegócios do Itaú, César de Castro Alves, o ovo tem sido, entre as proteínas animais, um “vencedor de curto prazo”. “É um setor que tem conseguido repassar bastante os custos, talvez capitalizando a fragilidade orçamentária geral, e também pode estar refletindo uma redução da produção no ano passado”, pontua ao comparar o desempenho com o do frango de corte. Mas o cenário está longe de ser confortável.

“A partir de abril os ovos caem de preço e certamente as margens vão voltar a ficar mais pressionadas a não ser que a gente tenha um rompimento – e eu não me lembro de um ano em que isso não aconteceu”, analisa Alves. De acordo com ele, o mercado só deve passar por uma nova alta no segundo semestre. “Sem uma contrapartida dos custos, a tendência é que fique ainda mais difícil para o setor de ovos”, diz o consultor.

Por enquanto, a perspectiva é de consumo fraco. Além da perda de renda da população, as medidas de controle da covid-19 após o aumento expressivo do número de casos no país também tendem a afetar a procura pela proteína, segundo lembra a pesquisadora do Cepea. “O clima de incerteza prejudica também. Ninguém sabe quando as atividades vão voltar ao normal e isso gera uma certa incerteza para o setor de modo geral. Diferente da carne, os ovos não têm uma exportação expressiva. É menos de 1%. Então é uma produção extremamente voltado ao mercado doméstico”, completa Juliana.
Source: Rural

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