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Preço do milho em patamares elevados pressiona custos do frango que, para o consumidor, já acumula alta de mais de 13% neste ano (Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)

 

Com uma alta acumulada de 13,26% em doze meses segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta quinta-feira (11/3) pelo IBGE, a carne de frango, principal alternativa dos brasileiros diante da valorização da carne bovina, passará por um ajuste mais forte de preços este ano. A previsão, apontada por analistas e empresários do setor, se baseia na forte alta nos custos de produção, que, segundo eles, supera o preço de venda desde outubro do ano passado.

“Nós estamos trabalhando com margem negativa nas operações com frango e, olhando só para aves, as empresas devem fechar o primeiro trimestre no vermelho porque não repassaram custos desde o início do ano passado”, revela o diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) e do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifrigo), Jorge Luiz de Lima.

Embora seja o maior produtor de suínos do país e o segundo em aves, Santa Catarina possui uma oferta deficitária de milho e precisa importar até 75% do grão que consome de outros Estados e até mesmo de países vizinhos. “É um Estado que fica muito vulnerável justamente porque não tem uma oferta de grãos”, observa o pesquisador da Embrapa, Ari Jarbas Sandi, ao lembrar que as perspectivas são de déficit também no suprimento nacional este ano.

“A oferta de milho, que na safrinha costumava ser maior que na safra, não será neste ano. Então vamos ter déficit de oferta de milho e de soja no Brasil, em função dos problemas climáticos ocorridos no plantio da safra e desses outros problemas pelo plantio fora da janela ideal”, pontua o pesquisador ao destacar que a baixa disponibilidade de grãos nas regiões produtoras de aves e suínos exige uma solução “para ontem”.

“Hoje nós não temos disponibilidade nem no Paraguai, nem na Argentina e no Paraná tem, mas é pouca coisa. Daqui a pouco o Brasil vai ter que importar de algum lugar”, aponta o pesquisador da Embrapa. Segundo dados da secretaria de comércio exterior, as importações brasileiras de milho nos dois primeiros meses deste ano somaram 567,2 mil toneladas, quase o dobro do registrado em igual período do ano passado.

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A commodity teve sua tarifa externa comum zerada provisoriamente no ano passado para fazer frente à alta dos preços no mercado interno – benefício que se encerra em março deste ano. “Até alguns anos atrás, os frigoríficos tinham uma grande facilidade de comprar o milho quase que da mão para a boca e agora o cenário mudou.

O Brasil passa a ter um papel relevante no mercado internacional com a China passando também a ser um importador importante e isso traz a necessidade das empresas que compram o milho ter uma política de originação cada vez mais clara”, explica o gerente de consultoria agro do Itaú, Guilherme Belloti.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, destaca que as empresas do setor possuem diferentes níveis de estoques, podendo chegar a volumes que garantem o abastecimento até a chegada da segunda safra. “A gente sabe que mudou de patamar e como consequência inevitável o preço do produto final vai ter que mudar de patamar. A que níveis serão a gente não sabe, cada empresa terá seu perfil”, explica Santin ao apontar, entre as estratégias possíveis, redução da produção, antecipação de abates e o descarte de matrizes mais velhas.

“Quando você tem uma mudança estrutural de padrão de preço você tem reflexo na gôndola e na mesa. Não há outro jeito, não há mágica”, conclui o executivo ao reconhecer que, nesse cenário, o maior desafio será encontrar o equilíbrio entre o custo de produção e o poder de compra do consumidor brasileiro.
Source: Rural

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