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Cevada é vista como boa opção para complementar ração dos planteis de aves e suínos (Foto: Jean-David/CCommons)

 

A Organização Avícola do Rio Grande do Sul emitiu um alerta sobre o quadro emergencial de abastecimento interno de grãos — milho e soja — no estado. Não é um caso isolado. Outros polos produtores, como Santa Catarina, enfrentam o mesmo problema. A diferença é que o milho gaúcho registra a segunda quebra de safra seguida, e o setor da proteína animal — que depende, especialmente, desse grão — está preocupado. Há relatos de interrupção nas atividades de produtores de aves e ovos.

Historicamente, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são grandes produtores de aves e suínos, mas deficitários na produção de milho para atender as demandas de granjas e agroindústrias. A situação obriga esses potenciais consumidores a buscarem o grão em outros estados e países. Somado a isso, a pandemia trouxe entraves e gerou pânico na economia, com altas fora da normalidade, gerando impactos desastrosos nas mais variadas atividades produtivas. A proteína animal já passou por crises e supervalorização deste mercado, mas nada se compara a atual situação.

O momento é crítico e necessita de especial atenção das autoridades públicas. Nossa produção de grãos pode atender tanto a demanda interna quanto a externa. Há alguns movimentos de países da Europa, como a Ucrânia, que visando equilibrar o suprimento interno de milho adotou medidas para garantir abastecimento e evitar um salto interno nos preços, sem proibir as exportações. Além disso, a Arábia Saudita e outros países buscam a autossuficiência na produção de aves e outras proteínas, sustentados pelo milho importado.

Somos defensores de um mercado livre. Em 2003, quando nos tornamos os maiores exportadores de carne de frango do planeta, isso só foi possível graças ao apoio dos setores produtivo de grãos e governamental, além de uma oportunidade única de mercado. Aproveitamos e mostramos nosso valor. Nossa vocação é agrícola! Mais que isso, temos um chamado da humanidade para atender: segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 precisaremos dobrar a produção de alimentos no mundo.

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Acreditamos nas exportações livres – e defendemos a informação antecipada das vendas em equidade com o mercado externo, como ocorre com os EUA. Mas precisamos de opções. As importações de outros polos além do Mercosul e o equilíbrio de acesso foram alguns dos pleitos encaminhados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) para ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. São pontos fundamentais para competirmos de igual para igual com os importadores externos.

Para evitar danos maiores e, talvez, irreparáveis na nossa atividade, também solicitamos a criação de um cadastro antecipado das contratações de exportação de milho e soja, a suspensão temporária da cobrança de PIS/COFINS sobre importação de milho e soja, linhas de crédito para armazenagem e financiamento de armazenamento, e o fim dos entraves para importação de variedades de milho e regulamentações determinadas pela CTNBio, grãos utilizados estritamente para ração animal, como medidas de contingenciamento da atual crise.

Abastecimento de grãos é questão de segurança alimentar. Criar uma alternativa adicional ao milho é primordial. Nesta seara, entram as culturas alternativas ao inverno no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Aveia, cevada e trigo são complementos bem sucedidos na composição da ração de aves e suínos. É possível ampliar a área em até 500 mil hectares nos dois estados do Sul, já neste ano. Teríamos, portanto, 1,8 mil dos quase 7,8 mil hectares usados para as safras de verão. Os atores já se movimentam.

As agroindústrias de aves, suínos e lácteos sinalizam a compra desse mercado futuro. A Embrapa fornecerá subsídio tecnológico pela unidade de trigo, de Passo Fundo (RS), que pesquisa o uso desses cereais na composição da ração animal desde 1987. Este trabalho vai movimentar diversas cadeias e deve proteger o solo que fica descoberto no inverno, gerando emprego e renda em diferentes níveis. Assim como em 2003, temos uma oportunidade única nas mãos: otimizar as culturas de inverno.

*Ex-ministro da Agricultura, líder do movimento de Otimização das Culturas de Inverno e presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, a posição editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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