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Alta do milho preocupa cadeia produtiva das carnes (Foto: Claudio Neves/APPA)

 

Diante da expressiva alta nos preços do milho e da baixa disponibilidade do grão em algumas regiões do país, o Ministério da Agricultura (Mapa) estuda adotar medidas que destravem a importação de variedades transgênicas no país, além de manter a redução das tarifas cobradas sobre importação da commodity para consumo próprio – válidas até o dia 31 de março. As soluções foram propostas na quarta-feira (3/3), durante encontro da ministra Tereza Cristina com representantes do setor de carnes, entre eles a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSUR) e Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS).

“Hoje, a conta não fecha. Em março do ano passado, vendíamos a R$ 3 o quilo, mas o milho estava a R$ 40, R$ 38 a saca – então a gente conseguia um preço bem melhor. Agora, um ano depois, estamos recebendo em torno de R$ 7 a R$ 7,15 no preço do suíno, mas o custo de produção já passa desse valor”, explica o presidente da ACCS, Losivanio Luiz de Lorenzi.

Segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, calculado pelo Cepea, o milho encerrou a quarta-feira (03/03) cotado a um preço recorde de R$ 87,06 – alta de 10,7% no acumulado do ano e de 61,8% ante igual momento do ano passado. “A preocupação é de agora em diante. A pandemia está aí, as exportações ainda estão indo bem, mas o mercado interno a gente não sabe como é que vai ficar”, destaca o produtor catarinense. O Estado é o maior produtor de suínos do país, com abate anual de 12 milhões de animais. Na avicultura, a produção é de 1 bilhão de aves.

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Questionado por Globo Rural, o Ministério da Agricultura confirmou que discute a situação com o setor produtivo, mas não deu detalhes de como seria feita a liberação do milho geneticamente modificado. O esforço da pasta deve ser para a liberação permanente das cultivares transgênicas, o que depende da apresentação prévia de pedido de registro por parte da indústria de sementes. “A ministra disse que isso não é caro, mas é burocrático e já foi feito no passado”, pontua o presidente da ACCS.

Outra saída para destravar a compra desses grãos seria editar uma medida provisória que determinasse quais variedades e em quais condições esse milho entraria no país. “A lei de biossegurança ela fala que para produzir, importar e exportar precisa de avaliação. Ou você publica uma medida provisória autorizando aquele milho, naquelas condições, ou você faz um pedido de avaliação com urgência para a CTNBio. Esses seriam os caminhos”, explica Reginaldo Minaré, coordenador do grupo de trabalho de Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ele ressalta que a importação de variedades transgênicas não aprovadas no país representam riscos ambientais e, principalmente comerciais caso essas cultivares se misturem entre as já produzidas no país – o que poderia gerar problemas na exportação brasileira de milho. 

Também procurada pela reportagem da Globo Rural, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria de aves e suínos, confirmou sua participação no encontro com o Ministério da Agricultura, mas não comentou o assunto.

Tributação

Paralelamente, o setor espera que se mantenham reduzidas as alíquotas de Pis e Cofins cobradas na importação do milho a partir de uma emenda apresentada pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS) para incluir o grão no decreto que zerou, temporariamente, a cobrança dos impostos sobre o diesel.

“Isso, para nós, é imprescindível porque são 11,75% de PIS e Cofins e hoje estamos pagando R$ 90 o milho aqui em Santa Catarina. Se trouxer do Paraguai, descontando o imposto, vamos conseguir reduzir quase 10% do nosso custo”, observa Lorenzi, da ACCS. No caso do oeste catarinense, o milho paraguaio também oferece vantagens logísticas devido à proximidade com o país, quando comparado ao Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, principais Estados produtores do Brasil.

Apesar do alívio, contudo, os esforços para aumentar a oferta de milho no mercado interno devem ter pouco efeito sobre os preços – dado o cenário global de baixos estoques e maior demanda pela commodity. “Temos uma redução da produção na Ucrânia e discussões para restrição das exportações, problemas com seca na safra argentina e, quando olhamos para o Brasil, a gente tem uma safra de verão também baixa impactada pela seca em RS e SC e quando olhamos a safrinha é um plantio que também está atrasado”, destaca o gerente de consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Belloti.

Ela alerta sobre as perspectivas de oferta e demanda para este ano.“Se a gente olhar os números da Conab, numa matemática simples, a gente vira a safra com 10 mi de toneladas, produz mais 25 milhões e consome internamente de 5,4 milhões a 5,7 milhões de toneladas por mês. Em seis meses, significa que o que a gente produzir mais o que a gente tem de estoque é o que vamos consumir”, calcula o analista.
Source: Rural

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