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Congestionamento da BR-158 (Foto: Reprodução/ Aprosoja)

 

A colheita acelerou no Estado que mais produz soja no Brasil: Mato Grosso. Os trabalhos passaram de 8,9% para 25% da área em uma semana. A produção, no entanto, tem se deslocado em ritmo lento na região do Vale do Araguaia, leste mato-grossense.

Carretas carregadas do grão têm enfrentado longos congestionamentos na BR-158, na altura do entroncamento com a rodovia estadual MT-322. Com as chuvas, o trecho não asfaltado de 121 quilômetros vira um grande obstáculo até para os caminhoneiros mais experientes.

Nas duas primeiras semanas de fevereiro, com as chuvas na região, foram nove congestionamentos reportados nas proximidades de Alô Brasil (MT), segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). De acordo com o site especializado Climatempo, os próximos dias seguem com altas chances de precipitação.

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“Com o atraso das chuvas, acumulou a colheita, que o produtor precisa escoar de alguma forma. Daí, o problema se agrava”, explica o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz. Segundo o especialista, o aumento de fluxo causa um gargalo na área com a infraestrutura mais precária do Vale do Araguaia: o trecho entre o posto Arnaud, em Alô Brasil, e Espigão do Leste.

Ainda de acordo com Vaz, a região do leste mato-grossense foi a primeira a ser explorada por agricultores e pecuaristas, nos anos 70. Os produtores da porção sul, entre Barra do Garças e Água Boa, têm rodovias asfaltadas e saída fácil para ferrovias e hidrovias em Goiás e Minas Gerais. Mas quem está no norte, embora tenha opções de portos em Tocantins, Pará e Acre, precisa enfrentar os atoleiros da MT-322 e a BR-158.

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Preocupação

O Sindicato Rural de Vila Rica, no Mato Grosso, informou que o número de caminhões circulando na BR-158 aumentou de aproximadamente 1.500 para cerca de 2 mil ao dia. No dia 12 de fevereiro, o agricultor Volmar Mangione, de Espigão do Leste, estimou em 400 mil hectares a área agricultável dependente da rodovia para escoamento, em vídeo para a Associação dos Produtores de Milho e Soja do Estado do Mato Grosso (Aprosoja/MT). Na quarta-feira (17/02), a Aprosoja/MT manifestou preocupação com os problemas de infraestrutura enfrentados pelos produtores do Vale do Araguaia. 

“O investimento que o produtor faz na forma de taxas para o Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) em cada uma das safras, totalizando cerca de R$ 1,5 bilhão, tem de ser retornado aos cidadãos. Lutamos pela volta desse recurso para colocar o mínimo de infraestrutura que o produtor precisa. Nós estamos falando dos mínimos dos mínimos, mesmo”, afirmou Fernando Cadores, presidente da Aprosoja/MT.

A pedido dos produtores da região do Vale do Araguaia, a entidade tratou das condições da BR-158 com o Ministério da Infraestrutura. Informou que a resposta foi uma garantia de que as obras na região estão entre as prioridades da pasta.

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Resposta do governo

Procurado pela Globo Rural, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) afirmou atuar de "maneira diligente" para garantir a trafegabilidade da BR-158, sobretudo no período chuvoso, com equipes mobilizadas de maneira ininterrupta para dar condições de trânsito no trecho não-pavimentado.

Está nos planos uma via pavimentada no trecho. Mas isso passa por uma mudança no trajeto da BR-158 para evitar a travessia por terra indígena, como orienta a legislação vigente. Hoje, a rodovia atravessa a Terra Indígena Marãiwatsédé por um trecho de 121 km. A comunidade não permite a realização da obra dentro de seu território.

De acordo com o DNIT, o novo traçado será feito ao leste do parque do território e implementado em dois estágios. O primeiro lote foi licitado em acordo que contempla projeto – em elaboração – e obra. A segunda parte do contorno está sob análise para emissão de licença de implantação e deve entrar em fase de licitação no futuro próximo.

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O projeto atual de pavimentação da BR-158, ao optar pelo contorno leste, passará pelas cidades de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista e retorna à rodovia original no km 201. A MT-322 tem sua rota ao oeste da Terra Indígena. Corresponde a um trecho da rodovia BR-080 estadualizado em 2015.

“As obras dos dois segmentos do contorno [leste] dependerão de aporte orçamentário e contam com priorização do Ministério da Infraestrutura e com o apoio da Bancada do Mato Grosso no Congresso Nacional”, declarou o DNIT, em nota.

Acima da média

Trator socorre caminhões na BR-158 (Foto: Foto: Reprodução/ Aprosoja)

 

O diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, salienta que as obras rodoviárias demoram: “A nossa necessidade como setor produtivo é muito maior e mais exigente em termos de tempo do que a reação do governo".

Além da sobrecarga causada pela colheita atrasada da soja, falta atenção à manutenção das vias, tanto as asfaltadas quanto as de terra. “As estradas abertas, ao longo dos programas dos governos estaduais e federais, usaram um sistema construtivo chamado TSD [Tratamento Superficial Duplo], que tem baixa durabilidade quando a manutenção adequada não é praticada. Se é feito, não há problema”, detalha.

Vaz explica que o Movimento Pró-Logística está engajado na pavimentação de uma rodovia estadual a ligar Espigão do Leste a Canabrava do Norte, viabilizada com recursos do Fethab. “É um trecho pequeno, por volta de 70 km, que vai ser feito pelo governo do Estado, em conjunto com produtores – a MT-109. Isso vai resolver boa parte do problema deles”, conta.

Contudo, ele tem ressalvas: “Há, neste momento, um fluxo de carretas muito acima da média passando no mesmo trecho de estrada de chão da BR-158. Com essa demanda muito maior do que a esperada, não tem estrada que aguente”.

*Com supervisão de Raphael Salomão, editor-assistente
Source: Rural

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