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Com o Caparaó, Brasil passa a contar com sete indicações geográficas na cafeicultura (Foto: Fazendas Dutra/Divulgação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O café produzido na região do Caparaó, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, que durante décadas sofreu deságios nos preços por ter sua bebida classificada como “rio zona”, de paladar inferior, agora pode provar para o mundo que é um produto de qualidade superior. A região é mais recente detentora do selo de Indicação Geográfica, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). 

Os cafeicultores mineiros e capixabas da Serra do Caparaó, onde fica o Pico da Bandeira, o terceiro cume mais alto do Brasil, levaram anos para se livrar da imagem negativa, que ainda persiste para boa parte do café do Brasil, embora o país responda por 40% da produção mundial, lidere a exportação e seja o segundo maior consumidor da bebida no planeta.

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Deneval Vieira, cafeicultor de Iúna (ES) e dono da marca Café Cordilheiras do Caparaó, lembra que foi um processo muito longo até a obtenção do selo. Ele acredita que o reconhecimento vai ajudar a valorizar os cafés diferenciados produzidos na região. 

Segundo ele, que é membro da diretoria da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec), a primeira etapa passou pelo reconhecimento dos próprios produtores, de que a região talvez tivesse um diferencial. “Antes de 2010, o café do Caparaó quase não era conhecido, isso só mudou quando começamos a participar e a ganhar vários concursos”, conta Deneval. 

Ele diz que duas instituições foram muito importantes para alertar os produtores sobre o potencial da região: o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), sediado em Alegre (ES). “Os técnicos falaram que se, em toda competição o café do Caparaó ganha destaque, é provável que exista um terroir, um microclima e uma situação geográfica ali que contribua para isso”, explica. 

Indicações geográficas do café (Arte: Felipe Hideki Yatabe)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A partir daí, os produtores começaram a se organizar para ir atrás da proteção e do reconhecimento que o produto da região merecia. “Para isso a gente precisava de uma associação organizada e de regras para a produção desses cafés especiais. Assim, só os agricultores que se adequassem nisso poderiam receber o certificado”, afirma Deneval, que participou de todo o processo. Além da questão da qualidade, também foi levado em conta a questão da responsabilidade ambiental. “Além de proteger e validar o café, o selo também serve de garantia para o consumidor”, diz ele. 

Deneval explica que existem dois tipos de Indicação Geográfica: a indicação de procedência, que está mais ligada ao renome da produção da região, e a Denominação de Origem, que indica de forma inequívoca a qualidade do produto. “É como se a Indicação de Procedência fosse um passo para obter a denominação de origem, e nós reivindicamos logo a segunda”, destaca.

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O produtor conta que, na colheita, os grãos são colhidos todos de uma vez só: verdes, maduros e até os que já estão secos. "No caso do café especial, apenas os melhores grãos são catados, não podem ser verdes nem ter secado no pé. Para isso, o trabalho pós-colheita é muito maior, porque a gente tem que selecionar e tirar todos os grãos defeituosos”, diz ele.

Na sua lavoura, Deneval explica que a produção desse café gourmet começa ainda na nutrição das mudas enquanto crescem. Depois, colheita e pós-colheita são realizadas com cuidado e atenção. “Até a seca do café especial precisa ser feita de um jeito próprio. Os meus, por exemplo, são secados em terreiro suspenso na estufa, muito diferente da forma de secar os que são commodities”, afirma.

A aposta no café especial também foi feita pelos irmãos Dutra, produtores de São João do Manhuaçu, que fica no lado mineiro da Serra do Caparaó. Eles contam que a topografia da região contribuiu muito para a tomada de decisão. “Por ser uma região de montanhas, o plantio é difícil, pois requer muita mão-de-obra, então esse café diferenciado acabou sendo a escolha mais viável para nós”, conta Ednilson Dutra.

Cafés especiais fora a escolha da família Dutra para o cultivo na região da Serra do Caparaó (Foto: Fazendas Dutra/Divulgação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outro aspecto importante da produção dos irmãos é que, como em uma mesma fazenda existem terroirs diferentes, os grãos de determinados terrenos são segregados e comercializados em microlotes. “A gente trabalha com variedades distintas de café que se adequam ao nosso clima e a solos com composições diferentes, sempre tentando mostrar o diferencial dos nossos produtos”, afirma.

Na avaliação de Ednilson, a Indicação Geográfica é importante, pois comprova a qualidade e a exclusividade do café produzido na região. E, junto com outras IGs já concedidas, representa uma conquista para o produto em todo o Brasil. Ao todo, o café tem sete Indicações Geográficas, sendo três denominações de origem e quatro indicações de procedência.

“Se os produtores souberem explorar esse certificado e seguirem as regras necessárias, só teremos a ganhar com isso. Acho que é uma tendência no país, mas, mais do que isso, é uma conquista do café brasileiro”, destaca.

O maior cuidado e investimento dos produtores nos cafezais se traduz no aumento da exportação dos chamados cafés diferenciados – que têm qualidade superior ou algum tipo de certificado de práticas sustentáveis. No ano passado a exportação de cafés diferenciados cresceu 4,4% ante o ano anterior, com embarque de 7,9 milhões de sacas, o maior volume dos últimos cinco anos. A receita cambial foi de US$ 1,3 bilhão, que representou a 22,9 % das exportações totais de café. O preço médio dos cafés diferenciados ficou em US$ 163,60/saca, enquanto a média geral foi de US$ 123,16/saca.

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Source: Rural

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