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Encanamento traz a água até o bebedouro, onde o gado mata a sede. Implantação do sistema, além de elevar o ganho de peso dos animais, evita danos a mananciais, que são Áreas de Preservação Permanente (Foto: Hubner Douglas/HD Mídia Produções)

 

A ideia de investir em água encanada para o seu rebanho de 1.600 animais pareceu assustadora para o pecuarista Ayrton Galato. A medida, sugerida por consultores privados, era uma saída para aumentar a produtividade e intensificar até 60% da área útil de pastagem da sua fazenda, em Nova Bandeirantes, norte de Mato Grosso. A implantação em uma área já abundante em recursos hídricos chegou a custar quase R$ 300 mil .

“É uma coisa meio assustadora você encanar água pro gado onde já tem água, mas, no decorrer dos dias você vai acompanhando e vê que o gado estava degradando uma beira de córrego, estragando uma represa, e, principalmente, o gado estava bebendo água suja”, reconhece o produtor.

Galato conseguiu resultados com o sistema, implantado há três anos, e aumentou em 19% o ganho médio de peso diário do rebanho, pagando o investimento em reservatório e sistema de distribuição já nos primeiros 12 meses, quando obteve receita de R$ 370 mil. “É coisa da cabeça do pecuarista achar que encanar água não é necessário. Ela é tão necessária quanto a comida. Os dois andam junto”, reconhece o produtor.

Encanar a água que vai matar a sede do gado não se restringe apenas ao resultado do investimento, que, no caso do pecuarista Ayrton Galato, foi de R$ 70 mil. A iniciativa visa aliar o ganho financeiro aos esforços para aumentar a sustentabilidade da atividade na região, inserida dentro do bioma amazônico.

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Ao oferecer aos animais a mesma água que ele e sua família consomem, o produtor aumenta a disponibilidade em rios e canais que passam pela sua propriedade, gerando benefícios para toda a comunidade local. Além de evitar que os animais causem danos ao manancial, que, por lei, é Área de Preservação Permanente (APP).

“A pecuária sustentável é primeiramente economicamente sustentável e a consequência dela é, sim, a conservação do ambiente, que pra gente traz muito mais benefícios”, explica o agrônomo responsável pelo projeto, Murilo Saraiva. Diretor da Campo S/A, consultoria que presta assistência a outros 150 pecuaristas no norte do Mato Grosso.

Ele destaca que os ganhos financeiros da sustentabilidade são o principal argumento para promover mudanças na forma de criar gado na Amazônia. “O produtor consegue trocar uma caminhonete no ano porque conseguiu mudar o seu sistema de água, porque deixou de ter o animal tomando água lá na APP. Isso é uma consequência indireta de conservação”, explica.

Bacia de captação

A importância da medida também é ressaltada por instituições que defendem a conservação do bioma, como o Instituto Centro de Vida (ICV), desde 1991 na região. “Precisamos lembrar que uma área agropecuária é uma bacia de captação. Então tudo que se faz no solo reflete na captação de água de toda uma região, inclusive daquela propriedade”, observa o consultor do ICV, Eduardo Florence.

Do lado produtivo, a água encanada e de boa qualidade é fundamental para a nutrição e o ganho de peso do rebanho, explica o zootecnista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Dalton Henrique Pereira. “Quando a gente olha o fator água, ele é totalmente negligenciado em termos de qualidade, em termos de disponibilidade e em termos mesmo de contaminação. E isso é muito sério no processo”, alerta o pesquisador ao lembrar que o “o principal nutriente é a água”.

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“Basta fazer uma analogia com a nossa vida. Se eu estiver com sede, de que me interessa a comida A, B ou C? Eu quero água. O animal é a mesma coisa. É o principal nutriente do animal”, completa Pereira. Ele cita estudos realizados entre 2002 e 2011 que apontaram ganhos adicionais diários de peso de 105 a 207 gramas ao dia.

Resultado comprovado na fazenda do pecuarista Ayrton Galato. “Esse é um caminho sem volta e isso vai continuar. Vamos continuar ampliando e você vê o resultado imediato. O ganho é muito rápido. Na hora você já percebe a maior docilidade dos animais, o manejo muda e tudo fica muito melhor para trabalhar”, comemora o produtor.

Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui.
Source: Rural

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