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(Foto: Eduardo Monteiro/Divulgação)

 

Lucrativa há 11 anos seguidos e somando recordes de produção e preços no ano da pandemia, a soja deve ter a maior rentabilidade da história em reais na safra 2020/2021. Pelo menos no papel. E não é o câmbio que coloca a interrogação, mas sim o clima.

“Deve ser a safra de ouro do Brasil. Na temporada 2019/2020, o produtor não aproveitou todas as benesses da valorização cambial de 40% porque vendeu boa parte antes da alta do dólar”, explica Fernando Muraro, analista de mercado da AgRural. Segundo ele, a nova safra já está precificada pelas vendas antecipadas e não deve ser afetada por uma eventual queda do dólar.

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No país, quase 60% da safra já estava vendida em novembro, ante a média histórica dos últimos cinco anos, de 40%. “Com os 60%, o produtor já paga os custos e ganha um pouco devido à boa relação de troca com insumos. Os outros 40% são lucro”, explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócios.

Lucilio Alves, pesquisador do Cepea/Esalq/USP, ressalta que o produtor desacelerou a venda antecipada, devido à incerteza do clima. “O medo é não conseguir cumprir os contratos em janeiro e fevereiro.”

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Atraso nas chuvas e no plantio já compromete produtividade da safra 2020/2021

 

O atraso no plantio de soja, causado pela falta de chuvas, apavorou a cadeia, mas pode não ter tantos impactos na produtividade. O problema são os efeitos decorrentes do fenômeno climático La Niña. “Em 70% dos anos de La Niña, a Região Sul teve problemas na safra”, lembra Fábio Meneghin, da Agroconsult. Em números, as consultorias e a Conab projetam uma produção recorde que varia de 130 milhões a  135 milhões de toneladas, com aumento de área de 3% a 6%.

Em Mato Grosso, maior produtor nacional, desde 2014 não ocorrem atrasos no plantio como nesta safra. Cleiton Gauer, gerente de inteligência de mercado do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), diz que houve uma aceleração de semeadura no Estado desde a segunda quinzena de outubro. A expectativa é de aumento de 3,18% na área e produção de 35,87 milhões de toneladas.

 

Marcelo Garrido, do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), diz que em seu Estado, vice-líder no ranking de produção, houve uma recuperação no plantio e, se chover na hora certa, não haverá problemas. A previsão é colher 5,6 milhões de toneladas, 2% a mais que em 2019/2020. Um fator de preocupação no início de 2021 é o baixo estoque de passagem. As indústrias importaram 625,5 mil toneladas de soja de janeiro a outubro, o maior volume em 17 anos.

“A pandemia alterou um pouco o mercado, mas não faltou soja. Houve aumento percentual grande, mas o volume importado é pequeno diante do consumo”, diz Daniel Furlan, economista da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Ele descarta riscos de desabastecimento e prevê processamento recorde de 45,8 milhões de toneladas.

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Nas exportações, a expectativa dos analistas é superar o recorde de 2018, de 82,2 milhões de toneladas. A Abiove prevê 83,5 milhões, com uma geração de divisas de US$ 41 bilhões. O otimismo se explica devido à maior produção e ao maior excedente, à demanda chinesa em alta e ao valor do dólar, que pode cair um pouco, mas deve se manter alto.

Um fator que gera dúvidas é o câmbio. “Para o produtor, só muda se houver um derretimento absurdo, voltando o dólar para R$ 4”, aposta Adriano Lo Turco, da Agroconsult. Para Muraro, a eleição de Joe Biden nos EUA pode impactar a questão ambiental. “O agro vai sentir falta do ogro”, brinca, referindo-se a Donald Trump, o presidente derrotado.
Source: Rural

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