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Gafanhotos atacam plantação no Rio Grande do Sul. Situação acendeu alerta sanitário (Foto: Site Santo Augusto Urgente)

 

As infestações de gafanhotos que ameaçam lavouras e vegetação nativa na região Sul do Brasil preocupam produtores que nem sempre contam com produtos registrados para o combate aos insetos.

Na semana passada, duas espécies endêmicas (Zoniopoda iheringi e Chromacris speciosa) de uma reserva indígena que estavam atacando vegetação arbórea no entorno de lavouras de soja e milho no noroeste do Rio Grande do Sul levaram a um alerta de emergência fitossanitária.

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No entanto, esses eventos também acenam para as empresas desenvolvedoras de produtos biológicos, que buscam podem ser utilizados no controle de populações de gafanhotos sem prejuízo ao meio ambiente e de maneira mais eficiente.

“Aqui no Brasil, as empresas não investiram nesse alvo (gafanhotos) porque eles não eram uma praga de nível de dano recorrente. Mas isso tem mudado, nos últimos anos, inclusive a formação da nuvem de gafanhotos fez com que as empresas de biológicos trabalhassem com a pesquisa e desenvolvimento desses produtos”, afirma Amália Borsari, diretora-executiva de biológicos da CropLife Brasil, associação formada por especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias nas áreas de germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos.

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  (Imagens: Site Santo Augusto Urgente)

Uma nova possibilidade foi aberta com a publicação da portaria 208/2020, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em junho, que estabeleceu as diretrizes para o Plano de Supressão e as medidas emergenciais de controle a serem aplicadas no caso de surtos do gafanhoto da espécie Schistocerca cancellata nas áreas produtoras no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi permitido o uso de produtos biológicos a base dos fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, que não haviam sido testados.

“Com base nesses dois ativos, os produtos puderam ser aplicados em caráter emergencial e temporário com o aval dessas portarias, embora não tenham sido testados para gafanhotos. Inclusive, após um ano, se não for constatada a eficácia nesses insetos, haveria a retirada dessa prevenção”, explica a executiva.

 

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Amália Borsari explica que o desenvolvimento de produtos biológicos para controle de insetos exige uma pesquisa que vai além do nível de espécie e chega à cepa (organismos isolados com características genéticas que os diferenciam dentro da mesma espécie).

Segundo ela, no Brasil há hoje 20 produtos à base de Metarhizium e 17 de Beauveria com diferentes cepas, formulados por 17 empresas, que poderiam ser utilizados no controle de gafanhotos, mas nenhuma delas produz um tipo de cepa mais termotolerante e que é mais estável para a infecção do inseto.

“O gafanhoto, quando é infectado pelo fungo, fica exposto ao sol e isso faz com que esses fungos fiquem mais expostos a morrer, porque não toleram muito calor. Então, precisaria identificar os isolados desse fungo que seriam mais termotolerantes e estáveis para a infeção desse gafanhoto. As empresas agora estão mais focadas no desenvolvimento desses produtos com base nesses últimos acontecimentos”, explica Borsari.

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A autorização para o uso desses produtos contra os gafanhotos pelo Mapa foi baseada na literatura internacional, inclusive de programas de manejo na Austrália e em países da África, onde são usadas cepas desses fungos para o controle biológico.

No entanto, a representantes da CropLife destaca que existem cepas mais específicas, que podem ser ainda mais virulentas contra as espécies que causam infestações no Brasil. “Isso tem uma importante influência. Na África, soubemos que foram isoladas diversas cepas de Beauveria, mas apenas uma delas foi capaz de infectar efetivamente os gafanhotos”, afirma.

Alterações climáticas

As alterações climáticas poderão favorecer o desenvolvimento desses insetos em outras regiões, como aconteceu em Mato Grosso, na década de 1990, dando inicio, inclusive, a um trabalho da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) de Manejo Integrado de Pragas específico para controle de gafanhotos. No entanto, o estudo acabou não avançando a ponto de chegar ao desenvolvimento de produtos biológicos eficazes.

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Com base no estudo de identificação e, consequentemente, da biologia dos gafanhotos, é possível estabelecer um Plano de Manejo para aplicação de biológicos na fase das ninfas. De acordo como Amália Borsari, nesse estágio, os insetos ainda não possuem o exoesqueleto quitinoso que dificulta a penetração de produtos. Por isso, enquanto num adulto, o controle pode demorar 15 dias, em uma ninfa, pode levar três dias.

Produtos a base de Beauveria bassiana registrados no Brasil têm como alvos principais a  Broca-do-café e a Mosca-branca em qualquer cultura na qual ocorra, e o  Metarhizium anisopliae é usado em formulações para controle de cigarrinha-da-raiz em qualquer cultura. Diferentemente das moléculas químicas, os produtos biológicos são registrados para o alvo, não para a cultura.

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A disponibilidade de mais produtos eficazes também contribui para o incremento da procura. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) existem mais de 370 biodefensivos registrados. Até 2015, por exemplo, existiam apenas 107 registros. Em 2019, houve registro de 43 novos produtos. Até o final de junho deste ano, o Mapa havia concedido 28 novos registros. Esses dados indicam um mercado com grande potencial de crescimento. 

O período de 2018 até meados de 2020 responde por 40% dos produtos registrados. Enquanto o setor cresce na ordem de 10% ao ano em outros países, no Brasil o ritmo é ainda mais acelerado, ultrapassando 15% ao ano.

Em 2019, a CropLife Brasil estimou um mercado de R$ 675 milhões, representando um crescimento de 31% em relação a 2018. Na safra 2019/2020, o mercado nacional de defensivos biológicos já movimentou R$ 1,033 bilhão.
Source: Rural

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