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Ferro que marca um dos selos de indicação geográfica mais antigos da Itália (Foto: Divulgação/Consórcio)

 

 

Responsável por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, o agronegócio italiano deve boa parte do seu sucesso nos últimos 30 anos à fama trazida por um seleto grupo de produtos que transformou o setor em sinônimo de excelência no mundo. Os alimentos com selo de indicação geográfica representam hoje a maior força de desenvolvimento de economias locais e valorização de território na Itália.

Atualmente, dos 3.071 produtos reconhecidos pela União Europeia com as marcas DOP (Denominação de Origem Protegida), IGP (Indicação Geográfica Protegida) e STG (Especialidade Tradicional Garantida) no mundo, 824 são italianos, levando o país ao primado no gênero.

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São vinhos e alimentos como parmigiano reggiano, grana padano, presuntos de Parma e San Daniele, vinagre balsâmico de Módena, macarrão de Gragna no, laranja da Sicília.

As indicações geográficas são importantes porque estão ligadas à história de uma determinada produção. Tanto que todos os DOPs e IGPs devem possuir características de um território específico e, no caso dos produtos transformados, serem formulados há pelo menos 30 anos. Mas os produtos italianos chegam a ter séculos de tradição.

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"A instituição dos selos foi uma das maiores batalhas dos países mediterrâneos (dentro da União Europeia) sobre a valorização das diferenças”, conta Rolando Manfredini, responsável pelo setor de segurança alimentar da Coldiretti (Confederação Nacional dos Empreendedores Agrícolas).

Juntos, esses produtos faturam € 16,2 bilhões ao ano (cerca de R$ 102,8 bilhões), sendo € 9 bilhões (R$ 57 bilhões) ligados à exportação, e envolvem o trabalho de quase 183 mil operadores, entre agricultores, transformadores e envasadores.

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Os dados, relativos ao ano de 2019, são de um estudo elaborado pela Fundação Qualivita, responsável pela valorização e pela tutela dos gêneros italianos com indicação geográfica (IG), em parceria com o Instituto de Serviços para o Mercado Agrícola Alimentar (Ismea), ligado ao Ministério das Políticas Agrícolas. O montante gerado pela chamada “dop economy” é dividido entre os dois grandes ramos que compõem o setor: vinhos e alimentos.

No caso dos vinhos IG, o faturamento relacionado a 524 indicações geográficas foi de € 8,93 bilhões, sendo € 5,44 bilhões ligados às exportações, o que representa 87% do valor das exportações totais de vinhos italianos.

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Já os alimentos agrupados em 300 indicações geográficas são responsáveis por um faturamento anual de € 7,26 bilhões. Deste total, € 3,6 bilhões são devido às exportações, valor três vezes maior que o gerado dez anos atrás.

O sistema de indicações geográficas é e continuará a ser um eixo fundamental das políticas de desenvolvimento agroalimentar do país. Um mundo feito de excelência e de enorme força competitiva”, ressalta Teresa Bellanova, ministra das Políticas Agrícolas, Alimentares e Florestais da Itália.

 

Os selos IG funcionam como uma garantia de qualidade, pois atestam que o produto foi produzido respeitando regras específicas, estabelecidas por lei. Todos os operadores envolvidos nas diversas fases de elaboração, organizados em consórcios, precisam seguir o documento ao pé da letra.

São ainda submetidos a fiscalizações periódicas de representantes do consórcio e de órgãos de controle ligados ao governo. Tantas restrições agregam valor ao produto, tornando-o mais competitiv nos mercados interno e externo.

Um exemplo do incremento gerado pelos selos é o do macarrão de Gragnano. Em 2013, os 23 produtores da massa feita desde o final do século XVI na pequena cidade do sul da Itália conseguiram o selo IGP.

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Desde então, o crescimento é enorme. Para se ter ideia, entre 2017 e 2018, o faturamento anual do produto registrou um aumento de 62%, chegando a € 186 milhões. Entre 2018 e 2019, o crescimento foi de 34%, e o faturamento das 70 mil toneladas produzidas chegou a € 250 milhões.

“Em Gragnano, fazer macarrão é uma arte que passa de geração em geração. O selo IGP é testemunha dessa tradição e conta essa ligação indissolúvel entre a massa e o território”, salienta Giovanni Cafiero, assessor do Consórcio de Tutela Massa de Gragnano IGP, acrescentando que a adoção do selo contribuiu imensamente para o aumento do volume de produção e das exportações, que hoje representam 40% do total fabricado.

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A importância econômica dos selos IG também se revela em situações como a provocada pela pandemia. Segundo o Consórcio Parmigiano Reggiano DOP, que tutela o famoso queijo produzido há quase mil anos nas províncias de Parma, Reggio Emilia, Módena e Mantova, a qualidade assegurada pela certificação faz com que o produto consiga “resistir” melhor à crise.

“Os dados demonstram como uma marca forte e bem posicionada junto ao consumidor tem sido a melhor vacina para amortecer os impactos comerciais da Covid-19. No primeiro semestre de 2020, registramos um crescimento na Itália de 6,1% e um incremento nas exportações de 11,9%, um dado extremamente positivo num momento difícil para todo o setor”, informou o consórcio em nota.

A secagem ao sol na pequena cidade do sul da Itália é um dos motivos que tornam a massa única (Foto: Divulgação/ Consórcio Massa de Gragnano)

 

O valor agregado desses produtos no mercado é tão grande que também desperta a atenção de multinacionais como a Coca-Cola. Entre 2019 e este ano, a empresa colocou no mercado italiano dois produtos feitos exclusivamente com cítricos certificados: a Fanta Laranja Vermelha da Sicília IGP e a Fanta Limão de Siracusa IGP.

Para a fabricação dos refrigerantes, a multinacional informou que comprará anualmente pouco mais de um terço da produção de laranjas e limões-sicilianos destinados à transformação.

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“À parte a vantagem econômica, para nós, a parceria é um reforço de marketing, com a Coca-Cola mostrando o nome da laranja vermelha IGP na garrafa de Fanta. É também uma diversificação de mercado, porque não se vende mais somente o produto fresco, de dezembro a maio. Com o produto transformado, temos a marca presente no mercado o ano todo”, explica Rino Nicolosi, secretário do Consórcio Laranja Vermelha da Sicília IGP. A associação conta hoje com 550 agricultores. Na última safra, a produção da fruta certificada chegou a 27 mil toneladas. 

Instituídas pela União Europeia em 1992, as atuais indicações geográficas tiveram origem em leis francesas, italianas e espanholas que, nos anos 1960, regulavam a produção de vinhos e alguns queijos e presuntos. Na Itália, nos anos 1990, o sistema era ligado quase exclusivamente à tutela do nome e das tradições rurais.

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A partir dos anos 2000, as denominações serviram para organizar o setor, sistematizando muitas produções e criando um grande desenvolvimento econômico. Por volta de 2010, as indicações se reforçaram ainda mais, transformando-se em instrumento de desenvolvimento integrado, não só agricultura, mas tudo que envolve o território, ou seja, turismo, restaurantes e também aspectos sociais”, conta Mauro Rosati, diretor da Fundação Qualivita.

O setor de vinhos é hoje um dos melhores exemplos desse desenvolvimento integrado. “O enoturismo é uma voz econômica muito importante na nossa balança. O turismo que veicula o mundo do vinho, aliado à presença de uma denominação de origem, tem mudado a cara dos territórios”, afirma Carlotta Gori, diretora-geral do Consórcio Chianti Clássico DOCG.

Além disso, o consórcio é responsável pela criação de uma organização que tutela o patrimônio ambiental e valoriza sua herança cultural e artística. A zona de Chianti ocupa 70 mil hectares na região central da Toscana. O vinho é exportado para 130 países.
Source: Rural

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