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Vinho (Foto: Getty Images)

 

O aumento do consumo de bebidas está refletindo na dificuldade das indústrias em encontrar garrafas e latas para o envasamento. Embora ainda considerados pontuais, os casos de falta de vasilhames para envasar vinhos, espumantes, suco de uva e cerveja preocupam, pela possibilidade de reduzir a oferta de produtos no fim do ano, época em que são mais procurados.

De acordo com Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), que representa o setor de espumantes e vinhos finos, nos últimos quatro meses, as vendas fora da normalidade acenderam o alerta da indústria para a falta de vasilhame e caixaria. Embora nenhuma empresa tenha paralisado as atividades, Argenta acredita que muitas empresas possam deixar de vender e entregar pedidos no final do ano por falta de insumos. “Isso é uma realidade para todo o setor”, afirma o executivo.

De janeiro a outubro deste ano, houve um aumento nas vendas de vinhos finos em torno de 60% em relação ao mesmo período do ano passado. “Acredito que essa porcentagem não vai continuar (em função da falta de garrafas). Com relação aos espumantes, chegamos neste momento a um volume igual ao de todo o ano passado. Mas esperávamos agora ter um volume maior com as festas do final do ano”, ressalta Argenta.

Na semana passada, a vinícola Aurora, maior fabricante de suco de uva do país, ficou dois dias (sexta-feira e sábado, 13 e 14/11), com a sua linha de envase do produto parada por falta de garrafas. Esta linha envasa cerca de 150 mil litros diariamente. O motivo, segundo a empresa, foi o atraso na entrega dos vasilhames, o que vem ocorrendo pontualmente em diversas unidades desde o início da pandemia.

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“Tivemos essa questão pontual da falta de garrafas, especificamente para o suco de uva. Como a Aurora envasa um volume significativo, deixamos de envasar em torno de 35 mil caixas, que traduzindo em litros, em torno de 300 mil litros. Nunca chegamos a parar uma linha como o que ocorreu agora porque essa embalagem que usamos é exclusiva da Aurora, que é quadrada e só temos dois fornecedores que produzem, sendo um no Brasil e outro na Argentina”, explica o diretor superintendente da Aurora, Hermínio Ficagna.

Segundo Ficagna, as atividades já se normalizaram. “Tivemos, em algum momento, falta de garrafas para espumantes, mas isso já foi solucionado. Se os fornecedores cumprirem aquilo que está previsto nos contratos, nós vamos virar o ano de forma bem tranquilo. Agora, se realmente acontecer alguma falha ou dificuldade pontual desses fornecedores, pode ocorrer eventualmente um gargalo no meio do caminho novamente”, diz. 

A Aurora importa da Argentina e do Chile 60% do vidro usado nas suas fábricas, um custo que acabou aumentando 30% este ano em função da alta do dólar e que, certamente, deve ser repassado ao consumidor. “A indústria que fornece (garrafas) hoje dentro do país não está conseguindo atender todo mundo porque o vinho, principalmente, teve um crescimento significativo do início da pandemia até agora. Mas nós tivemos aumento não apenas nas garrafas este ano, como também em outros insumos como papelão, tampas”, acrescenta.

Os meses de junho, julho e agosto, de acordo com o executivo, foram excepcionais de vendas para a Aurora. Corresponderam à demanda de final de ano, considerada a melhor época para o setor por causa das festas. “Em momento nenhum na história da Aurora se vendeu tanto quanto nesses três meses deste ano (o dobro do volume comercializado no mesmo período do ano anterior). Tanto é que espumantes nós praticamente já terminamos, foram suspensos porque não estávamos preparados para uma demanda dessa ordem”, afirma Ficagna.

Crescimento

O planejamento inicial para 2020 da empresa era de um crescimento anual de 15%, como vinha ocorrendo nos últimos anos. De janeiro a outubro, as vendas de todos os produtos da Aurora registraram um aumento de 38%, sendo apenas o suco de uva uma alta de 42% no período em comparação aos primeiros dez meses do ano passado.

Até o final do ano, a Aurora deve encerrar 2020 com a venda de mais de 80 milhões de litros de sucos, vinhos e espumantes, segundo sua próprias previsões. De junho a agosto, as vendas de espumantes foram 110% maior em relação ao mesmo período de 2019.

“E isso não para com o final de ano, mas vai chegar um momento em que não poderemos mais atender aos clientes, mas não mais por falta de garrafas, e sim pela falta de produto que nós. Todo planejamento que fizemos em 2019 para este ano se perdeu durante a pandemia”.

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No entanto, o reuso desses vasilhames é uma “questão muito delicada” e difícil de fazê-lo por risco de contaminação. “A gente não sabe o que o pessoal eventualmente possa ter reutilizado com algum produto químico ou outra coisa. Por mais que você pense em fazer uma lavagem, uma higienização, sempre pode ficar algum resíduo ou contaminação e daí a gente tem que ter responsabilidade com o produto que a gente coloca no mercado, porque é um alimento”, afirma Ficagna.

Além do alto custo financeiro e ambiental para a reciclagem dessa garrafa, com o uso de água necessária para fazer a higienização, Ficagna diz que ainda levam em consideração as dificuldades logísticas para o recolhimento delas. “Não é uma garrafa comum que poderia ser reutilizada para qualquer fim, é uma garrafa muito pontual da Aurora”, diz.

Abividro

O presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, diz que, no Brasil, quatro empresas (VidroPorto, Verallia, Owens Illinois e a própria da Ambev) – duas delas, as maiores fabricantes mundiais de garrafas de vidro – operam com suas dezenas de fábricas trabalhando em 100% de suas capacidades.  “Mas o mercado está mais demandante e a capacidade de produção brasileira não é suficiente para atender a esse crescimento de demanda de uma hora pra outra”, afirma.

Segundo ele, as indústrias de garrafas de vidro não pararam durante a pandemia por serem fornecedores de insumo fundamental para a indústria de alimentos. Belmonte diz ainda que, entre abril e junho, as indústrias compradoras de vidro cessaram seus pedidos – embora a indústria de garrafas não tenha parado – e, quando as atividades industriais retomaram, quiseram comprar tudo. “Tem uma disruptura no mercado que é considerável. (Garrafa de vidro) Não é um produto de prateleira que você tem a hora que quer. Tem um contrato de fornecimento e quem tem está recebendo”, garante o executivo.

Cerveja

A situação não difere para as cervejas. Conforme levantamento da Neogrid, empresa especializada em sincronização da cadeia de suprimentos, o índice de ruptura (que demonstra a falta dos produtos) só subiu desde o início da implantação de medidas de quarentena, em março, chegando a 17,64% em setembro e 18,92% em outubro. No ano passado, esse índice era da ordem de 10%. A ausência de algumas marcas nas prateleiras já foi notada pelos consumidores. Num geral, todos os produtores e envasadores de cerveja e refrigerante, que consomem latas e garrafas de vidro, estão com dificuldade na produção.

“O cenário que a gente encontra hoje é de aumento de consumo e do outro lado uma dificuldade na cadeia produtiva por causa dos insumos de lata e vidro que estão difíceis de serem encontrados. O que tem gerado uma percepção do consumidor, que vai até a loja, e acaba não encontrando o produto que ele deseja. Não quer dizer que sofreremos um desabastecimento enorme do produto no Brasil. Algumas marcas ou até mesmo algumas apresentações, que são embalagens, poderão não ser encontradas”, analisa Robson Munhoz, da Neogrid.

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Segundo ele, pode ocorrer a situação de haver apenas a garrafa long neck (375 ml) ou a conhecida como “litrão”. Ou ter uma lata de 350 ml, mas nãoa de 250 ml. “Ou você tem também a característica de várias marcas de uma mesma indústria e ela escolhe envasar duas ou três. Isso faz com que a ruptura aumente, mas não é um desabastecimento”, complementa.

Segundo Munhoz, os fabricantes estão importando latas do Mercosul para conter o problema e não perder clientes. No entanto, ele admite que os fornecedores dos países vizinhos não têm a capacidade de produzir além do consumo local. “Eles passam a vender parte da produção deles pra cá, mas o efeito dólar, no final, é repassado ao produto. O que a gente também pode perceber que a cerveja tem sofrido um aumento no ponto de venda”, salienta.

Consumo

Dados da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) mostram que o brasileiro não parou, nem diminuiu o consumo de álcool, mesmo durante o período de bares fechados por conta do isolamento e distanciamento social na pandemia. Em maio, houve um crescimento de 38% nas vendas de bebidas alcoólicas nas distribuidoras desde o início das medidas relacionadas à pandemia.

O país, que há décadas estagnou suas taxas de consumo per capita e mal ultrapassava os 2 litros anuais, atingiu a 2,38 litros no primeiro semestre de 2020. É uma alta de 11%, considerando os dados de janeiro a julho para este ano em relação ao mesmo período de 2019, reflexo direto do aumento de 27,8% no volume de vendas de vinhos no mesmo período, segundo dados publicados pela Ideal Consulting.
Source: Rural

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