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Família Pezzo se mudou para o sul de Minas Gerais ainda no primeiro semestre devido à pandemia (Foto: Emiliano Capozoli/Globo Rural)

 

Fernanda Formigari é estilista. Ivan Ribeiro Teixeira é auditor. Samy Dias é artista plástico e ator. Catarina Pezzo é agrônoma. Rivaldo Gomes é militar e sua esposa, cuidadora. O que os une, mesmo não se conhecendo, é a mudança de estilo de vida que assumiram desde o começo da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 160 mil pessoas no Brasil.

O isolamento social, necessário para baixar os níveis de transmissão da doença, fez muita gente repensar seu estilo de vida e deixar as grandes cidades, fugindo dos centros que concentram a Covid-19. A descoberta de uma vida mais simples, mais barata e mais próxima da natureza deu o empurrão final para esse êxodo urbano.

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“Quando a empresa em que trabalho definiu o home office por tempo indeterminado, decidimos vir passar esse período nas montanhas do Córrego do Bom Jesus, no sul de Minas Gerais. As crianças teriam mais espaço e estaríamos mais protegidos da doença. Depois de dois meses, decidimos tornar a situação definitiva”, conta Catarina Pezzo, 39, agrônoma.

“Saí de casa para ficar umas semanas fora e não voltei mais”, conta. Seu filho mais velho, Ulisses Pezzo, de 9 anos, aprovou. “Eu era viciado em televisão, hoje nem penso nisso”, afirma, mostrando uma das suas últimas “obras de arte”: um machado estilo medieval que fez com madeira.

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Outro ponto destacado por Catarina é a qualidade de vida. “Nosso compromisso é com os animais, alimentar nossa égua Princesa, os cachorros, galinhas e patos do sítio. Essa semana, nasceram 30 pintinhos que colocamos para chocar”, revela.

Tudo isso sem contar que a educação dos dois filhos do casal agora é diferente. “Hoje, eles têm mais liberdade para estudar e conseguem colocar em prática o que aprendem na escola”, conta o pai, Ivan Ribeiro Teixeira. “É bem mais interessante esse processo, sem contar que nos sentimos mais próximos um dos outros.”

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Economia e novas experiências

Além do método de educação ser diferente, a despesa com escola acabou. “Aqui os meninos estudam na escola pública, o que representa uma economia de quase R$ 6 mil por mês”, relata Ivan.

Segundo os cálculos da família, as despesas caíram de R$17 mil para R$ 4 mil mensais, uma redução de 76% de uma vida para outra. “Vivíamos enforcados com os boletos em São Paulo”, desabafa. “Pagávamos R$ 800 por mês só de perua escolar, o mesmo que pagamos hoje por um aluguel de uma casa de seis cômodos e um quintal enorme.”

Estilista Fernanda Formigari se mudou para MG na pandemia (Foto: Emiliano Capozoli/Globo Rural)

 

A estilista Fernanda Formigari, 33, assim como a família de Catarina, pulava da cama todos os dias às 5h. Mas, com a pandemia, perdeu o emprego. “Eu sempre tive uma relação de amor com o campo, e a pandemia me obrigou a realizar meu sonho”, conta.

“Adiantei meus planos de morar na roça e estou começando a construir uma cabana a 1.500 metros de altitude no Córrego do Bom Jesus (MG). Peguei meu FGTS e fugi.”

Ela conta que vem aprofundando seus estudos em agroflorestas e permacultura. “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz, possa compor meus rocks rurais e possa plantar e colher com a mão a pimenta e sal”, canta Fernanda.

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“Em São Paulo, eu tinha uma despesa fixa em torno de R$ 4 mil. Desde que me mudei para cá, economizo pelo menos 50%, que são investidos em madeira e pregos na minha cabana”, afirma. “Eu não gastava menos de R$150 a cada ida ao supermercado. Hoje, não passa de R$ 40. Sem contar que compro hortaliças, queijos, pães e cerveja direto do produtor.”

Segundo Sarita Ribeiro, sócia-proprietária da imobiliária Vila Rural, especializada em imóveis rurais no sul de Minas, houve um aumento de 60% na procura por esse tipo de imóveis em relação ao mesmo período do ano passado.

O Covid-19 acelerou o processo pela busca de um lugar próprio no campo, processo que vem acontecendo naturalmente há pelo menos cinco anos. Quase 90% dos nossos clientes são de grandes centros, em especial as regiões de São Paulo e Campinas

Sarita Ribeiro, sócia-proprietária da imobiliária Vila Rural, do sul de Minas Gerais

O artista plástico e ator Samy Dias aproveitou o momento de isolamento para retomar suas origens. Vindo de uma família da cidade de Cambuí (MG), foi para São Paulo cursar a faculdade, mas conta que chegou a hora de seguir os passos da mãe.

“Estou cuidando de um espaço que foi deixado por ela e estava abandonado. Hoje, já vejo o surgimento de novas vidas na minha terra”, conta, sorrindo. “Diferente de São Paulo, durmo e acordo mais cedo. Aproveito os momentos simples, como colher frutas no pé, acordar com os passarinhos. Hoje, planto, pesco e tenho uma relação ainda mais forte com a natureza. Tenho até um projeto de uma EcoVila”.

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Os planos da cuidadora Wanilda Furtado e seu marido, o militar reformado Rivaldo Gomes da Silva, também foram mudados de uma hora para outra por conta da pandemia. Iriam fazer uma longa viagem para o nordeste do Brasil, região que Rivaldo nasceu, mas como ele faz parte do grupo de risco, a ideia acabou tomando outros rumos.

“Depois de uma pesquisa da internet, escolhi Marmelópolis (MG). Deixamos Lorena (SP) e nos mudamos para ter mais contato com o campo. E eu já tenho novos hábitos. Trabalho mais meu quintal, aumentei minha horta e isso me recompensa enormemente", diz.

Ela acredita que vai sair desse período de pandemia uma pessoa diferente. “Agora dou mais valor à natureza, aos animais e até mesmo às pequenas coisas da casa que antes não ligava.” Voltar, Wanilda diz que nem pensa. Quando perguntada sobre um retorno a Lorena, é categórica: “no momento, nem passa pela minha cabeça”.

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Mas nem tudo agrada a todo mundo. Rivaldo, marido de Wanilda, já tem saudade do calor de Pernambuco, onde pensava em passar a aposentadoria. Samy Dias confessa que vai sentir falta dos encontros com o pessoal de cinema e teatro, que eram freqüentes.

Catarina e o marido dizem que terão saudades dos amigos, da família e das saídas noturnas, mas se animam pensando que basta dirigir por duas horas e meia e já estarão em São Paulo.

A corretora Sarita diz que alguns candidatos a novo morador se preocupam com a mudança brusca. Para esses, ela costuma lembrar um argumento de peso: “Em alguns anos, essas terras estarão valendo o dobro.”
Source: Rural

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