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(Foto: Divulgação)

 

 

 

Após 95% das urnas conferidas, agências de notícias norte-americanas confirmam a eleição de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos com 290 delegados a favor do democrata. Com isso, o país também elege Kamala Harris, a primeira vice-presidente do país. 

Desde os discursos prévios para as eleições dos Estados Unidos, Biden já havia deixado claro que seria mais rigoroso com pautas ambientais, inclusive se referindo especificamente à Amazônia e a uma possível cooperação entre países com a finalidade de proteger o bioma.

Como lembra Carlos Gustavo Poggio, doutor em Relações Internacionais e professor na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), o conselheiro de Biden sobre América Latina, Juan González, afirmou que “não vai fazer nenhum tipo de negociação com o Brasil se não houver um avanço em pautas de meio ambiente e direitos humanos, que são pautas democratas que há muito tempo vêm se desenvolvendo”, diz Poggio.

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A postura de Biden é completamente oposta à de Donald Trump e, por consequência, contrária à do presidente da República, Jair Bolsonaro. Neste sentido, o professor da FAAP alerta para um possível isolamento do mandatário brasileiro a curto prazo, já que “o governo Bolsonaro jogou todas as suas fichas na aproximação com o Trump” e Biden já teve críticas públicas diretas a Bolsonaro.

“Portanto, os democratas devem entrar com muita má vontade em relação ao presidente brasileiro. Má vontade que já está clara no Congresso, pelos democratas, o que realmente causa uma dificuldade imediata ao Brasil”, indica Poggio.

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Para amenizar esta imagem já deturpada, a tendência é que Bolsonaro tente construir uma relação com Biden, inclusive aproveitando o início do mandato, momento em que as atenções ainda não devem estar voltadas ao Brasil. Segundo Poggio, tudo dependerá da habilidade diplomática brasileira, mas ele teme que o atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não seja capaz disso.

“O ministro das Relações Exteriores é bastante amador, inexperiente. Há rumores de que, se o Biden ganhar, o Araújo não se sustenta, vai ter que fazer uma troca no Ministério das Relações Exteriores”, observa.

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Acordo de Paris

Carlos Nobre, cientista especialista em questões climáticas, aponta que Biden deve inserir novamente os EUA no Acordo de Paris logo no início do mandato. Com isso, as pressões por cadeias produtivas dissociadas do desmatamento ilegal passam, mais uma vez, pela Amazônia.

“Na campanha, Biden deixou claro uma grande prioridade de salvar a Amazônia, inclusive oferecendo US$ 20 bilhões. É claro que não é por ano, mas, só pra ter uma ideia, o Fundo Amazônia tem doações da Noruega e da Alemanha de cerca de US$ 1,2 bilhão. Então, se os EUA oferecem US$ 20 bilhões, é um valor que dá para começar a buscar uma economia de sustentabilidade, bioeconomia de floresta em pé”, defende Nobre.

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À medida que Biden ocupa a cadeira de presidente, Nobre também aponta a tendência de o mundo todo começar a exigir sustentabilidade da cadeia produtiva. “A Europa está muito firme nisso, o Japão também. Uma empresa da China também declarou que exige que toda a soja do Brasil seja certificada sem desmatamentos. Logo, com os EUA entrando nisso, não há como o Brasil não implementar com muita rapidez uma política de zerar a ilegalidade no desmatamento”, sugere.

Quem segue defendendo a mesma linha é Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente. Para ela, a reentrada dos Estados Unidos no Acordo de Paris pode significar não apenas uma preocupação com as mudanças climáticas, mas a retomada da estratégia de cooperação multilateral, favorecendo um ambiente geopolítico enfraquecido por Trump.

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Izabella enxerga que as crises do clima, da perda da biodiversidade e natureza, e da poluição serão tratadas como prioridade pelos americanos democratas, o que pode promover conexão entre países, como é o caso China, que já se mostrou preocupada com a redução das emissões de gases de efeito estufa.

“O que hoje é residual passará a ser objetivo de visão estratégica na política americana e, mais do que isso, promovendo conexão entre países, como a questão climática, produção de alimento, matriz energética americana, segurança alimentar, mas também de políticas de defesa, por conta das imigrações, migrações e da questão de saúde no mundo”, indica.

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Quanto ao papel de Bolsonaro neste ambiente em que os pilares econômico, social e ambiental devem imperar, a ex-ministra é categórica. “O Brasil é extremamente importante para essa adequação dos termos de sustentabilidade, e o Brasil não se limita ao presidente Bolsonaro, tampouco às políticas que ele pratica”, destaca.

Ela acredita que a eleição de Biden fortalecerá a democracia no mundo, inclusive com a valorização da ciência, e isso também se aplicará no Brasil. “O atual governo brasileiro terá de se adaptar ou, então, cada vez mais, terá um apequenamento de sua política”, diz Izabella, destacando que instituições privadas e a sociedade civil procurarão dialogar com os democratas americanos para alçar novos patamares na relação entre Brasil e EUA.
Source: Rural

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