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(Foto: Getty Images)

 

*Publicada originalmente na edição 421 de Globo Rural (Novembro/2020) 

A primeira projeção sobre a safra de açúcar e etanol para 2020/2021, divulgada no começo de maio pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estimava um aumento significativo na produção de etanol de milho, foi recebida com ceticismo pelo setor, por causa do forte impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado de biocombustíveis. 

Pela projeção da Conab, a produção no Brasil cresceria 61,1% nesta safra, com 1 bilhão de litros a mais no período, para o total de 2,7 bilhões de litros, a maior produção da história do país.

Os aportes financeiros para o aumento da produção das usinas já existentes e em novas plantas em Goiás e Mato Grosso, os dois maiores produtores, irão encerrar 2020 com R$ 5 bilhões acumulados nos últimos cinco anos. Era esse fator que pautava a Conab.

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No comunicado para explicar a projeção, a estatal dizia estar embasado nos “investimentos em unidades de produção que operam tanto com cana-de-açúcar quanto com milho, as unidades do tipo flex, assim como aquelas que utilizam apenas o cereal para a fabricação do biocombustível, as unidades do tipo full”.

Entretanto, devido à queda vertiginosa na demanda interna por combustíveis, por causa da quarentena, e às cotações internacionais do barril de petróleo, a expansão da capacidade instalada não resultaria, automaticamente, em maior produção.

“Vamos elevar a capacidade de produção de etanol de milho em torno de 70%. Se a gente vai produzir 50%, 60% ou 70% a mais ou manter o mesmo nível, o mercado é que vai dizer com a retomada do crescimento da economia”, disse, à época, o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco.

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De lá para cá, as coisas mudaram – e para melhor. Dados de monitoramento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que a demanda mensal por etanol hidratado, que oscilava entre 1,7 bilhão e 1,9 bilhão de litros antes da fase de isolamento social, caiu para 1,2 bilhão de litros em abril.

Com a retomada gradual das atividades em todo o país para além dos setores essenciais, a demanda passou para 1,51 bilhão em julho, apontando uma tendência de recuperação. Por isso, a Unem agora acredita que a produção do biocombustível derivado do cereal deve ficar entre 2,5 bilhões e 2,6 bilhões de litros, mas não descarta atingir os 2,7 bilhões projetados pela Conab em maio e reiterados no segundo levantamento publicado em agosto.

Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Foto: Rafaella Zanol/GCOM MT)

 

“O cenário mudou. Era um cenário de incerteza e já não é mais. Mesmo no cenário de incerteza, nós crescemos 85% entre abril e julho sobre o mesmo período do ano passado, com mais 768 milhões de litros. É uma média de 192 milhões de litros por mês. Mas, se levada em conta a produção recorde de 234 milhões em julho para os próximos oito meses, teremos o número da Conab”, afirmou Guilherme Nolasco.

Além da melhora no mercado, o setor comemora o início da operação de duas plantas para a produção de etanol de milho em Mato Grosso: uma em Sorriso, inaugurada em março, com capacidade para 530 milhões de litros ao ano; e outra em Nova Mutum, que começou as atividades após licença concedida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em agosto, com potencial para somar 320 milhões de litros à produção.

Com as duas inaugurações nos últimos seis meses, o Brasil passa a ter 16 usinas de etanol de milho em funcionamento. Está previsto o início das atividades de outras duas unidades nos meses de novembro deste ano e em março de 2021, que devem acrescentar 400 milhões de litros anuais à capacidade de produção. No total, a indústria poderá produzir até 3,4 bilhões de litros a cada safra a partir do segundo trimestre do ano que vem.

Mesmo com as condições consideradas hostis no mercado de combustíveis, a produção tende a continuar crescendo no Centro- Oeste. É que, além da capacidade maior com as novas usinas, as plantas de etanol podem dar lugar aos subprodutos do milho

Alcides Torres, Sócio-diretor da Scot Consultoria

Por enquanto, a expansão da capacidade de produção de milho é puxada pela Região Centro-Oeste, sobretudo por Goiás e Mato Grosso. A quantidade do biocombustível do cereal é estimada em 2,05 bilhões de litros nas usinas mato-grossenses – avanço de 61,5% em comparação à safra 2019/2020. Por sua vez, o Estado goiano deve responder por outros 511,4 milhões de litros – crescimento expressivo de 73% em relação ao último ano, segundo os números da Conab.

Para o sócio-diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, mesmo com as condições consideradas hostis no mercado de combustíveis, a produção tende a continuar crescendo no Centro-Oeste. É que, além da capacidade maior com as novas usinas, as plantas de etanol podem dar lugar aos subprodutos do milho, como o DDG (resíduos secos de destilaria) e o WDG (resíduos úmidos de destilaria), utilizado na dieta de bovinos.

A produção de etanol de milho tende a continuar melhorando. Apesar do etanol de cana ser, em tese, mais competitivo, a produção de milho é forte na região e os preços estavam pressionados, em função dos problemas de logística. Além disso, a tecnologia de clima tropical é tão ou mais eficiente do que a utilizada pelos norte-americanos, que, por sua vez, devem produzir 10 milhões de litros a menos nesta safra”, avalia Torres.

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Se comparadas, as produções brasileira e americana ainda estão distantes. A geração de etanol pelos agricultores nos Estados Unidos se dá principalmente no centro-oeste do país, onde a colheita estimada na última safra, de 345,8 milhões de toneladas do cereal, teve contribuição importante para a produção dos 58 bilhões de litros de etanol. Para se ter ideia, a colheita total de grãos no Brasil gira em torno de 250 milhões de toneladas.

Entretanto, com investimentos estimados em R$ 10 bilhões, a indústria brasileira espera gerar 8 bilhões de litros até 2028 e avançar no mercado de biocombustível derivado do cereal.

“O etanol tem um papel fundamental na chamada economia verde. Por isso, temos colocado a ideia de que o Brasil faça uma campanha para que os países adicionem entre 1% e 2% de etanol na gasolina. Se isso acontecer, tanto o Brasil quanto os Estados Unidos precisarão aumentar a capacidade instalada”, explica Nolasco, da Unem.

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Maurício Murici, analista da Safras & Mercados, faz ressalvas. Ele lembra que a série de inaugurações recentes é resultado de investimentos iniciados em 2017, quando as expectativas de retomada da economa eram positivas, após a retração no biênio 2015-2016. “Era um cenário de recuperação, em que reformas macroeconômicas estavam sendo adotadas. Isso fez com que o consumo reagisse, principalmente no Centro-Oeste”, avalia. 

“Recentemente, a demanda se recuperou, mas ainda se mostra muito abaixo de um padrão anterior ao período pré-crise. Evidentemente, isso acende uma luz amarela no planejamento do setor.”
Source: Rural

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