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Importação de alho da China chegou ao maior volume desde 2017 (Foto: Pixabay)

 

Se o dólar em patamares altos tem afetado o preço de alimentos básicos, como o arroz e o feijão, o alho, um dos itens fundamentais no preparo das refeições dos brasileiros, parece seguir no sentido oposto. Em setembro, o preço médio de importação do produto chinês ficou em US$ 766 a tonelada, queda de 51,9% ante igual período do ano passado mesmo com uma tarifa antidumping de US$ 0,78 por quilo importado. Com isso, no acumulado de 2020, o Brasil já importou 72,2 mil toneladas de alho da China, o maior volume desde 2017.

“Sem dúvida nenhuma, a gente não tem como concorrer em preço com o chinês. Isto é fato e a lei antidumping mostra isso com clareza”, aponta o pesquisador do Instituto de Economia Agropecuária de São Paulo (IEA), Vagner Azarias Martins. Segundo levantamento de preços feito pela instituição junto ao mercado atacadista paulista, o preço do alho chinês ficou 14% mais baixo que o nacional em setembro, diferença que chegou a 34% em julho deste ano. No mesmo mês, as importações brasileiras somaram 17 mil toneladas, volume quase cinco vezes superior às 3,5 mil toneladas registradas em igual período do ano passado.

Segundo o diretor jurídico da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), Clóvis Volpe, a medida de proteção ao produto nacional, renovada em 2019 pelo governo brasileiro, tem sido derrubada judicialmente pelas empresas importadoras, o que torna inócua a tarifa antidumping. “A Anapa já cassou algumas liminares ao longo do tempo, mas ainda restam três liminares que consideramos que foram dadas ilegalmente e, por isso, estamos recorrendo”, relata Volpe. Segundo ele, as três empresas têm concentrado a importação do alho chinês, inclusive repassando o produto a outras empresas que não possuem liminar.

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“Com isso, o custo e internacionalização do alho chinês fica bem abaixo do custo de produção do alho nacional, de R$ 97 reais a caixa de 10 quilos, forçando o produtor a vender a um preço próximo desse valor”, observa o advogado. De acordo com o pesquisador do IEA, a maior competitividade do alho chinês reside em três fatores: variedade do produto, volume produzido e custo de mão de obra. “É preciso ter em mente que não estamos falando do mesmo produto. Enquanto o alho chinês é do tipo branco, de menor qualidade, o alho nacional é do tipo roxo, com aroma e sabor mais intensos”, explica Martins.

Em relação ao volume, a China é o maior exportador mundial de alho e domina o mercado internacional. Segundo dados da FAO, o país exportou 1,9 milhão de toneladas em 2018, concentrando 44,5% do comercio internacional. “Realmente, o alho chinês inundou o mundo e, evidentemente, mesmo se pensarmos que antigamente a produção nacional conseguia atender 100% do mercado, quando de repente começa a chegar um produto mais barato, a  tendência é que ele vá ganhando mercado e desestimulando o produtor brasileiro”, observa o pesquisador do IEA.

Segundo a Anapa, a cultura do alho emprega direta e indiretamente cerca de 150 mil pessoas no Brasil, atendendo cerca de 40% da demanda nacional. Desde 2002, contudo, a área plantada no país passou de 15,7 mil para 10,7 mil hectares, segundo dados do IBGE – queda de quase 32% em 15 anos.
Source: Rural

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