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(Foto: Globo Rural)

 

O atraso na contagem dos votos para eleger o presidente dos Estados Unidos nos próximos quatro anos não pode ser motivo para que as pautas ambientais sejam deixadas de lado. É o que defendem especialistas ouvidos por Globo Rural sobre os efeitos de um eventual atraso na confirmação do resultado sobre quem assumirá a Casa Branca.

Apesar de Joe Biden ser o preferido entre os ambientalistas por ter se comprometido com o retorno do país ao Acordo de Paris, é consenso que temas ligados à área, como bioeconomia e produção sustentável, precisam ganhar espaço inclusive se o atual presidente, Donald Trump, for reeleito.

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Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente no Brasil, afirma que, nos próximos anos, será potencializada a discussão sobre origem do alimento, em uma visão estratégica que une ciência, clima, e ainda vulnerabilidades como a insegurança alimentar.

“Isso deverá ter reflexo nas parcerias que os americanos vão estabelecer, como, por exemplo, parceria comercial e a rastreabilidade no plantio, e terá relevância por conta do impacto à inovação e às novas economias, particularmente no que envolve economia de baixo carbono e bioeconomia”, observa.

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Para ela, os americanos têm conhecimento acumulado nestas áreas, e a eleição de Biden tende a permitir essa transição econômica e energética. “Esse debate terá os americanos sentados à mesa, não para bloquear ações, mas para construir novos caminhos”, defende.

Na visão do cientista Carlos Nobre, a rastreabilidade ganhará ainda mais escala, deixando de ser uma pauta apenas de governo e se inserindo em nível global, o que impacta diretamente as relações comerciais com o Brasil.

A maioria dos mercados já está declarando que só vai comprar produtos do Brasil cujas cadeias produtivas sejam totalmente dissociadas do desmatamento, independente de quem ganhar. Mas, se o Biden ganha, aí todas a economia dos Estados Unidos entra nessa corrente. Com o Trump, não, pelo menos não como política pública

Carlos Nobre, cientista e especialista em meio ambiente

 

Roberto Marcon, diretor de originação da multinacional norte-americana Bunge, confirma que as eleições nos Estados Unidos não interferem na política de desmatamento zero da empresa e ressalta que o rastreamento da soja é exigência dos compradores. “É uma demanda do mercado não relacionada exatamente com questões políticas, ”, enfatiza.

Doutor em Relações Internacionais e professor na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Carlos Poggio lembra que a China também já anunciou metas de descarbonização e sinaliza mais interesse em conhecer a origem do alimento importado.

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Neste sentido, ele diz que a relação com a China perpassa o governo, seja de Biden ou de Trump, não sendo uma questão pessoal, mas estrutural. “O crescimento da China é algo que é visto como uma ameaça, tanto pelos democratas quanto republicanos. Os Estados Unidos, ao colocar em pauta o meio ambiente e os direitos humanos, vão ter mais atrito com a China, talvez mais atrito do que teve com o Trump", salienta.

Segundo Poggio, cabe ao Brasil demonstrar responsabilidade ambiental em suas cadeias produtivas e “aproveitar essa disputa para poder ter o maior tipo de peso possível, inclusive sabendo que é uma disputa com influência na América Latina". "E, então, então jogar com ambiguidade para tentar ganhar o máximo possível nessa disputa”, complementa.
Source: Rural

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