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feijão-feijao (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)

 

Em setembro, o preço médio do feijão no varejo de São Paulo ficou em R$ 7,31 o quilo, segundo levantamento do Instituto de Economia Agropecuária do Estado (IEA). O valor representa uma alta de 47,7% ante setembro do ano passado e, somado ao encarecimento de outros produtos da cesta básica e à perda de renda da população, levou a um forte recuo no consumo nacional no último mês.

“Quando você pega o final de setembro, realmente houve uma queda muito, muito grande. Teve empresas que até deram férias coletivas porque estava muito devagar”, explica o analista de mercado da Conab, João Figueiredo Ruas.

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Além de fatores econômicos, como a redução do auxílio emergencial e a alta de outros alimentos, Ruas também destaca o papel do clima mais quente e da flexibilização das medidas de isolamento social para o menor consumo do produto. “Tudo isso contribuiu para o pessoal evitar um pouco o feijão e eu acredito que a partir de novembro podemos ter um mercado mais movimentado”, observa o analista.

Segundo Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), o mercado está parado há mais de um mês enquanto as perspectivas para o final do ano são de sustentação nos preços. “Quando a gente olha pra frente, em termos de abastecimento, e pega o histórico de consumo nos meses de novembro a janeiro, a perspectiva é de que o preço suba muito. Mas por outro lado, temos uma situação em que os consumidores, por algum motivo, não estão comprando. E aí eu me pergunto: quando não compram feijão, compram o quê? Estão passando fome mesmo?”, questiona.

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Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, a participação do gasto mensal com feijão entre famílias em situação de insegurança alimentar grave foi 136,4% maior que o observado entre famílias em condição de segurança alimentar entre 2017 e 2018. “Começou a consumir muito em função do auxílio emergencial. A redução impactou muito o mercado. Com o auxílio pela metade, a coisa já muda. E com o aumento de outros produtos, muita gente acabou restringindo o feijão”, observa João Ruas, da Conab.

Mesmo com a menor demanda, contudo, os baixos estoques e redução do plantio na primeira safra, que será colhida no final do ano, tendem a manter os preços do feijão em alta este ano. A previsão da Conab é de uma produção 3,5% menor, com pouco mais de um milhão de toneladas a serem colhidas. “O que ajudaria a reverter esses preços seria o Brasil ter uma safra boa. Voltar a chover no Paraná e outros Estados”, explica o analista do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Carlos Alberto Salvador.

Responsável por mais de 23% da produção esperada para este final de ano, o Paraná enfrentou atrasos no início do plantio e a fase mais sensível de desenvolvimento das lavouras com com alto risco climático, dada a formação do fenômeno La Niña, que reduz as chuvas no Sul do país. “A partir de agora, outubro e novembro, começa aumentar as temperaturas e é bem no momento em que o feijão vai precisar de verdade de água. Daqui para frente, então, as perspectivas são bem delicadas porque uma safra comprometida no Sul do país criaria uma situação de pouca disponibilidade do produto”, destaca Salvador.

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Além do clima, as perspectivas para o plantio da segunda safra também são incertas, já que os preços recordes do milho podem pesar na decisão dos produtores – sobretudo com um mercado consumidor mais fraco. “Hoje a nossa preocupação tem sido de estimular o produtor a plantar. E quando você tem uma situação como essa, de soja e milho valorizados, não é só preço que pesa nessa decisão”, afirma Lüders ao destacar a maior facilidade de negociação das duas commodities quando comparadas ao feijão carioca, cujo consumo é restrito ao mercado interno brasileiro.

Considerando os valores atuais do milho do dólar, o Ibrafe estima que o preço mínimo do feijão para torná-lo tão atrativo quando o grão seria de R$ 320 a R$ 330 a saca – até 50% acima do praticado atualmente. “Hoje, nossa oferta está muito ajustada à demanda. Se você produz um pouco mais, não tem pra onde mandar. Se produz menos, não tem de onde buscar”, explica Ruas, da Conab, ao destacar que o Brasil é o único país do mundo a consumir o feijão carioca em larga escala – o que inviabilizaria o uso de importações para reequilibrar a oferta interna, como foi feito com o arroz.

“Se abrir a importação de feijão, não vem feijão de lugar nenhum. O mundo está com pouco feijão”, completa Lüders. Segundo ele, a tendência é de que o preço “suba muito”, puxado pelas demais commodities. “Como não existe mercado futuro para o feijão, ele vai refletir o preço de um fato que é conhecido hoje, que é o mercado futuro de soja e milho. E a tendência é que o preço suba muito”, conclui o presidente do Ibrafe.
Source: Rural

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