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(Montagem: Globo Rural)

 

 

Milhões de americanos vão às urnas nesta terça-feira (3/11) para escolher o presidente que comandará a maior economia mundial nos próximos quatro anos. A disputa acirrada entre o republicano Donald Trump, 74 anos, e o democrata Joe Biden, 77 anos, é considerada a mais importante das últimas décadas – com reflexos em diferentes países, incluindo o Brasil.

No meio-oeste dos EUA, principal região do agronegócio no país, a escolha dos candidatos pelos produtores rurais oscila entre os mais conservadores e orientados ao mercado, que preferem Trump, e os críticos às atuais políticas relacionadas à guerra comercial com a China, ao enfrentamento da pandemia e às mudanças climáticas, que votam em Biden.

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Apontado como favorito na corrida presidencial pela Casa Branca, Biden pode angariar alguns votos a mais no meio rural do que Hillary Clinton, em 2016. Mesmo assim, pesquisas feitas durante a campanha indicaram que boa parte dos produtores rurais repetirá o voto em Trump – que conquistou mais de 70% dos votos do meio agrícola há quatro anos.

A preferência pelo republicano ocorre mesmo diante dos efeitos prolongados da guerra comercial com os chineses e de isenções fiscais concedidas a refinarias de petróleo, as quais prejudicaram usinas de etanol. Até os que admitem não gostar da personalidade intempestiva de Trump tendem a votar no republicano por não quererem que os democratas retomem o poder.

Os eleitores rurais não votam simplesmente na política agrícola. A maioria é conservadora em seu pensamento, incluindo impostos, regulações, além de questões sociais como o controle de armas. Isso os aproxima mais dos candidatos republicanos

Jim Wiesemeyer, analista político de Washington para Pro Farmer and Farm Journal

 

O apoio do eleitorado agrícola a Trump também se fortaleceu após o presidente liberar neste ano cerca de US$ 50 bilhões em recursos ao Programa de Facilitação de Mercado (MFP), voltado a amenizar os prejuízos da guerra comercial com os chineses, e ao Programa de Assistência Alimentar do Coronavírus, com duas edições. Assim, a participação do governo na receita líquida em dinheiro dos agricultores chegará a 39,7%, a maior em 20 anos.

“Embora esses pagamentos não tenham garantido a renda dos produtores por inteiro, a maioria dos fazendeiros pensa que Trump estava correto ao assumir as políticas comerciais agressivas com a China, que em parte inclui roubo de propriedade intelectual dos EUA”, indica Jim Wiesemeyer, analista político de Washington para Pro Farmer and Farm Journal..

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Composição do Congresso

Os impactos de uma reeleição de Trump ou vitória de Biden dependem, também, da composição do Congresso. Além de escolher o presidente, os americanos elegerão os 435 congressistas na Câmara dos Representantes e 33 das 100 cadeiras no Senado (mandatos de 6 anos). Atualmente, os democratas têm maioria na Câmara, enquanto os republicanos dominam o Senado.

Em um cenário de Congresso controlado pelos democratas, prevê Wiesemeyer, Trump continuaria sua desregulamentação e emissão de ordens executivas para cumprir a maior parte de sua agenda no segundo mandato. Isso significaria uma provável injeção de recursos para a economia, o que agradaria o agronegócio.

Por outro lado, um acirramento da guerra comercial com a China é um ponto de preocupação entre os produtores americanos. Uma versão mais agressiva de Trump com os chineses em um eventual segundo mandato poderia beneficiar ainda mais o Brasil, que vem ocupando os espaços perdidos pelos EUA no mercado internacional.

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Já com Biden na presidência, e o Congresso controlado pelos democratas, é possível prever uma tentativa de vincular normas trabalhistas e ambientais às questões comerciais. “A política comercial de Biden deve vincular ações de combate às mudanças climáticas, uma área sensível no Brasil”, indica Wiesemeyer.

No primeiro debate com o Trump, o candidato democrata criticou a política ambiental do governo Bolsonaro, afirmando que começaria a organizar o hemisfério e o mundo para "prover US$ 20 bilhões para o Brasil não queimar mais a Amazônia". E acrescentou que o Brasil poderá enfrentar "consequências econômicas" se os índices de perdas florestais não forem revertidos.

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Diante de uma pauta ambiental em evidência, os produtos brasileiros poderiam sofrer algum tipo de dificuldade para entrar no mercado norte-americano e possíveis acordos comerciais poderiam ser engavetados. Hoje, os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás somente da China.

A expectativa é de que, neste ano, o total de votos ultrapasse a marca de 150 milhões pela primeira vez na história, de um total de 240 milhões de pessoas aptas a votarem. Até segunda-feira (2/11), mais de 95 milhões de eleitores já tinha enviado seus votos de forma antecipada (sendo mais de 60,4 milhões pelo correio), segundo a Universidade da Flórida.
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Os produtores que apoiam Biden

Tim Dufault, produtor de soja e trigo no Estado de Minnesota (Foto: Arquivo pessoal)

 

Produtor de soja e trigo no Estado de Minnesota, Tim Dufault, 60 anos, é apoiador declarado do democrata Joe Biden. A justificativa é baseada em fatores como os reflexos negativos gerados pela guerra comercial com a China, iniciada em 2018.

“As exportações são o sangue vital para o agricultor americano. Produzimos mais do que consumimos. Exportamos cerca de 50% do que cultivamos. Cada vez que prejudicamos uma relação comercial, as receitas agrícolas sofrem em todo o país”, critica o produtor, da cidade de Crookston.

Acabei de colher minha 40ª safra como agricultor. Ao longo desses anos, acompanhei de perto as mudanças climáticas. Negar isso é negar a ciência

Tim Dufault, produtor de soja e trigo no Estado de Minnesota

 

Outra queixa de Dufault é em relação à indústria de etanol, segundo ele, “bagunçada por Trump”. Nos últimos anos, o governo republicano concedeu isenções financeiras a refinarias de petróleo. “Foi um golpe no joelho da indústria de etanol. Muitas usinas foram fechadas desde então, especialmente nas zonas rurais do país, criando um problema para as economias locais”, acrescenta.

Dufault também critica o fato dos EUA terem se retirado do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e cita que as energias renováveis, como biodiesel e energia eólica e solar, podem ajudar nos lucros agrícolas e preservar o ambiente.

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Produtor no Estado de Illinois, onde os democratas vencem as eleições com folga desde a década de 1990, o produtor David Bane, 68 anos, justifica o voto em Biden por concordar com as posições do partido em relação ao enfrentamento da Covid-19, mudanças climáticas, saúde, justiça social e reforma econômica.

“Estou enojado com a desonestidade, narcisismo, ignorância, racismo e desprezo do governo de Trump”, disse Bane, que cultiva pasto para alimentação de gado, suínos, ovinos, frangos e perus na cidade de Sidney, região Central do Estado.

Ele acredita que a imagem externa dos Estados Unidos foi prejudicada significativamente no governo Trump: “Biden oferece a oportunidade de reconstruir as relações internacionais para abordar coletivamente a mudança climática, que é a questão mais importante neste momento”, destaca.

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Os produtores que apoiam Trump

Kevin Miller, produtor de soja e milho no Estado de Illinois (Foto: Arquivo pessoal)

 

Produtor de soja e milho em Teutopolis, no Estado de Illinois, Kevin Miller, 64 anos, repetiu o voto no Partido Republicano neste ano. “Há quatro anos, votei em Trump contra Hillary Clinton por causa de suas posições. Neste ano, votei em Trump contra os democratas”, afirma Miller, que também cultiva grãos no Brasil, no Tocantins.

Apesar de reconhecer que foi difícil votar em Trump, “porque ele pode ser muito turbulento e imprevisível”, o americano afirma que Biden representa regulamentação e restrições ao uso de insumos importantes para a atividade agrícola, como os agroquímicos.

Em geral, as políticas democráticas não são boas para os produtores, com excesso de regulamentação e controles ambientais que afetam a agricultura

Kevin Miller, produtor de soja e milho no Estado de Illinois

 

Além disso, Miller cita que os democratas podem impor tributações ao agronegócio, além de desfavorecer o mercado internacional. “Em geral, as políticas democráticas não são boas para os produtores, com excesso de regulamentação e controles ambientais que afetam a agricultura”, resume.

Para o produtor Bill Couser, 66 anos, do Estado de Iowa, a questão comercial é fundamental para o apoio irrestrito à Trump. “Ele se preocupa com o comércio. Um voto para Trump é um voto para o futuro dos agricultores da América”, disse o produtor de sementes de soja e milho, além de criador de gado de corte no município de Nevada.

O pensamento de Couser vai ao encontro ao de boa parte dos eleitores de Iowa, que na última eleição votaram em Trump com quase 10 pontos percentuais de diferença de Hillary. “Ele (Trump) sabe como fechar um negócio e fazê-lo funcionar”, finaliza o produtor americano.

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Entenda a eleição nos EUA

Nos EUA, o candidato precisa alcançar a maioria no colégio eleitoral, ou seja, 270 votos, de um total de 538 votos. O colégio eleitoral, formado por delegados, se reúne uma vez a cada quatro anos para escolher o presidente.

Cada um dos 50 Estados americanos tem direito a um determinado número de delegados, proporcional à representatividade parlamentar no Congresso. Todos os Estados têm dois senadores. O número de deputados é o que muda, conforme o tamanho da população de cada Estado.

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O candidato que vence a eleição popular em um Estado, independentemente da porcentagem, leva todos os delegados daquele Estado no colégio eleitoral (as exceções são Maine e Nebraska, que seguem regras próprias para distribuir os votos). Por exemplo a Califórnia, o Estado mais populoso, tem o maior número de delegados: 55. Já o Alaska, o menos populoso, tem apenas três.

Por isso alguns Estados são mais ou menos importantes. No Alabama, por exemplo, o partido Republicano tem vitória garantida desde 1980. No Estado de Washington, o partido Democrata venceu as últimas sete eleições.

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Nos “swing states” (Estados decisivos), as disputas costumam ser acirradas, alternando vitórias entre democratas e republicanos. Vencer em Estados como Flórida, Pensilvânia, Carolina do Norte, Ohio e Wisconsin pode ser crucial para o resultado das eleições.

Cinco vezes um candidato recebeu a maioria dos votos populares, mas não levou a presidência – como na eleição de Donald Trump, em 2016, quando Hillary Clinton foi a mais votada em números absolutos, mas não no colégio eleitoral.
Source: Rural

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