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Viabilidade comercial do rigo transgênico é questionada por moinhos e pela indústria de panificação (Foto: Thinkstock)

 

A audiência pública para debater a entrada de trigo transgênico no mercado brasileiro colocou a indústria de farinhas e de panificação em posição oposta à das empresas desenvolvedoras de sementes. A reunião que avalia a liberação de uma variedade geneticamente modificada do cereal foi realizada nesta quinta-feira (22/10), pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia.

A discussão acontece após a Argentina aprovar, no começo de outubro, a produção de trigo HB4. O cultivo, porém, depende da autorização para a comercialização no Brasil, responsável pela importação de 45% do cereal argentino.

A indústria processadora do cereal e as panificadoras, que usam o trigo para a produção de pães, massas, bolos e farinhas, temem uma rejeição dos consumidores ao produto feito com o grão modificado.

"O nosso consumidor busca produtos mais saudáveis. A cada dia, eles estão cuidando mais da saúde e nunca querem produtos com aditivos ou manipulações artificiais. O trigo transgênico está na contramão do que os nossos consumidores procuram", afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pães e Confeitaria (ABIP), Paulo Meneguelli.

"Essa dificuldade de comercialização interna, aceitação do consumidor e na exportação faz com que, no momento, a gente seja contrário ao trigo geneticamente modificado", disse Sonia Cristina Romani, diretora técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi).

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A variedade HB4 foi desenvolvida pelas empresas Bioceres (Argentina) e Florimond Desprez (França). A TMG, que também atua com biotecnologia e se manifestou como parte interessada na autorização do trigo transgênico no Brasil, diz que o pedido é para a comercialização apenas da farinha, e não do grão.

"Lembrem que o trigo é a única cultura de importância em que o Brasil não é auto-suficiente. Ela fica concentrada no sul, mas existem muitas áreas que podem ser beneficiadas com essa tecnologia", declarou o gerente de Pesquisa da TMG, Alexandre Garcia.

Ele destacou que, apesar da resolução publicada pelo governo argentino informar que a variedade HB4 possui “tolerância à estiagem e ao herbicida glufosinato de amônio”, o glufosinato de amônio não é autorizado para o uso do trigo no país.

Garcia acredita que haveria uma queda no valor do produto final ao consumidor com a variedade superando intempéries no campo e aumentando a produtividade nas lavouras. Para separar o trigo geneticamente modificado do convencional, ele explica que a ideia é fazer a segregação desde a produção de sementes, os insumos, a produção de grãos, na colheita e no armazenamento. Tudo em uma cadeia fechada.

Moinhos são contra

Caso a produção entre em vigor, a Argentina será o primeiro país a produzir trigo transgênico no mundo. O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), embaixador Rubens Barbosa, lembrou que a produção do cereal geneticamente modificado foi aprovada em 2004 nos Estados Unidos, mas proibida após pressão dos consumidores.

O presidente da Abitrigo lembra, ainda, que a legislação vigente para a fiscalização da Anvisa prevê o limite de até 1% para a mistura da matéria-prima modificada à convencional. Acima desse limite, o consumidor deve ser informado nos rótulos das embalagens, o que recai também em custos para a separação.

“Não tem em nenhum lugar do mundo a autorização para a comercialização do trigo transgênico. O outro fator é que teria que mudar a legislação interna e o custo maior para a segregação vai recair sobre os consumidores”, disse Barbosa à Globo Rural.

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Em pesquisa interna da Abitrigo, 85% dos moinhos se manifestaram contra a importação de trigo transgênico e 90% deles indicaram que, caso o governo autorize a compra, vão buscar o cereal em outros mercados, como Rússia e Canadá. A aquisição de trigo de fora dos países que integram o bloco do Mercosul tem a cobrança de Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%.

“A Abitrigo não é contra nenhum avanço científico, mas a gente está preocupado com essa discussão porque não conhecemos nenhum estudo sobre a vontade dos consumidores. O trigo é diferente da soja e do milho (culturas com produção transgênica autorizada), que são usados para alimento animal. É muito diferente e houve todo um debate”, conclui.

Questionado pela Abitrigo, o porta-voz do CTNBio, Paulo Augusto Vianna Barroso, informou que não há estudos sobre o impacto do consumo do trigo transgênico e que o órgão ainda faz a coleta de informações.
Source: Rural

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