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Soja e milho de fora do Mercosul terão isenção de tarifas (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Representantes da indústria de frango e suíno avaliaram de forma positiva a decisão do governo federal de zerar a tarifa para a importação de soja e milho de fora dos países do Mercosul. Produtores de grãos também disseram considerar a medida necessária, mas fazem ressalvas.

Anunciada na semana passada, a isenção tarifária atende demanda, principalmente, do setor de carnes, que vem sentindo pressão de custos por conta do dólar valorizado e exportações em ritmo acelerado da oleaginosa e do cereal. O Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que tem entre os integrantes os Ministérios da Economia, Agricultura e Relações Exteriores e a Presidência da República, resolveu retirar os tributos de 8% para os grãos e seus derivados.

"Nós não somos contra a exportação, mas temos que ter também a liberdade de importação", afirmou, ainda na sexta-feira (16/10), o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, em evento sobre o mercado mundial de carnes.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Bartolomeu Braz Pereira, reconheceu a importância da isenção. “A própria ministra (da Agricultura, Tereza Cristina) falou que era uma medida necessária, e a gente está vendo que é importante para baixar o preço para o consumidor. Mas isso não deve mexer com o mercado, já que a soja tem o prêmio cotado em dólar”, afirmou.

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Braz, no entanto, faz críticas à indústria. "É uma medida temporária, e tem que ser. Até porque a agroindústria e as tradings não fizeram o dever de casa. Eles exportaram tudo para aproveitar o mercado. Devido ao dólar e a demanda por alimentos, as vendas estão elevadas”, disse. “O Brasil continua produzindo uma grande safra, nós vendemos barato para o mundo inteiro e a indústria compra soja cara para vender no mercado interno.”

O benefício tributário para a compra externa acompanha o calendário-safra. A aquisição de soja sem impostos vai até 15 de janeiro de 2021, enquanto para o milho a medida vale até 31 de março do próximo ano, momento em que os grãos da temporada 2020/2021 devem estar disponíveis no mercado.

Para Braz Pereira, os produtores têm pouca influência nos embarques externos. "Quem faz a exportação não é o produtor. Nós vendemos para as tradings, e elas fazem os embarques. É claro que a gente tem negócios de barter (troca do produto por insumos), que já têm preços fixados. Mas a exportação do produtor não chega a 2%”.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, a cotação da saca de 60 quilos da soja em Paranaguá saiu de R$ 82,60 para R$ 136,72 em setembro, aumento de 65,5%. Com o avanço do dólar de R$ 4,30 para acima dos R$ 5,30, a alta da oleaginosa na moeda americana foi de apenas 27%, para US$ 25,30.

De acordo com a Aprosoja Brasil, apesar dos preços elevados, 95% da safra de soja em 2019/2020 foi comercializada em uma média de R$ 80 a R$ 85. "É importante também que o governo tem que entender que quando nós estávamos vendendo a soja a R$ 55 no Mato Grosso nada foi feito", afirma o presidente da entidade.

Empresas menores

Nesse cenário de demanda por matéria-prima elevada e real desvalorizado, o presidente da ABPA, Ricardo Santin, avalia que empresas menores terão mais dificuldades, mas reconhece a necessidade do aumento dos estoques. “O que a gente vê é talvez uma diminuição de produção entre aquelas empresas que têm menor fôlego financeiro para manter o fluxo de estoque de milho. As cooperativas vão ter que avançar mais, comprar mais de forma antecipada, e elas já têm essa condição. As demais empresas vão ter que fazer isso [para] garantir que o milho fique aqui”, afirma.

Segundo Santin, há em curso uma mudança no patamar de preços da alimentação. “Infelizmente, a gente tem que dizer para o consumidor que a comida vai ficar mais cara. E não porque nós queremos ganhar mais dinheiro, é porque é um problema estrutural. Mais de 80% do nosso custo de produção é ração para o animal vivo, e é impossível você continuar produzindo quando tem aumento de 70% nos custos”, destaca.

Em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador do IBGE que mede o avanço da inflação para famílias que possuem entre 1 a 40 salários mínimos, registrou avanço de 0,64% na comparação após os 0,24% em agosto, com avanço de 2,28% do setor de alimentos e bebidas. O óleo de soja e as carnes estiveram entre os itens que mais influenciaram para a alta no mês, com avanço de 27,54% e 4,53%, respectivamente.

Por meio de nota, o diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese, disse que o movimento de isenção de impostos tem a intenção de trazer um ajuste entre oferta e demanda. “Em virtude desses fatores (dólar elevado e demanda externa por alimentos), foi conveniente buscar uma medida preventiva, de maneira a equalizar as condições de importação de terceiros países com o Mercosul, fortalecendo o abastecimento do mercado doméstico”, afirmou.
Source: Rural

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