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(Foto: Mayke Toscano/Secom-MT)

 

A seca, que contribuiu para a propagação do fogo e já destruiu quase 4 milhões de hectares do Pantanal, tende a se agravar nas próximas temporadas de estiagem. A projeção foi feita por autoridades públicas e especialistas nesta quinta-feira (15/10), em audiência pública da comissão da Câmara dos Deputados sobre os incêndios no bioma.

"Os eventos extremos vão se acentuar. As secas e as inundações vão ficar cada vez mais intensas”, declarou o superintendente de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho.

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Segundo ele, parte do Pantanal já havia entrado em um “situação de atenção” no ano passado, devido ao baixo volume de chuvas que, segundo vários especialistas, indicam o início do que pode vir a ser um longo ciclo de seca na região – e que, de acordo com o superintendente, pode afetar outras regiões do país.

“Identificamos que na região do alto Paraguai, no Pantanal, estava acontecendo um evento raro que não se repetia há cerca de 50 anos. Na década de 1960, aconteceu um evento [estiagem] muito longo, que durou mais de dez anos, mas ao qual, depois, se seguiu um período de aparente normalidade”, disse Gondim, apontando que a situação pode agravar problemas e conflitos já existentes no Centro-Oeste, como sobre o uso múltiplo d´água.

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Para o estatístico Vicente Andreu Guillo, ex-diretor-presidente da ANA, é importante abandonar a tese de que as poucas chuvas registradas durante as últimas temporadas são reflexos de ciclos históricos já registrados na região, e dos quais o bioma, no passado, foi capaz de se recuperar.

“É muito difícil transpor [os efeitos de] uma seca de 50, 60 anos atrás, [e prever] suas consequências. Hoje, estes eventos acontecem em uma situação de muita alteração do uso do solo; um período em que os rios estão profundamente alterados – principalmente pela operação das hidrelétricas brasileiras”, comentou Guillo.

Se não reconhecermos que as alterações [climáticas] estão ocorrendo com uma frequência e um ritmo muito grande, vamos nos comportar como aqueles que, no passado, vivenciaram secas e concluíram que elas não passavam de eventos estatísticos, cíclicos

Vicente Andreu Guillo, estatístico e ex-diretor-presidente da ANA

 

 

 

 

 

 

Pesquisadora ligada à Embrapa Pantanal e membro do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês das Bacias Hidrográficas (Fonasc), a bióloga Débora Calheiros destacou a importância de todos, em particular do poder público, estarem atentos às questões climáticas.

“Temos que estar preparados. O Pantanal é resiliente, tem a característica de se adaptar a grandes secas, mas com o nível de impacto em toda a bacia, é difícil saber se o bioma vai resistir em toda sua integridade, pois o nível de impacto é crescente”, comentou Débora, acrescentando que a preservação da área alagadiça do Pantanal depende também da conservação das áreas altas, de planalto, onde estão as nascentes de cursos d´água.

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A bióloga também refutou o argumento de que a proibição à criação de gado em áreas do Pantanal destinadas à conservação ambiental favoreça o acúmulo de material orgânico que, durante a seca, serviria como combustível, favorecendo a propagação de qualquer incêndio.

“Esta questão do boi bombeiro é bem polêmica. O fogo que, neste ano, segundo a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], já consumiu cerca de 27% do bioma, começou fora das unidades de conservação. Além disso, há relatos da Polícia Federal apontando [a existência de] incêndios criminosos”, acrescentou Débora.

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Representante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o meteorologista Maicon Eirolico Veber, afirmou que, nas próximas duas ou três semanas, deve haver um aumento gradativo das chuvas na região. "Há uma tendência para chuvas nos próximos dias, e elas tendem a se tornar mais regulares a partir de novembro”, pontuou Veber, lembrando que o volume de chuvas registrado neste ano está abaixo da média da última década.
Source: Rural

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