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 (Foto: Thinkstock)

 

 

É uma forte tendência, o interesse dos consumidores em receberem maior quantidade de informações sobre os alimento, que procuram se informar sobre as características adicionais dos produtos, como a origem geográfica, qualidades organolépticas e métodos produtivos.

Muitas vezes são apresentadas com mais de uma característica conjuntamente. Um queijo gorgonzola, por exemplo, além de vir de uma região especifica na Itália exige métodos produtivos que incluem as gramíneas que as vacas se alimentam. Além de condições sanitárias rígidas obrigatórias, podem ser produzidos com leite cru, não pasteurizado.

Os vinhos europeus carregam denominações de origem geográfica, os Bordeaux, Borgonha, Dão. Os produtores do novo mundo, avaliando a dificuldade de concorrer com regiões tradicionais, se dedicaram a variedades da uva, os Tannat, Carmenere, Malbec.

Os alimentos orgânicos se distinguem em oferecer um método produtivo aonde os produtos químicos, dos fertilizantes aos remédios chamados de defensivos, são evitados atendendo um segmento de consumidores que assim desejam.

Nas aves é usual encontrarmos produtos que informam não utilizarem antibióticos de maneira profilática. Os hormônios são proibidos para todos. Nos ovos aparecem os da galinha caipira, método de menor intensividade na produção. No exterior chegam a denominar de galinha feliz, pois teria um maior espaço para ciscar não sendo totalmente confinada.

No café, algumas décadas atrás, os importadores passaram a exigir melhores condições de trabalho para o homem do campo. Entrou a questão da legalidade. Aqui no Brasil produziu pouco efeito pois temos uma ampla legislação trabalhista, porém alterou as condições de outros mercados na América Central.

Aqui, devido à forte interferência estatal no mercado de café praticado pelo IBC até 1990, que praticamente igualava os preços dos grãos independentes da característica de sabor e odor, não desenvolvíamos mercados distintos. Hoje, em qualquer gondola de supermercado, já se encontra cafés ditos especiais com características de variedades conilon, arábica e mesmo mais especificas como Bourbon, além de regiões, Sul de Minas, Mogiana.

Na carne bovina, nas últimas décadas passamos a encontrar marcas que ofereciam características organolépticas tipo maciez, bem como cheiro e cor. Também as raças bovinas em especial a carne dos bovinos Angus. O produto deixou de ser somente carne de vaca. No exterior se separam os bovinos terminados em confinamentos, a grande maioria aos terminados com somente pastagens.

Por ocasião do surgimento da encefalopatia espongiforme bovina, a doença da vaca louca, a Europa introduziu a rastreabilidade individual dos bovinos. Todos os animais passando a portar um brinco numerado. Para exportar para lá, o Ministério da Agricultura desenvolveu um sistema – o Sisbov – rastreando individualmente os bovinos, porem até porque aqui nunca tivemos a doença, o sistema aqui não tem consistência técnica.

Recentemente visto os grandes frigoríficos reagirem a pressão dos importadores apresentando programas que se dispõe a garantir que a produção de bovinos seja toda em áreas sem desmatamento na Amazônia. Alguns falam que essa exigência contemplaria o desmatamento legal outros somente o ilegal.

A rastreabilidade de bovinos já vinha sendo feita há mais de uma década resultado do mesmo tipo de pressão. A participação do Ministério Publico levou a assinatura de uma Termo de Ajuste de Conduta (TAC), quando os frigoríficos se comprometeram a somente comprar bois de propriedades com regularidade ambiental, além claro da sanitária e tributária. Não surtiu o efeito imaginado de reduzir o desmatamento, pois se o boi era regular o bezerro muitas vezes vinha de propriedades irregulares.

Agora os frigoríficos anunciam que utilizando o sistema de rastreabilidade sanitária oficial, as Guias de Trânsito Animal (GTAs), destinadas a garantir a sanidade do rebanho, incluirão a exigência dos seus fornecedores também contemplarem a questão do desmatamento, do nascimento ao abate dos bovinos.

A proposta, vindo como resultado de pressão externa, pode atender à exigência do consumidor estrangeiro. Não é, porém, a melhor para nós brasileiros. O que precisamos é que toda a produção seja legal, não somente a exportada. A questão do desmatamento precisa ser enfrentada de frente e não de maneira indireta. Precisamos é da rastreabilidade territorial através dos satélites e inteligência artificial.

A informalidade na produção de bezerros na região da Amazônia esbarra nas falhas de regularização fundiária. Encontramos mais de 150.000 famílias, induzidas décadas atrás a ocuparem a região, até hoje em condições irregulares, e que na grande maioria são pequenos pecuaristas. São esses os bezerros que ficarão a margem do setor mais organizado da pecuária.

Infelizmente, ao não conseguirmos garantir uma certificação de legalidade, resultado de infrações ambientais no desmatamento não combatidas com competência e vigor pelo Poder Público, levamos as empresas a desenvolverem certificação de rastreabilidade privada, em uma questão que deveria, antes de mais nada, ser obrigatória para todos.

*Pedro de Camargo Neto é pecuarista e ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam necessariamente o posicionamento editorial da revista Globo Rural

 
Source: Rural

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