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Johan Dalgas Frisch. Seu carinho pelos pássaros influenciou o governo a tornar o Dia da Ave uma data nacional (Foto: Roger Marzochi)

 

“Os homens fariam muito mais se não julgassem tantos sonhos impossíveis.” Aos 90 anos, o paulistano com ascendência dinamarquesa Johan Dalgas Frisch pode se considerar imortal. Para além do amor que cultivou em sua família, Frisch já é inesquecível pelo carinho que dedicou até hoje à natureza. Ao gravar o canto dos pássaros no País, ele foi o primeiro a registrar os oito cantos do mitológico pássaro amazônico uirapuru, em novembro de 1962, no Acre. Como diz a lenda, quem ouve o canto dessa ave, pode fazer um pedido que será atendido. E quem tiver uma pena ou um pedaço do ninho da ave tem sucesso nos negócios e se torna irresistível às mulheres.

E inúmeros foram os sonhos que esse senhor irriquieto, que deseja passar dos cem anos, conquistou. “Mais três anos? Isso ou até mais!”, diz ele, sobre sua expectativa de vida, em entrevista exclusiva à Globo Rural, em seu escritório no Morumbi, em São Paulo. O segredo de sua saúde são caminhadas regulares de cinco quilômetros por dia, alimentação saudável e um espírito desbravador.

Foi no processo de criação do decreto da primeira célula de preservação, o Parque Indígena do Tumucumaque, no Brasil, em 1968, que Frisch conseguiu convencer o então presidente da República, general Arthur da Costa e Silva, a fazer com que o Dia da Ave, que já vigorava no Estado de São Paulo e celebrado no dia 5 de outubro, fosse uma data nacional. E foi também por persistência de Frisch que o sabiá foi escolhido o pássaro-símbolo do Brasil. Parece simples quando se resume o passado em poucas linhas, mas esse processo foi árduo e intenso, celebrado em livros que o próprio Frisch editou.

Para preservar a região na qual havia feito incursões, ele se reuniu com grandes líderes mundiais: rei Leopoldo III, da Bélgica; Charles de Gaulle, na França; rainha Elizabeth, na Inglaterra;  príncipe Bernard, da Holanda; príncipe Juan Carlos, da Espanha; governador de Nova York e depois vice-presidente dos Estados Unidos, Nelson Rockfeller; o ex-presidente do País, o general Dwigth Eisenhower; o general Charles Augustus Lindberg, que fez o primeiro voo sem escalas de Nova York a Paris, em 1927; além de banqueiros brasileiros, empresários, políticos e formadores de opinião, como os jornalistas Assis Chateaubriand e Rogério Marinho.

Dono de uma vitalidade invejável e uma persistência hercúlea, ele convenceu líderes mundiais a criar um gigantesco parque entre o Pará e o Amapá que, paulatinamente, foi se estendendo ao Suriname e à Guiana Francesa: o Grande Tumucumaque, que na soma da área desses três países tem nada menos que 9 milhões de hectares. Superior às áreas de Suíça (4 milhões hectares) e Holanda (4 milhões hectares) juntos e maior reserva natural do mundo. 

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E tudo isso começou pelo amor ao canto dos pássaros, logo na infância. O tempo lhe fez perder aquela audição mais que perfeita, que lhe permitia identificar só pelo canto mais de cem aves. Enquanto ele fala, entra no escritório o som do sabiá-laranjeira. “É? Ele está cantando…”, sorri Frisch, como quem saúda um velho amigo.

Após a entrevista, pergunto sobre sua opinião a respeito da destruição da floresta vista nos dias atuais: ele prefere não responder diretamente. Mas o principal legado que ele espera deixar de sua vida extraordinária é que brote um verdadeiro estímulo para que as novas gerações valorizem cada vez mais a natureza, como ele sempre fez. “Eu não sou ninguém. Eu quero sonhar e viver com os pássaros.”

Ouça a entrevista de Johan Dalgas Frisch

 
Source: Rural

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