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carregamento de soja no porto de Itaqui. Dólar valorizado sustentou preços e favoreceu esxportações (Foto: Gecom Itaqui/Divulgação)

 

Com dólar elevado e demanda crescente por alimentos em todo o mundo, o ciclo virtuoso vivenciado pelo setor do agronegócio nos últimos anos e, também, durante a pandemia do coronavírus, deve permanecer em 2021, de acordo com especialistas do setor. No entanto, há riscos nessa perspectiva positiva, como a possibilidade de sanções ao Brasil por conta do crescente desmatamento na Amazônia e Pantanal.

As análises foram realizadas nesta sexta-feira (2/10) em seminário virtual da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que discutiu o cenário atual do segmento agrícola em meio à recuperação econômica mundial.

Segundo levantamento da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, diversos produtos do setor de alimentos registraram aumento de preço no mercado interno nos últimos 12 meses até setembro, sendo 78,8% para a soja, 70,9% para o milho, 128,3% para o arroz, 103,7% para o feijão, 30,9% para o algodão, 28,7% para o café e 44% para o caso do açúcar.

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“Para o agronegócio, o resultado foi em função de uma demanda aquecida por produtos básicos, mas, principalmente, porque entre os 30 maiores exportadores globais, o Brasil foi o que teve a maior desvalorização de câmbio e isso se traduziu em ganhos para o produtor", afirmou Carlos Cogo, diretor da consultoria.

De janeiro a setembro, houve um aumento de 31% nos embarques de soja, 63,1% de algodão, 64% para o açúcar e 96% para o arroz. Entre os principais destinos da produção brasileira, a China aparece em primeiro lugar nas exportações do agro, com 38% de participação; seguido pela União Europeia, com 16,2%; e, em menor escala, estão os Estados Unidos, com 6,1%; e os países do Oriente Médio, que têm 5,7% na divisão das vendas externas.

Carnes

Já no caso das carnes, a demanda global aumentou significativamente por conta das restrições impostas pela Covid-19, assim como a propagação da Peste Suína Africana (PSA) no rebanho chinês, que influenciaram no consumo.

No mercado de frangos, as exportações brasileiras somaram 2,8 milhões de toneladas entre janeiro e agosto, volume 1,8% acima do mesmo período do ano passado, mas uma queda de 11,3% no faturamento, para US$ 4,14 bilhões. Por outro lado, as vendas de carne suína totalizaram 678,3 mil toneladas no mesmo período, volume 44,3% superior ao registrado nos 8 primeiros meses do ano passado, com receitas de US$ 1,48 bilhão, avanço de 54,5% sobre 2019.

“Os outros mercados estão sendo afetados pela disrupção global de carne suína. Não tem carne suína suficiente no mundo para repor o que foi perdido, o que mexe com o consumo de carne bovina e de frango”, explicou Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), entidade que representa a indústria de aves e suínos.

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Países que não surgiam como os maiores compradores têm aumentado os volumes. Em frangos, houve um crescimento de 107% nas vendas para o Vietnã, para 32 mil toneladas; de 66% para as Filipinas, com 58 mil toneladas; de 43% para Singapura, para 89,8 mil toneladas; e de 6% para a Coreia do Sul, com 85,7 mil toneladas.

Já para os embarques de suínos, a expansão nos primeiros oito meses do ano foi de 173% para o Vietnã, com 26,5 mil toneladas; de 166% para o Japão, que comprou 7,7 mil toneladas; ficou em 62% no caso das Filipinas, que adquiriram 5,2 mil toneladas; e de 57% por parte de Singapura, que teve 37,3 mil toneladas. 

"Isso demonstra uma tendência de que a exportação de carne suína não vai ficar restrita à China, exatamente para evitar um discurso de dependência do país chinês. Não é essa a realidade que a gente vê. Eu entendo que o Brasil, dentro dessa nova posição, terá sustentabilidade nas exportações", completou Santin.

O país chinês, no entanto, foi o maior comprador no acumulado do ano das carnes brasileira, com crescimento de 31% no mercado de aves, para 461,6 mil toneladas, e aumento de 147% nas aquisições de carne suína, para 332,9 mil toneladas.

Riscos e alerta

Para o economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato, a demanda chinesa e a guerra comercial entre o país e os Estados Unidos favoreceram o Brasil. Ele pontua, ainda, que se não houver aumento nas fatalidades por conta da pandemia nos próximos 60 dias em todo o mundo, a atividade da economia global tende a ganhar escala.

No entanto, há incertezas para o Brasil, como a eleição americana, os problemas ambientais e o avanço da inflação, principalmente no setor de alimentos. "Muita gente pergunta como a inflação está alta se o PIB vai cair 4,5%. É preciso lembrar que a renda está crescendo 12% em termos nominais, o que leva a uma inflação”, diz o economista, em referência ao auxílio emergencial que iniciou em R$ 600 reais em abril e caiu para R$ 300 em setembro.

“Toda a confusão do arroz é produto dessas questões. Com a valorização das commodities e exportação favorável, a produção não dá conta de atender demanda externa e interna pelo produto. O auxílio emergencial é o principal estimulante para o consumo”, explicou o economista do Bradesco.

Entre janeiro e setembro, a população economicamente ativa saiu de 95,3 milhões para 82,2 milhões. Porém, Honorato acredita em uma retomada com o fim do benefício e o controle da doença. “As pessoas estão em casa em função da pandemia recebendo o auxílio emergencial que mais do que complementam a renda. A gente não acha que elas voltarão para o mercado de trabalho na condição de desempregados, mas, sim, na condição de empregados no setor informal”, disse.

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Caso não haja uma retomada da economia e a criação de postos de trabalho, o economista-chefe do Bradesco estima que a taxa de desemprego poderia saltar de de 13,8% para 23,6%.

Carlos Cogo diz que o Brasil precisa resolver rapidamente os problemas relacionados ao meio ambiente para evitar qualquer barreira econômica, como o não firmamento do acordo entre Mercosul e União Europeia e mesmo uma sanção por parte de países desenvolvidos.

"Se a gente realmente não cuidar, não parar com tudo isso, encerrar essa celeuma toda de queimadas, incêndio e de 'passar a boiada' (referência à frase do ministro Ricardo Salles para flexibilizar a legislação ambiental) […] Tem que acabar com esse negócio porque senão nós vamos ser embargados e não vamos conseguir fechar acordo comercial”, criticou.

A maior resistência viria dos países da União Europeia e dos Estados Unidos, a depender do resultado da eleição americana, marcada para novembro. "Ta aí os bancos, com Bradesco, Itaú e Santander, assinando a carta da Coalizão Brasil pedindo de vez uma ação concreta na Amazônia. A gente tem que tomar uma atitude proativa e já”, finalizou Cogo.
Source: Rural

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