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Joe Biden, candidato democrata a presidente dos EUA, citou Amazônia durante debate eleitoral (Foto: Divulgação)

 

 

 

A pressão sobre o Brasil e sua política ambiental tende a aumentar na comunidade internacional caso o candidato do partido Democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, seja eleito em novembro. A análise é dos ex-embaixadores Rubens Ricupero e Rubens Barbosa, que já representaram o Brasil em Washington (EUA), posto mais alto da diplomacia brasileira.

“A situação está ficando cada vez mais complicada. Não só o Biden, mas todo o partido Democrata tem essa posição de zelo com o aspecto ambiental. Já houve posicionamento da Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados americana contra o acordo comercial com o Brasil”, afirma Ricupero, que também foi embaixador em Genebra (Suíça) e ministro da Fazenda.

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Durante o primeiro debate da corrida presidencial americana, na noite de terça-feira (29/9), Biden falou em "consequências significativas" para o Brasil caso não haja uma solução sobre o crescente desmatamento na Amazônia. A fala ganhou peso porque o democrata lidera a maioria das pesquisas de intenção de voto.

“A Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída […] Eu tentarei fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): 'Aqui estão US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se não parar, haverá consequências econômicas significativas'”, disse o democrata.

Nesta quarta-feira (30/9), o presidente Jair Bolsonaro disse que a soberania brasileira na Amazônia é “inegociável” e que há uma "cobiça de alguns países" pela floresta. Também classificou de "lamentável" a postura de Biden, por sinalizar "abrir mão de uma convivência cordial e profícua”.

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Imagem arranhada no exterior

Segundo o ex-embaixador Rubens Barbosa, não houve ameaça à soberania brasileira. "Nesse ponto, o Biden se referia à política econômica que os Estados Unidos devem adotar para que possam reverter as consequências da pandemia do coronavírus. Nessa política econômica, tem um capítulo específico sobre política ambiental. Ele deu um exemplo e não disse, mas, se o Brasil não quiser participar, vai ter consequências”, explica.

Por isso, Barbosa não vê surpresas na declaração do candidato democrata. “Ele está na mesma linha que a (candidata à vice-presidência) Kamala Harris. Ela divulgou uma nota criticando a política para o meio ambiente do Brasil", salienta. 

Se Biden for eleito, a política ambiental americana vai mudar. Os Estados Unidos se alinharão à Europa em torno da política de mudanças climáticas, que, goste ou não, é um tema global

Rubens Barbosa, ex-embaixador

Para Barbosa, o Brasil deve estar atento à possível mudança no governo americano e ter uma resposta adequada com políticas mais eficazes para o meio ambiente. “Na área agrícola, já começa a ter ruído (em referência aos questionamentos ao país). E não só na área agrícola, mas os bancos e fundos de investimento ameaçam suspender financiamento para empresas que de alguma forma participam do desmatamento na Amazônia”, pondera.

Na opinião do ex-embaixador Ricupero, os crescentes focos de incêndio prejudicam cada vez mais a imagem do Brasil no exterior. “Infelizmente, por culpa desse governo, nós nos colocamos numa posição onde somos vistos como um problema para o mundo inteiro”, critica.

Nós já estamos mal com a União Europeia, a todo momento tem problemas com a China e, com a Argentina, briga toda hora. Você não compreende o que eles (governo) querem. Querem brigar com o mundo inteiro? É um governo que, ao invés de ter uma diplomacia, tem uma anti-diplomacia

Rubens Ricupero, ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda

 

Semelhanças com a ditadura

Com vasta experiência na diplomacia internacional, Ricupero vê semelhanças no momento atual com o vivenciado por ele em 1976, quando exercia a chefia do setor político na Embaixada durante o regime militar, nos anos de Ernesto Geisel no poder.

Ainda durante a campanha, o candidato do candidato do partido Democrata, Jimmy Carter, vinha fazendo críticas ao Brasil por conta da postura adotada em relação aos direitos humanos e à tortura, além de um acordo nuclear firmado com a Alemanha. O tom mais incisivo se deu após a vitória do presidente eleito sobre o republicano Gerald Ford na disputa pela Casa Branca.

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“Eu avisei o governo que teríamos problemas, e o governo não levou a sério. O Carter se elegeu e, na primeira mensagem dele ao Congresso americano, voltou a citar o Brasil de uma maneira grave. A relação azedou, foi algo muito ruim”, relembra Ricupero.

Segundo ele, não estão descartadas sanções econômicas ao país. “Agora, o governo brasileiro está adotando essa atitude de bravata. Na votação de sanções contra Cuba, o Brasil votou favorável, da mesma maneira que EUA e Israel. Portanto, o governo não pode dizer que é contra sanções”, avalia.

Para Rubens Barbosa, a avaliação de alguns analistas de que a China, maior parceiro comercial do Brasil, é menos rigorosa com os aspectos ambientais está equivocada. “O presidente chinês, Xi Jinping, disse que vai aumentar as restrições às emissões de gases poluentes e vai querer ter uma economia limpa até 2050. Por isso, a tendência é de que os chineses se aproximem gradualmente da Europa”, ressalta.
Source: Rural

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