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(Foto: Mayke Toscano/Secom-MT)

 

Mato Grosso quase triplicou os focos de queimadas no período proibitivo em dois anos. Neste ano, foram 30,5 mil focos de calor no Estado, um aumento de 45% na comparação com o mesmo período de 2019 (21 mil focos) e de 177% em relação a 2018 (11 mil focos).

Apenas nos primeiros 20 dias de setembro, a alta chegou a 65% em comparação com os 30 dias de setembro de 2019. Os dados são do Monitor de Queimadas do Instituto Centro de Vida (ICV), ferramenta interativa que utiliza informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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Todo ano, a prática de queimadas é proibida durante a época de estiagem, quando a vegetação está mais vulnerável aos incêndios florestais. Em 2020, porém, nem mesma a antecipação em 15 dias do período de proibição surgiu efeito no controle o fogo.

No Estado inteiro, os imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) concentram a maior parte dos focos de calor, com 51% do total (15.440), seguidos das áreas não cadastradas com 26% (8.037) e das terras indígenas com 17% (5.080).

A maior parte dos focos no período ocorreu na Amazônia, com 11.676 focos (38,22%), seguida do Pantanal com 9.983 focos (32,51%) e do Cerrado com 8.943 focos (29,27%).

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Dos biomas, o Pantanal segue sendo, proporcionalmente, o mais afetado. Enquanto em todo setembro de 2019 houve 800 focos de calor, nos primeiros 20 dias do mês em 2020 foram mais de 5 mil.

Os índices mostram que o Estado sofreu a maior parte das queimadas na área brasileira do Pantanal, que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. De um total de 15.963 focos de calor de janeiro ao dia 20 de setembro no Pantanal brasileiro, 66% (10.481 mil) ocorreram em Mato Grosso e 34% (5.482 mil) em Mato Grosso do Sul.

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Impacto dos incêndios no Pantanal

Na porção mato-grossense do Pantanal, o fogo atingiu cerca de 1,7 milhão de hectares em 2020. A área equivale a quase um terço do bioma no Estado. Os dados são do período de janeiro até 17 de setembro e são resultado de análise técnica realizada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da Global Emissions Fires Database, da Nasa.

A análise também aponta que 141 municípios de Mato Grosso tiveram áreas atingidas por incêndios. Até 1º de setembro, Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres respondiam por 51% do total atingido no Estado. No dia 17 de setembro, o percentual caiu para 30%, o que demonstra que o fogo avançou no Cerrado e na Amazônia nas últimas duas semanas.

Um dos fatores que levaram à situação atual foi a seca severa no bioma, que fez com que o Rio Paraguai atingisse o nível mais baixo desde os anos 1960. A condição está diretamente relacionada aos altos níveis de desmatamento na Amazônia, explica Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.

Estudos apontam que, com a aceleração do desmatamento da Amazônia, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas nas regiões central e sudeste do país. O desmatamento afeta o fenômeno conhecido como rios voadores, no qual a umidade da floresta origina uma grande coluna de água, transportada pela América do Sul

Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV

Dos Estados da Amazônia Legal, Mato Grosso também figura como segundo que mais desmata a floresta amazônica em território brasileiro. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, foram registrados 1.880 km² de áreas com alertas de desmatamento no Estado, uma área maior que o município de São Paulo.

Em geral, o uso do fogo está relacionado com a limpeza dos terrenos para pastagem após o corte raso da vegetação ou para renovação da pastagem. Com a seca, o fogo nas áreas onde foi utilizado para fins agropecuários fugiu de controle e os incêndios tomaram grandes proporções.

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Uma nota técnica do ICV mostrou que nove pontos de calor nos primeiros 50 dias do período proibitivo foram responsáveis por atingir cerca de 324 mil hectares no Pantanal. Destes, cinco ocorreram em imóveis rurais cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Em Mato Grosso, o bioma Pantanal tem 72% de sua área ocupada pelos 3.260 mil imóveis privados inscritos no CAR, dos quais 13% contam com área acima de 1.500 hectares. “Dessas grandes, 32 têm área acima de 20 mil hectares e, sozinhas, ocupam 32% do Pantanal. Todas essas fazendas têm a criação extensiva de gado como principal atividade”, afirma Silgueiro.

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Sensação de impunidade

Uma causa apontada pelo especialista para o descontrole no número das queimadas neste ano é a sensação de impunidade de quem faz uso do fogo de maneira ilegal. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) prevê pena de um a quatro anos de reclusão as criminosos.

De 1º de janeiro até 14 de setembro de 2020, porém, as multas aplicadas pelo Ibama por infrações relacionadas à vegetação – como desmatamento e queimadas ilegais – caíram 22% em 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior.

Em Mato Grosso, foram registradas 173 autuações relacionadas à vegetação neste ano, uma redução de 52% em relação ao mesmo período de 2019, com 361, de acordo com levantamento feito pela BBC News.

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Chamas nas terras indígenas

O impacto do fogo no Pantanal em Mato Grosso foi sem precedentes nas Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs) em 2020. Os dados mostram que, de janeiro a 20 de setembro, foram detectados 293 focos de calor em terras indígenas no Pantanal.

Os números representam um aumento significativo para as TIs no bioma: em 2019, a categoria somou nove ocorrências de janeiro a setembro inteiro e, em 2018, não contabilizou nenhuma. Já as unidades de conservação somam 633 focos de calor na mesa área, enquanto 2019 contabilizou 19 registros.

Entre elas, destaca-se o Parque Estadual Encontro das Águas, o maior refúgio de onça-pintada das Américas e que teve mais de 92 mil hectares atingidos até o dia 13 de setembro, o equivalente a 85% da área total do parque.

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Source: Rural

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