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Rubens Ricupero, sobre acordo Mercosul-União Europeia: "Não tem nenhuma chance a curto e médio prazo" (Foto: Sérgio Zacchi)

 

Ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA) e Genebra (Suíça), Rubens Ricupero avaliou como “muito negativo” o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 75ª edição da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (22/9). Segundo ele, após a manifestação, não há chance do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ser aprovado.

“Não tem nenhuma chance a curto e médio prazo. Deve ficar em banho-maria, provavelmente com a expectativa de que a situação no Brasil melhore. Com a possível mudança no governo dos Estados Unidos, isso deve se agravar. A única referência e apoio do governo Bolsonaro é o governo Trump. Se ele desaparecer, não tem mais nada. Ele (Bolsonaro) fica completamente isolado”, disse à Globo Rural.

Nós vamos chegar a um ponto que isso vai ficar cada vez pior. O que ainda salva o Brasil é que a China e os asiáticos são menos preocupados com esses aspectos ambientais

Rubens Ricupero, ex-ministro e ex-embaixador

Para Ricupero, com o agravamento das queimadas, a situação será “de maior hostilidade em matéria de comércio e investimento", podendo atingir cadeias produtivas que não estão na Amazônia. “Ao adotar essa postura, o governo brasileiro está arruinando a marca do Brasil, que era positiva no exterior. E produtores que não estão na Amazônia ou no Pantanal, como exportadores de maçã de Santa Catarina, também terão problemas, como já estão tendo”, ressaltou.

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O ex-ministro avalia que o discurso não trouxe novidades. “Ele se parece muito ao discurso feito há um ano. A diferença é que é para pior. Naquela ocasião, o governo estava no início e algumas pessoas poderiam dar algum crédito de confiança, mas surgiram novos problemas, como a pandemia, onde ele diz que o país se saiu bem e esteve entre os menos afetados, quando foi o contrário, além da ameaça à democracia. Ele insiste na mesma linha de negar a realidade”, pontuou.

Na visão do diplomata, a melhor opção, inclusive para o agronegócio, seria um posicionamento que considera mais construtivo, reconhecendo os problemas na Amazônia e no Pantanal, com esforços para contornar a situação. “Dizer que as queimadas são fruto de ‘uma campanha brutal de desinformação com interesses escusos’ obviamente vem de mais uma campanha difamatória desses grupos de extrema-direita. E o que se tenta com isso, é não reconhecer os problemas reais”, afirmou.

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Segundo Ricupero, o governo dispõe de dados para enfrentar o problema, o que, na sua avaliação, não acontece. Ele critica a relação que o presidente fez em seu discurso das queimadas com a ação de "índios e caboclos".

“Os estudos dos satélites já apontaram que as queimadas representam um grupo muito pequeno, de mais ou menos 1% das propriedades rurais. Mas são propriedades de grande porte. Inclusive, sabe-se os municípios onde isso ocorre. Portanto, o governo dispõe de todos os instrumentos para, se quisesse, atuar. Mas a intenção não é essa”, criticou.

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Marina Silva também faz críticas

A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também condenou o discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU. Segundo ela, o presidente segue "proferindo suas inverdades sem nenhum tipo de vergonha e constrangimento". "Tentou passar a ideia de que os problemas ambientais no Brasil não existem", escreveu Marina em sua conta no Twitter.

(Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo)

 

É indigno e aviltante, da dignidade institucional da instituição presidência da República do Brasil, ver o presidente Jair Bolsonaro acusando de forma leviana e mentirosa os indígenas e demais povos tradicionais pelos crimes de desmatamentos e queimadas da Amazônia

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente

Para ela, Bolsonaro ainda tentou vender uma imagem no exterior para se eximir de responsabilidade por sua "trágica atuação" no enfrentamento da pandemia e se contradisse ao falar em direitos humanos. “Esquecendo que o seu governo foi acusado por uma série de violações na Comissão de Direitos Humanos da própria ONU”, finalizou.
Source: Rural

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