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Após deixar em solução de água sanitária, lavar os alimentos em água corrente retira resquícios do produto (Foto: Getty Images)

 

Em tempos de pandemia do novo coronavírus, todo cuidado deve ser redobrado. E isso se aplica também à higienização dos alimentos, uma vez que, principalmente aqueles que são comidos crus – como frutas e hortaliças -, carregam em si sujeiras e organismos que podem ser prejudiciais à saúde.

Mas como higienizar esses alimentos de maneira mais recomendada e segura? Lavá-los apenas em água corrente não é a resposta. “Com a água, você retira praticamente 90% das sujidades, mas não livra completamente o alimento da contaminação”, afirma Maurício Bonatto, engenheiro de alimentos e doutor em Engenharia e Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Com base em protocolos oficiais dos órgãos de saúde do Brasil, o professor afirma que uma colher de sopa de hipoclorito de sódio – a famosa água sanitária – diluída em 1 litro de água já é um processo eficaz para anular a carga microbiana presente na superfície dos alimentos.

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Segundo a cartilha sobre água sanitária lançada pelo Conselho Federal de Química (CFQ), o passo a passo recomendado é: higienizar o alimento com a solução de hipoclorito; manter os alimentos na solução clorada de 15 a 20 minutos; e realizar o enxágue adequado de modo que não fiquem resíduos do produto nos alimentos.

Bonatto alerta que não é necessário secar o alimento após o processo, já que o método pode ser mais uma possível fonte de contaminação. Caso seque o alimento, faça-o com um tecido ou pano limpos.

Por que lavar os alimentos?

 

Lavar corretamente os alimentos diminui as chances de se contrair doenças por microrganismos (Foto: Reprodução/congerdesign/Pixabay)

 

De acordo com a Anvisa, não há nenhuma evidência que o novo coronavírus possa ser transmitido por alimentos. Porém, para além da Covid-19, a higienização adequada dos alimentos é altamente recomendada para anular, ou pelo menos diminuir drasticamente, a ação de microrganismos presentes em suas superfícies.

Alguns desses microrganismos, como as bactérias do tipo Vibrio cholerae, causadoras da cólera, ou Salmonella, causadoras da salmonelose, podem ser encontradas nos alimentos e causar problemas como diarréias, vômitos e até a morte. “É fundamental as pessoas terem o conhecimento sobre como higienizar os alimentos que vão ser ingeridos”, diz Bonatto.

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Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, há mais 250 tipos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) no mundo, em que a maioria são infecções causadas por bactérias e suas toxinas, vírus e demais parasitas.

No Brasil, a vigilância epidemiológica das DTA monitora os surtos dessas doenças. Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) disponibilizados pelo Ministério da Saúde, são notificados em média, por ano, 700 surtos de DTA, com 13 mil doentes e 10 óbitos.

Esponjas, receitas caseiras, vinagre, limão…

Para tentar retirar a sujeira, microrganismos e agrotóxicos, a esponja de cozinha é muito utilizada. Porém, o doutor em Engenharia e Ciência de Alimentos Maurício Bonatto alerta que o uso não é recomendado.

Ele explica que os alimentos adquiridos já vem com uma certa carga microbiana e que, no momento que se utiliza a esponja, essa carga pode ser multiplicada. “Aumenta-se o grau de contaminação pelo uso da esponja. Alguns microrganismos que estão nela podem passar para o alimento’’.

Assim, além de ser uma fonte de contaminação, o objeto poroso também promove um fenômeno chamado contaminação cruzada. “É uma contaminação que você adquire lavando os utensílios da cozinha e acaba passando para o alimento quando utiliza a esponja contaminada. Nesse caso, não é ideal usá-la, mesmo que com detergente neutro ou outros tipos”, assegura. 

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Outro alerta tem relação com as receitas caseiras: o uso de vinagre e limão até pode reduzir alguns tipos de microrganismos, mas não é possível eliminá-los em sua totalidade. Preparados com sal também não funcionam, pois há microrganismos que são resistentes a ambientes com alta concentração de sal.

“Muita gente que tenta ter um estilo de vida mais sustentável acha que dá para fazer esse molho com vinagre ou bicarbonato, e não dá. Eles não têm poder de matar essas substâncias”, relata Cristal Muniz, dona do blog Uma Vida Sem Lixo, que busca dar dicas pelas redes sociais sobre uma vida mais sustentável. 

Alimentos com polpa

 

Não há necessidade de se higienizar a banana, assim como não é recomendado armazená-la na geladeira (Foto: Thinkstock)

 

Quando há o consumo de frutas e outros alimentos em que somente a polpa é ingerida, não não há necessidade de se fazer a higienização. “Se fizer, pode ocorrer a chance de até contaminar o alimento. Utiliza-se a água como um meio de transporte do microrganismo para aquele alimento”, exemplifica Bonatto.

Após as compras, Cristal Muniz acaba deixando certos alimentos isolados, tanto para evitar o coronavírus quanto para não estragá-los. Ela cita como exemplo a banana, fruta em que geralmente não se come a casca.

Armazenamento

 

A refrigeração auxilia na desacelaração da atividade microbiana, dando maior tempo de prateleira aos alimentos (Foto: Divulgação)

 

Tão importante quanto a higienização dos alimentos é guardá-los e conservá-los de maneira correta – caso o consumo não for imediato. Armazenar frutas, legumes e verduras em um ambiente refrigerado reduz o potencial microbiano.

Em geral, esses alimentos apresentam grande quantidade de água na composição, fazendo que com que sejam altamente perecíveis. Assim, a baixa temperatura da geladeira desacelera as reações bioquímicas realizadas pelos microrganismos na deterioração dos alimentos.

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Mas nem tudo é regra: há frutos que não podem ser guardados na geladeira, como a banana. A fruta, em específico, é sensível à refrigeração e deve ser mantida fora do refrigerador.

Uma das dicas compartilhadas tanto pelo engenheiro de alimentos quanto Cristal Muniz, do blog Uma Vida Sem Lixo, é congelar uma fruta maior para que suas propriedades sejam mantidas por mais tempo. “Se eventualmente for uma fruta muito grande, corto e deixo uma parte no congelador para não perdê-la. É uma dica legal para ocupar menos espaço na geladeira e comer melhor”, garante Cristal.

Cuidados extras

 

Deixar os alimentos em solução de água sanitária por 15 minutos garante redução de carga microbiana (Foto: Getty Images)

 

Os alimentos orgânicos também devem ser higienizados da mesma forma que aqueles produzidos de outra forma. Porém, ao contrário do que se pensa, não há como retirar os agrotóxicos presentes nos não orgânicos com a higienização comum.

“A questão dos agrotóxicos é que eles não ficam apenas na superfície: o contato com a superfície faz com que haja uma migração de muitos desses componentes químicos para o interior do alimento”, observa o professor da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) Maurício Bonatto.

Assim como as frutas, legumes e verduras, os ovos e carnes também devem receber cuidados especiais, mas de maneira diferente. Bonatto explica que o ovo possui uma casca porosa que contém vários microrganismos. Porém, quando lavado, eles podem adentrar no alimento e contaminá-lo.

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Além desse cuidado, recomenda-se não deixar a cartela de ovos na porta do refrigerador, local em que há contato com a parte externa, o que influencia de forma negativa na qualidade. Logo, os ovos devem ser guardados no interior da geladeira, em que a variação de temperatura é menor.

As carnes também não devem ser lavadas em casa antes de serem preparadas, já que apresentam elevada quantidade de água e são extremamente perecíveis, ou seja, sujeitas à ação de microrganismos. Quando lava-se a carne, há risco de contaminação. “Ela já tem a sua atividade de água natural e sua carga microbiana natural. lavar faz com que o microrganismo de fora entre nas células do tecido animal”, diz Bonatto.
Source: Rural

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