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Roberto Lunardelli, da Fazenda da Mata Orgânicos (FDM), de Neirópolis, próximo a Goiânia (GO) (Foto: Divulgação)

 

O publicitário Rafael Coimbra se tornou agricultor em 2015 . A partir de uma pequena horta para consumo pessoal na fazenda da família, localizada em Santa Cruz da Conceição (a 178 quilômetros da capital, São Paulo), ele viu oportunidade de criar um negócio. Dois anos depois, fundou a Sta. Julieta Bio, empresa que vende cestas de produtos orgânicos, cultivados em um modelo de agricultura sintrópica.

Até fevereiro deste ano, as entregas da empresa eram de 194 cestas por mês em média. Aí veio o tsunami chamado coronavírus e o comércio explodiu – no bom sentido. Em junho, as encomendas da Sta. Julieta mais que duplicaram, e as vendas mensais subiram para 445 cestas. “Vimos um aumento muito expressivo, de 52%, só no primeiro mês de pandemia (março) e não estávamos preparados. Conseguimos atender (aos novos pedidos) porque os restaurantes pararam, por causa do isolamento social, o que nos deu um fôlego para suprir essa demanda”, explica.

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Na opinião do publicitário, a busca pela segurança alimentar por parte dos clientes foi o que impulsionou o modelo de negócio em que atua. “Muitos clientes ou membros do CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura), que antes se comprometiam com três meses de antecedência, hoje fazem por seis meses,” diz.

A empresa de Rafael se tornou um exemplo bem-sucedido de economia colaborativa. Os consumidores cadastrados pagam uma mensalidade fixa para o agricultor, que consegue se programar melhor e com antecedência planta a sua lavoura. Em 30 hectares, a Sta. Julieta Bio cultiva mais de 130 itens ao longo do ano e não é a única do segmento de saudáveis que deslanchou na crise.

O publicitário Rafael Coimbra, que fundou a Sta. Julieta Bio depois de começar a plantar seu próprio alimento orgânico (Foto: Divulgação/Daniel Ferreira)

 

O que viabilizou esse "boom" nos negócios foram as ferramentas digitais. O radar da Synapcom, especialista em soluções para e-commerce, constatou a expansão dos negócios virtuais. Segundo a empresa, no segundo bimestre deste ano (março e abril), as vendas on-line do setor cresceram 160%. Já no terceiro bimestre (maio e junho), houve elevação de 52% em relação ao período pré-pandemia.

A Synapcom relata que, em março deste ano, a empresa líder no setor de alimentos naturais e orgânicos no mercado brasileiro registrou aumento de 454% nas vendas depois que ingressou nas plataformas de e-commerce em comparação com fevereiro, quando vinha de uma queda de 54%. Em abril, as vendas cresceram 145%; em maio, 120%; e, em junho, 125%. Segundo a Synapcom, a elevação se deve a dois fatores: busca por alimentos mais saudáveis e entrada de novos produtos no portfólio on-line das empresas.

As Fazendas Klem, localizadas em Luisburgo, na Zona da Mata de Minas Gerais, região próxima às divisas com o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, registraram aumento de 20% nas vendas diretas ao consumidor por meio de e-commerce. “Este crescimento veio através de compras on-line no site da fazenda. Os consumidores passaram a ter mais contato conosco e estão interessados em saber a origem e a qualidade dos produtos”, explica o proprietário das fazendas, Juan Vargas Klem.

No início de julho, a fazenda realizou a primeira exportação de abacate orgânico (24 toneladas) para a Holanda. “Temos previsão de mais embarques de avocados orgânicos para a Europa e a expectativa é que em agosto começaremos nossos embarques de cafés orgânicos”, diz Juan.
Com uma área de 316 hectares, onde produzem abacate tropical, avocado hass, banana, hortaliças, ovos, mel, café verde e café torrado, a propriedade é 100% certificada e possui também selos internacionais para atender aos mercados mais exigentes e à certificação Rainforest.

A comercialização é feita por várias frentes através de importadores, torrefadores, e-commerce, B2B (business to business) e B2C (business to consumer). “Visamos desde vários anos atrás ao crescimento e procura por produtos de qualidade, e nosso objetivo é continuar conquistando os mercados mais exigentes, assim como já fazemos com nossos cafés orgânicos.”

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Ele conta que o maior desafio enfrentado neste ano na região da montanhosa Zona da Mata, por causa da pandemia, foi a dificuldade de contratar mão de obra para realizar a colheita do abacate e do café, cujas safras ocorrem na mesma época.

Na Fazenda da Mata Orgânicos (FDM), localizada no município de Nerópolis, a 25 quilômetros de Goiânia (GO), a pandemia chegou no momento em que a empresa concluía a sua primeira expansão para conquistar novos mercados. As vendas da FMD quase dobraram diante do novo cenário de consumo. A média, que era de 5 mil itens diários no bimestre maio-junho de 2019, em igual período deste ano saltou para 9.500 itens por dia.

“Somos uma empresa com três anos de produção, mas já nascemos com o propósito de larga escala e ser acessível a todas as classes, mas as vendas estão superando as expectativas. Estamos consolidados em todo o Centro-Oeste (mais de 60 pontos de vendas em Goiás, Brasília e Tocantins). A próxima ampliação já está na rota, para aterrissarmos em outras regiões, como o Sul e o Sudeste”, conta, orgulhoso, o fundador e proprietário, Roberto Lunardelli, que em julho firmou parceria com a plaforma digital SIM Alimentos, de Goiânia, para atender também ao delivery residencial.

De maneira geral, ao mesmo tempo em que cresceu a necessidade de produtos frescos, cresceu a procura por produtos de vida útil mais longa, para evitar a volta constante aos supermercados

Claube  Cobi Cruz, diretor da Organis

Em março deste ano, a FDM recebeu a certificação de Empresa B, que mede seu impacto socioambiental e se compromete de forma pessoal, institucional e legal a tomar decisões considerando as consequências de suas ações na comunidade e no meio ambiente no longo prazo. “Foi um processo duradouro. Fomos incansáveis porque acreditamos que o mundo dos negócios bem-sucedidos, daqui para a frente, será amparado em boas práticas socioambientais. Não dá mais para existir visando apenas ao lucro”, ressalta Lunardelli.

As redes sociais, grupos de WhatsApp e e-commerce ajudam a impulsionar o setor, segundo a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis). A entidade, que atua na divulgação de seus associados e no fomento da produção orgânica no país, viu muitos dos associados triplicarem a produção, e a entrega de cestas mais do que duplicou com as vendas on-line e o delivery.

O diretor da Organis, Claube Cobi Cruz, conta que MN Própolis, empresa de Mogi das Cruzes (SP), que produz mel e própolis orgânico, mais que dobrou os embarques de própolis nesse período e a Vapza, empresa pioneira em alimentos orgânicos cozidos a vapor e embalados a vácuo, teve alta de 80% nas vendas. “O que aconteceu, de maneira geral, ao mesmo tempo em que cresceu a necessidade de produtos frescos, cresceu a procura por produtos de vida útil mais longa, para evitar a volta constante aos supermercados”, explica Cobi.

A Fazenda Sta. Julieta Bio é um exemplo do modelo de economia colaborativa, em que os consumidores cadastrados antecipam compras de orgânicos (Foto: Divulgação)

 

Outro sinal do aumento no interesse pelos produtos, segundo a Organis, foi o número de acessos ao site da associação, que ultrapassaram 20 mil visitas por mês. A Organis está desenvolvendo a Unir Orgânicos, uma plataforma virtual, em parceria com a iniciativa privada, em que produtores de orgânicos de todo o país poderão se cadastrar gratuitamente, depois de uma verificação dos dados. “Você vai poder saber quem produz o quê, em tempo real, e onde podem ser encontrados. Dentro de dois meses, entraremos na fase beta desse projeto, que tem uma missão robusta de unir o setor em algo que ainda está muito frágil: varejistas em busca de novos produtos e produtores que não conseguem escoar”, explica Cobi.

Embora muitas empresas tenham experimentado um crescimento expressivo no período de pandemia, as vendas de orgânicos no varejo também acompanharam a curva dos produtos convencionais, especialmente em junho. Alex Lee, produtor com distribuição em mais de 800 lojas de varejo e conselheiro da Produce Marketing Association (PMA) Brasil, entidade mundial que representa o setor de FLV, diz que o início do isolamento social, em março, elevou em cerca de 40% as vendas de orgânicos no varejo e se sustentou até abril, ainda que de maneira mais tímida.

Segundo ele, em maio, pela primeira vez em 15 anos houve retração na demanda pelos produtos da empresa. “As vendas caíram surpreendentemente 20% em relação ao período anterior à pandemia, o que nos colocou em sinal de alerta”, conta. Em junho, o resultado foi ainda pior: as vendas caíram mais 20%, colocando a companhia num patamar de vendas semelhante ao de três anos atrás", diz Alex Lee.

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Ele conta que foi um retrocesso realmente muito grande."Tivemos de jogar produto fora ou doar. Em julho, as coisas parecem estar retomando ao normal: houve um aumento de 20% em relação a junho", diz Lee, que prevê uma lenta recuperação nas vendas da empresa só a partir do ano que vem.

O produtor acredita que, embora não faça parte desse movimento, a entrega de cestas, como o CSA, veio para ficar. “É uma forma justa de entrega, o produtor tem a possibilidade de atender ao consumidor pessoalmente, o consumidor tem a possibilidade de comprar um produto que não tinha acesso anteriormente e, ao mesmo tempo, uma comodidade muito grande de receber e auxiliar esses agricultores que não têm a oportunidade de colocar seus produtos no mercado. A gente entende que, quando o setor cresce, todo mundo cresce junto.”
Source: Rural

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