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(Foto: Getty Images)

 

O preço do leite captado em julho e pago ao produtor em agosto subiu 10,5% em relação a julho, cotado a R$ 1,9426/litro na “Média Brasil” líquida, um valor recorde na série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). O segundo maior era de R$ 1,7815/litro, registrado em agosto de 2016, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de julho/20).

A pesquisadora Natália Grigol, do Cepea, observa que no acumulado deste ano o preço do leite apresenta alta real de 42,9% na “Média Brasil”. O avanço foi acentuado entre os meses de junho e agosto, quando os valores subiram 40,1%.

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Segundo ela, a valorização do leite ao produtor esteve atrelada à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima. “A concorrência acirrada, por sua vez, está relacionada à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos, em um momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda.”

A pesquisadora observa que existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção. “Nesse período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste.”

No entanto, diz ela, neste ano a situação foi agravada por três fatores: pelas condições climáticas mais severas, que impactaram a retomada da produção leiteira (com destaque para a estiagem no Sul do País), pelo aumento nos custos de produção em relação ao ano anterior e pelos efeitos encadeados associados à pandemia de Covid-19.

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Natália Grigol lembra que normalmente as indústrias empenham esforços em compor estoques antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores. “Contudo, em abril deste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo nos médio e longo prazos diante da pandemia aumentaram o nível de incertezas e fizeram com que indústrias diminuíssem seus investimentos em estoques.”

A pesquisadora aponta que o consumo de lácteos se recuperou em maio e até se aqueceu nos meses posteriores, ancorado nos programas de auxílio emergencial, contexto que reduziu ainda mais os estoques. Diante disso, diz ela, os preços dos derivados lácteos seguiram avançando em julho e também na primeira quinzena de agosto. “O maior destaque é o queijo muçarela, derivado que registrou preço médio mensal recorde em julho – e que deve ser superado também em agosto.”

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A competição pela compra da matéria-prima e a baixa disponibilidade de leite resultaram em aumento das cotações no campo. O valor do leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais saltou de R$ 2,24/litro na primeira quinzena de julho para R$ 2,75 na segunda quinzena de agosto, expressiva elevação de 22,6%.

A média mensal de agosto no mercado spot, de R$ 2,66/litro, superou em 12,2% a de julho e em significativos 68,1% a de agosto de 2019, em termos reais – esse é também o maior valor da série histórica do Cepea, iniciada em julho em 2004.

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Ela destaca que seria correto compreender que, com preços mais altos, a ampliação do fornecimento de concentrado e silagem seria estimulada, até que o volume de leite ofertado se equilibre à demanda – o que, por sua vez, poderia segurar o avanço nos valores do leite. “De fato, essa resposta da produção tem ocorrido – conforme apontam os dados do ICAP-L, houve alta de 5,9% na captação de junho para julho. Entretanto, ao aumento da oferta tem ocorrido de forma mais lenta neste momento, devido aos efeitos desencadeados pelas incertezas no início da pandemia.”

Segundo a pesquisadora, a atípica queda de preços ao produtor em maio, a própria defasagem temporal no repasse das condições de mercado ao produtor (característica da cadeia do leite) e o aumento dos custos de produção em 2020 deixaram pecuaristas mais cautelosos – muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. “Essas ações dificultaram a retomada do crescimento da produção, já que a atividade leiteira é diária e seu planejamento tem efeitos tanto imediatos quanto nos meses posteriores.”

(Foto: Divulgação)

 

 
Source: Rural

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