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(Foto: Emiliano Capozoli/Ed.Globo)

 

A crise de imagem que atinge o agronegócio brasileiro devido ao avanço do desmatamento ilegal no país tem levado os bancos nacionais a redobrarem a atenção com passivos ambientais em suas análises de risco de crédito.

Com uma carteira de crédito rural de mais de R$ 8,7 bilhões e 55,7% do mercado no Brasil, Itaú, Bradesco e Santander reconheceram a importância de contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia e anunciaram um plano com dez medidas, incluindo “incorporar os impactos das mudanças climáticas nas políticas de crédito e investimentos de longo prazo”.

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“Todos os grandes bancos hoje têm departamentos de risco socioambiental e alguns bancos médios também. Inclusive, já há vários fóruns, incluindo um exclusivo sobre agronegócio, onde esses bancos se reúnem e trocam experiência”, conta Christopher Wells, superintendente de riscos socioambientais do Santander.

Segundo Wells, os riscos envolvidos na concessão de crédito para produtores com irregularidades na área ambiental são inúmeros. Incluem não só danos à imagem do banco, mas multas que comprometem a capacidade de pagamento do devedor e problemas relacionados diretamente à venda da produção, dado que muitas empresas possuem políticas próprias de sustentabilidade. “Aquela receita que ele esperava pode ser menor ou pode ser que ninguém compre dele”, explica Wells.

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Para Teca Vendramini, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), a preocupação dos bancos em relação à questão ambiental foi acentuada no Fórum Econômico Mundial de Davos, no início de 2020.

“Eles já voltaram dali com uma preocupação muito grande. Depois, o que a gente está vendo é uma cobrança externa muito grande, até podendo parar de exportar para alguns países por esse motivo. Por isso, os bancos se reuniram para tomar em conjunto uma atitude efetiva”, conta a pecuarista.

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Teca é a única representante do setor agropecuário no chamado Conselho Consultivo Amazônia. “O conselho funcionará com um grupo de especialistas renomados, responsável por dar o respaldo necessário as nossas propostas para o desenvolvimento sustentável da região Amazônica”, afirmou, em nota, o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial.

Também participam do colegiado Adalberto Luís Val, biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Adalberto Veríssimo, co-fundador do Imazon, um dos principais centros de pesquisa da Amazônia; André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); o cientista Carlos Nobre, estudioso das mudanças climáticas; o empresário manauara Denis Minev, presidente das Lojas Bemol; e a bióloga e ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira.

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Segundo Rial, o conselho deverá se reunir a cada três meses e utilizar sua experiência para ajudar os bancos a “subir a régua propondo ações e metas desafiadoras, que provem ser possível gerar riqueza para o país e beneficiar a população local sem sacrificar nossa biodiversidade e recursos naturais”.

Convidada recentemente para integrar o grupo, Teca revela que ainda que houve apenas conversas iniciais, mas se mostra otimista com a iniciativa. “É melhor você estar presente para conversar do que não tentar. Estou chegando super positiva para levar os pontos do setor, querendo um diálogo e aproveitando a oportunidade de construir com os outros membros. O produtor segue muito o Código Florestal e é importante levarmos à mesa a necessidade de se seguir a lei e acompanhar o código”, aponta a presidente da SRB.

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Frigoríficos

 

A ideia é que o conselho inclua representantes de outros setores do agro, como os frigoríficos. Segunda maior produtora de carne bovina do mundo, a Marfrig afirmou que “participará ativamente” da construção do colegiado.

“Para que a gente tenha uma pecuária efetivamente mais sustentável, que possa acertar arestas do que ainda não estão ok, é fundamental que haja recurso”, explica Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação da companhia. Na avaliação do executivo, fornecer subsídios para que o produtor se torne mais sustentável também é uma forma de acabar com o mercado marginalizado de produção irregular.

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“Se a gente não compra desse produtor que faz da forma errada, outro frigorífico vai comprar e isso faz com que sempre haja um mercado paralelo fora das conformidades. É importante que os bancos façam esse tipo de ação [concessão de crédito], porque isso vai desestimular que os frigoríficos comprem carne de produtores que estão fora de legalidade”, avalia Pianez ao lembrar que até 70% dos produtores brasileiros dedicam-se à atividades de cria (venda de bezerros) e recria (venda de boi magro). 

“Existe uma quantidade enorme de pequenas propriedades, com baixo recurso e baixo manejo de qualidade do pasto. Não tendo recurso, ele não consegue manejar bem o pasto e acaba indo para mata nativa. Por isso que, com a ajuda dos bancos e o conselho temos que atuar nas duas frentes, que é entender a realidade do produtor para ajudá-lo e, ao mesmo tempo, esgotar a fonte que supre os frigoríficos ilegais”, explica o executivo.
Source: Rural

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