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(Foto: Getty Images)

 

Um dos principais concorrentes do Brasil na exportação de carne para a China, a Argentina tem adotado protocolos de controle e prevenção à Covid-19 que impedem a exportação ou mesmo a venda no mercado interno de produtos de origem animal produzidos em unidades com casos confirmados de coronavírus.

Embora não conte com um protocolo nacional para a doença, as medidas adotadas para a segurança dos funcionários dos órgãos de fiscalização do governo determinam a suspensão das atividades de inspeção quando são identificados casos positivos, o que resulta na interrupção temporária das exportações.

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Desde o início da pandemia, dez frigoríficos argentinos tiveram as exportações interrompidas para a China, todos de forma voluntária, segundo informações divulgadas pela Adminsitração Geral de Alfândegas do país asiático (GACC, na sigla em inglês). Desse total, metade já obteve a reabilitação e está exportando produtos com uma declaração sanitária adicional.

A situação no país contrasta com a enfrentada pelo Brasil, cujas habilitações de oito frigoríficos foram suspensas, cinco por parte das autoridades e três de forma voluntária. Mas, até agora, só uma empresa retomou os embarques para a China.

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“O Brasil tem se mostrado resistente ao fechamento de plantas. Chegou a receber sugestões chinesas para suspender a exportação de diversas unidades e, de todo modo, não o fez”, explica Rafael Tardáguila, analista e diretor do boletim Faxcarne. As medidas chinesas de controle e prevenção à Covid-19 têm gerado desconforto entre a indústria de proteína animal no Brasil, que resiste em testar e certificar que o produto está livre de Covid-19.

No início deste mês, contudo, a China reportou um resultado positivo para Covid-19 em uma carga de asas de frango do frigorífico Aurora de Xaxim (SC). A cooperativa levou 12 dias para anunciar a suspensão dos embarques ao pais de forma voluntária – e, ao fazê-la, justificou ser uma forma de "dar conforto" aos chineses até que o caso seja esclarecido.

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Se estivesse na Argentina, contudo, a cooperativa poderia ter deixado de exportar para a China antes mesmo de ocorrer o episódio com o lote de asas de frango enviado ao país asiático. Afinal, já havia registrado mais de uma centena de casos de Covid-19 entre seus funcionários, tendo notificado o afastamento de 10 trabalhadores diagnosticados com a doença nove dias antes do anúncio chinês.

Isso ocorreria porque a resolução publicada em abril pelo Serviço de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) prevê a suspensão imediata das inspeções sanitárias quando há um caso confirmado da doença.

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“A existência de um caso confirmado de coronavírus (Covid-19) implicará a imediata suspensão do serviço no setor ou em todo o estabelecimento ou local, dependendo do grau de isolamento da área onde o pessoal afetado desempenhava as suas funções”, apontam as normas de segurança da Senasa.

Segundo o órgão, a Argentina e a China têm ainda um protocolo sigiloso com medidas a serem adotadas quando são encontrados casos da doença em frigoríficos exportadores. “Há um protocolo com a China para o tema da Covid-19, mas há um acordo de confidencialidade sobre este tema”, afirmou Carlos Chichizola, porta-voz da Senasa.

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No caso brasileiro, o Ministério da Agricultura afirma que o protocolo adotado com a China é a Portaria Conjunta nº 19, publicada em junho deste ano. A norma contudo, foi criticada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e sindicatos por permitir inconformidades com as orientações sanitárias para manejo clínico da Covid-19, como a possibilidade de distanciamento inferior a um metro entre trabalhadores e a dispensa de testagem em massa para retomada das atividades em unidades com foco da doença.

Com isso, enquanto as entidades representativas de trabalhadores do setor apontam situação crítica em cinco empresas do país, no Brasil, representantes da indústria apontam o cenário inverso: apenas cinco frigoríficos até agora não registraram casos da pandemia.

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“A diferença entre a abordagem que um governo e outro está fazendo perante a pandemia é, entre outras, a falta de diálogo social”, avalia Gerardo Iglesias, secretário geral da União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA).

Ele explica que o modelo argentino para controle da doença no setor tem sido realizado a partir de câmaras setoriais formadas por indústria, sindicato e governos para estabelecer medidas de acordo com as particularidades de cada frigorífico.

Você pode ter o melhor protocolo, mas se não tiver capacidade de fazer aplicar esse protocolo e de monitorá-lo, não adianta. Na Argentina, os delegados do sindicato atuam dentro dos frigoríficos e, se há um problema, eles têm capacidade de mandar parar a operação se for preciso

Gerardo Iglesias, secretário geral da UITA

Nos resultados comerciais dos dois países, embora ambos apresentem crescimento nas exportações e o volume embarcado pelos argentinos seja pequeno comparado ao exportado pelo Brasil à China, o país tem atraído investimentos chineses no setor de proteína animal e estima poder alcançar uma produção de até 9 milhões de toneladas de carne suína com a ajuda dos chineses, 14 vezes mais do que o registrado atualmente.

“Mais do que um risco, essa situação é uma ameaça para o Brasil. Atualmente, a China é muito dependente das exportações brasileiras de carne, mas essa dependência não deve durar para sempre”, ressalta Tardáguila.

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Source: Rural

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