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Gordon Butland: "O Brasil vai ter que achar uma forma de satisfazer os chineses" (Foto: Reprodução)

 

Se agir de forma rápida e eficiente para identificar o problema e comprovar aos chineses que a carne brasileira é segura, o Brasil não deve enfrentar grandes dores de cabeça nas exportações para a Ásia, mesmo após os jornais chineses terem reportado contaminação no frango nacional. Sócio da G&S Agriconsultant, consultoria tailandesa especializada em avicultura que presta serviços a clientes brasileiros, como bancos e instituições financeiras, Gordon Butland explica que não há saída que não a de comprovar que as plantas locais estão livres de Covid-19.

Ele rebate o argumento de que a exigência de testagem da carne seria pouco razoável e lembra que os demais países da Ásia observam o desenrolar do problema. Butland afirma que muito provavelmente a China vai tentar negociar preços com o Brasil, mas destaca que os brasileiros têm força e competitividade suficientes para se impor nas negociações. E lembra que a China vive um déficit de proteína após os efeitos da febre suína: “A China tem um problema que é a necessidade de proteína”, disse ele. “Tem todo o interesse em procurar soluções também”, apontou.

Globo Rural: A notícia de que o frango brasileiro pode estar contaminado com Covid-19 tem potencial de afetar as exportações brasileiras para a China e para a Ásia no geral?
Gordon Butland: Acho que não afeta de forma imediata o volume (de exportações) que sai do Brasil. Na China há um déficit de 25 milhões de toneladas de carne suína, por conta da peste suína. Não tem suíno no mundo (para exportação) para compensar isso. A China tem um problema que é a necessidade de proteína, assim como Vietnã e Filipinas. Ela tem todo o interesse em procurar soluções também. Ela vai tentar ter uma vantagem comercial. Isso é normal nessa parte do mundo. Se eles têm uma maneira de baixar o preço de um produto, vão tentar. Isso não é algo criado pelo Covid, isso é milenar. Não acho que vá causar pânico, mas o Brasil vai ter que achar uma forma de satisfazer os chineses. E os outros países vão olhar qual será a solução que o Brasil vai dar para a China.

GR: O senhor acredita que isso pode causar um efeito cascata na Ásia?
Butland: Todo mundo está a par da situação. Tenho absoluta certeza que as autoridades sanitárias vão olhar o caso da China para ver qual é a origem em termos de contaminação da embalagem. Vão ver a reação da empresa. Isso começou com o salmão da Europa e o fornecedor provou que não poderia estar na empresa (a fonte de contaminação). Agora acharam no camarão do Equador. Se terminar assim, não vão ter o que comer. Não é o fim do mundo, mas é um assunto que precisa ser analisado e achar uma solução que seja satisfatória para a China.

Muito brasileiro acha que estão fazendo isso para baixar o preço. Não. Eles vão tentar. Mas não estão criando problema só por criar problema" (Gordon Butland, consultor)

 

 

GR: Como o Brasil pode satisfazer os chineses?
Butland: Até agora a ABPA saiu, até certo ponto, na defesa da produção brasileira, mas não pode dizer que esse acontecimento não é um problema. Vão ter que trabalhar com a empresa. Tem que fazer barulho sobre a solução, tem que dizer: testei tantas toneladas e não estou achando nada. Se fosse eu, convidaria a China para ver o trabalho que é feito. A indústria tem que ser proativa. E as grandes cooperativas que são fornecedoras para a China também. Todas as companhias brasileiras que têm mercadoria pronta para embarcar, eu faria teste. Eu não iria correr o risco de ter minha empresa listada com problemas. Nessa semana que vai entrar, queremos saber o que de fato o Brasil está fazendo como reação imediata. Mas ficaria muito desapontado se não testarem o produto que eles têm pronto para exportar.

GR: Existe uma reclamação do setor sobre as novas exigências chinesas, de que elas não seriam razoáveis.
Butland: Sei que toda a indústria – bovina, suína, aves – está negociando com os chineses porque o chinês quer uma certificação. Os brasileiros acham que não é razoável. O que é e o que não é razoável durante uma pandemia? A carne brasileira hoje leva 42 dias no mar. Você tem que ir de Chapecó para o porto, embarcar. Você está falando de 50 e tantos dias. Na gripe aviária, ficava dentro da carne por um ano, congelada. Mas o Covid…não esperava um ciclo tão longo, por tudo que se lê. Espero que esteja na embalagem. Eu não vejo muita alternativa ao Brasil, tem que fazer alguma coisa. Não pode simplesmente dizer que “este é um problema que vocês (China) têm que resolver”. Vai ter que achar uma maneira de testar e mostrar que não tem problema.

GR: Qual é o tamanho do poder de barganha do Brasil na relação com a China para evitar exigências que  não sejam razoáveis ou o uso geopolítico da situação, como uma forma de barganhar preços?
Butland: Muito brasileiro acha que estão fazendo isso para baixar o preço. Não. Eles vão tentar. Mas não estão criando problema só por criar problema. O que realmente afetou os preços foi a taxa cambial, deu uma vantagem para o Brasil. Referente a Tailândia e a alguns países daqui, o Brasil é o “price leader”. O Brasil baixou os preços em abril, maio, junho. E todos os outros têm que acompanhar. E não têm as mesmas condições do Brasil. Milho na Tailândia é 40% mais caro do que no Brasil. Não conseguem chegar nem perto. O Brasil tem tanta competitividade e é um bom produtor, o preço não é problema para o Brasil.
Source: Rural

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