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(Foto: AFP)

 

Firmado há mais de uma década, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da indústria frigorífica junto ao Ministério Público Federal (MPF) comprometendo-se a não adquirir animais oriundos de fazendas associadas ao desmatamento ilegal já soma 32 empresas das 40 presentes no Pará.

Ainda assim, a ferramenta não tem sido suficiente para conter o desmatamento na Amazônia. Com o aumento da fiscalização provocada pela união entre poder público e privado para coibir a pecuária ilegal, essas fazendas irregulares têm desenvolvido formas de burlar os sistemas de rastreamento das empresas, prática conhecida como “lavagem de gado”.

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“Existem relatos de que problemas com a origem do gado continuam presentes entre alguns dos frigoríficos que assinaram um acordo”, aponta um relatório elaborado pela Anistia Internacional sobre a relação entre a pecuária e o desmatamento na Amazônia.

A ONG compilou dados da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron) obtidos pela Anistia Internacional. Eles indicam que, em abril deste ano, havia 1.502 fazendas de gado bovino registradas situadas em áreas protegidas do Estado, um aumento de  33% ante o observado em novembro de 2018.

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Ainda de acordo com as informações do Idaron, 93% dos bovinos (82.882) transferidos dessas fazendas em 2019 foram encaminhados para outra fazenda com a finalidade de engorda ou reprodução.

A partir da análise dos dados obtidos, a Anistia Internacional constatou que, em 2019, a JBS comprou gado bovino de áreas ilegais em pelo menos três oportunidades. As constatações, segundo o estudo, coincidem com as de investigações oficiais MPF em 2016 e 2017 e que apontaram inconformidades em 16% e 8% dos animais auditados, respectivamente.

Questionada, a JBS afirmou que “não compra gado de nenhuma fazenda envolvida com irregularidades em áreas protegidas”. “Nosso sistema de geomonitoramento é um dos mais sofisticados do mundo, usando os melhores e mais recentes dados para reforçar nossa abordagem inequívoca de desmatamento zero”, garante a empresa, em nota.

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Cria, recria e engorda

 

O diretor executivo da ONG Amigos da Terra, Mauro Armelin, estima que entre 80% e 85% dos animais criados na Amazônia não sejam de ciclo completo, passando por mais de uma propriedade antes de chegar aos grandes frigoríficos.

A ONG avalia que, se as empresas aumentassem a fiscalização pelo menos até a recria, que produz o boi magro, seria possível reduzir em até 60% os problemas relacionados ao desmatamento dentro da cadeia da carne no Brasil.

O que a gente precisa fazer e já é possível de se fazer é aumentar o alcance do sistema de rastreabilidade. Depois de dez anos desenvolvendo uma metodologia de análise dos fornecedores diretos, todos os frigoríficos e empresas de geomonitoramento estão totalmente capacitados para fazer essa ampliação

Mauro Armelin, diretor executivo da ONG Amigos da Terra

 

Segundo dados de auditoria independente realizada junto aos frigoríficos aderentes ao TAC da Carne e apresentadas pelo Ministério Público Federal, 5% dos animais abatidos em 2018 possuíam irregularidades relacionadas ao desmatamento na Amazônia – o equivalente a 101,9 mil animais. 

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Pressão internacional

 

A partir do cruzamento entre as imagens de satélite e as empresas envolvidas com o desmatamento em 2018, a ONG Might Earth estima que Marfrig, Minerva, JBS e Naturafrig tenham sido responsáveis pela derrubada de 1,5 mil hectares de floresta amazônica no Mato Grosso naquele ano.

“Essas três empresas assinaram, portanto, o TAC junto ao Ministério Público Federal. Consequentemente, o TAC não é um acordo suficiente para lutar contra o desmatamento”, conclui a ONG francesa Envol-Vert, em relatório onde exige o comprometimento das redes francesas Casino, controladora do Grupo Pão de Açúcar no Brasil, e Carrefour com o desmatamento zero.

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O documento aponta que há “inúmeras ferramentas que permitem traçar a rota dos animais até os fornecedores indiretos”. “Essas informações, cruzadas com dados cartográficos, dão uma boa visão da legalidade ou da ilegalidade das transações [pecuárias]”, avalia a Envol-Vert.

Somadas, as duas redes representam mais de 1.500 lojas em todo o país, com um faturamento somado de mais de R$ 100 bilhões em 2018, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

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O Grupo Pão de Açúcar diz que bloqueou 23 fornecedores entre 2016 e 2019 e já notificou as empresas citadas pela Envol-vert “para apuração dos pontos levantados no relatório”. Em nota, informou ainda que monitora todos os seus fornecedores nacionais “a fim de identificar a origem direta e garantir o cumprimento de critérios socioambientais na produção de carne in natura”.

No caso do Carrefour, a empresa afirmou que já possui ferramentas próprias para o monitoramento de seus fornecedores diretos e que trabalha no desenvolvimento de uma metodologia baseada nesses processos de controle para engajar fornecedores e redes de varejo regionais no combate à irregularidade entre seus fornecedores indiretos.

“Apesar de ser um trabalho difícil, a gente entende que, como conseguimos estabelecer um processo de compra com análise direta no dia a dia, a gente consegue estabelecer isso para a cadeia indireta e fortalecer o bloqueio dessa origem ilegal”, conclui o executivo.

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Reação dos frigoríficos

O aumento das cobranças internacionais sobre a participação da indústria de proteína animal no desmatamento da Amazônia e outros biomas, como o Cerrado, tem causado reações por parte do setor. Em julho deste ano, a Marfrig anunciou um plano para eliminar o desmatamento da sua cadeia de fornecimento nos próximos dez anos, com um investimento de R$ 500 milhões.

“Muitas das ações serão simultâneas e interconectadas, e pressupõem um trabalho em rede, parcerias com associações representantes de pecuaristas, organizações da sociedade civil e academia, além de uma atuação conjunta com o Ministério Público”, afirmou a empresa, em nota.

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No caso da Minerva,  a empresa disse que está há duas semanas testando a adoção de um sistema de rastreamento. Segundo o gerente de sustentabilidade da empresa, Taciano Custodio, a ferramenta permitirá mapear o risco ambiental envolvido entre seus fornecedores indiretos antes de elaborar um plano de eliminação do desmatamento em sua cadeia de fornecimento.

“Nosso plano é medir o risco da nossa cadeia, ver onde ele está e vir eliminando esse risco. A partir de seis meses, talvez, podemos partir para um plano de eliminação [do desmatamento]”, explica Custodio.
Source: Rural

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