Skip to main content

(Foto: Emiliano Capozoli/Ed.Globo)

 

A tentativa de reduzir as metas de desmatamento da Amazônia, sinalizada pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Luís Biagioni, compromete a imagem do Brasil como nação preocupada com as agendas ambiental e sustentável.

A avaliação é de Eugênio Pantoja, diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Para ele, a manobra vai na contramão mundial e “desconsidera uma estratégia nacional de desenvolvimento e proteção do país em detrimento de alguns setores”, como interessados em grilagem, desmatamento e queimadas ilegais. 

saiba mais

Maioria do desmatamento na Amazônia entre 2008 e 2019 foi em propriedades rurais

 

Pantoja adiciona que a proposta também contribui para a reputação negativa do Brasil. “Coloca a credibilidade do Brasil em cheque frente ao próprio país e a investidores internacionais”, diz.

O diretor do Ipam, que acompanha diariamente as políticas públicas que envolvem a Amazônia, ainda afirma que a sugestão do Meio Ambiente encaminhada ao Ministério da Economia foi uma novidade. “Isso não está sendo público, não estava sendo divulgado e a gente sabe que o PPA [Plano Plurianual] tem as ações veiculadas, então a gente não sabe como esse pedido foi conduzido”, revela.

saiba mais

Empresariado cobra fim do desmatamento ilegal ao vice-presidente Hamilton Mourão

 

Em relação à utilização do Programa Floresta+, condicionando a proteção de 390 mil hectares na floresta amazônica, Pantoja lembra que o programa é um projeto piloto específico para a Amazônia, que exclui os outros biomas da redução de queimadas e desmatamentos ilegais. Ele o considera uma resposta imediata para aliviar a pressão internacional, mas diz que faltam medidas concretas para Amazônia e os demais biomas.

Em nota, a organização não-governamental Greenpeace também se manifestou contra a proposta do ministério comandado por Ricardo Salles. “É inconcebível que, após um ano e meio de desgoverno, sem medidas concretas apresentadas, a 'novidade' do governo seja, enfim, assumir que não irá reduzir o desmatamento nos níveis à altura da importância da floresta amazônica”.

saiba mais

Cientistas rebatem críticas do agro sobre estudo que associa carne e soja ao desmatamento

 

Uso do fogo

 

No mesmo dia em que o jornal O Estado de S.Paulo revela a manobra do secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, um estudo do Ipam denuncia que o fogo para manejo agropecuário respondeu por 36% dos focos de calor de 2019.

Apesar da prática ser legal, desde que fiscalizada pelo órgão que emitiu a permissão, ainda há risco de as queimadas perderem o controle. Estes incêndios florestais, quando o fogo entra em área de vegetação nativa, responderam por 30% dos focos de 2019, segundo o Ipam.

Uma moratória pode ajudar a controlar o fogo e evitar que a fumaça ameace a saúde da população na região, o que é recomendado em tempo de Covid-19. Mas é um remédio para tratar o sintoma, não a causa principal. Enquanto o desmatamento não for contido, o problema vai persistir

Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, em nota

Tanto a Moratória das Queimadas, quanto a entrada das Forças Armadas na Amazônia são vistas como ações paliativas. Além disso, a proposta assinada pelo secretário-executivo, Luís Biagioni, é antagônica aos próprios esforços do vice-presidente da República e presidente do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão.

“Ainda que o Mourão esteja nessa perspectiva de um discurso estruturado, isso não condiz com o que é feito na prática. O Exército está numa disfunção para mostrar uma resposta imediata, mas isso não é estruturante. O estruturante é reforçar Ibama, ICMBio, Funai, junto com a integração atuante dos Estados amazônicos, para que pudessem formar um grande arranjo contra desmatamento, grilagem”, sugere Eugênio Pantoja.
Source: Rural

Leave a Reply