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(Foto: Globo Rural)

 

As diretrizes dos Conselho Nacional de Saúde da China para a prevenção e controle da Covid-19 na indústria processadora de carne do país, publicadas na semana passada, podem gerar compromissos adicionais aos frigoríficos brasileiros habilitados a exportar para o mercado chinês. “A China não dá ponto sem nó. Provavelmente eles estão fazendo isso para depois poderem cobrar essas mesmas condições dos frigoríficos que abatem animais para exportar para eles”, observa Ana Cecília Kreter, pesquisadora e editora da Carta de Conjuntura Agro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O documento enumera uma série de regras para evitar o contágio de Covid-19 na indústria processadora de carne, com protocolos sanitários, padrões de circulação de ar, distanciamento entre trabalhadores e políticas de isolamento de casos suspeitos e confirmados. Em relação ao produto in natura, as diretrizes chinesas para o setor exigem que “além dos pedidos de ingresso e dos registros de inspeção de compra, os produtos importados de carne bovina e de aves deverão ter um ‘certificado de teste de ácido nucleico’ [para detecção de Covid-19] antes de serem produzidos nas fábricas”.

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“Isso pode, sim, gerar impactos se alguma das indústrias habilitadas tiver problemas para emitir esse certificado ou não conseguir garantir esse certificado”, aponta Yago Travagini Ferreira, analista da Agrifatto Consultoria. Ele lembra que a indústria brasileira já havia se comprometido com a China de entregar um produto livre de Covid-19 e explica que a medida adotada internamente pelo governo chinês é uma forma de documentar esses compromissos e, assim, embasar possíveis barreiras à carne brasileira. “De maneira geral, as indústrias já estão sofrendo com a Covid e as restrições que ela está causando. Gerar uma documentação sobre isso é mais algo burocrático do que algo que impacte de maneira efetiva nas exportações”, avalia o analista.

Durante participação na live sobre os impactos Covid-19 na indústria frigorífica exibida por Globo Rural, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, confirmou que a China está testando tanto a embalagem quanto a carne brasileira enviada ao país, mas destacou que não haveria “razão científica” para a medida. “Realmente, a China tem feito testes e inclusive não nenhuma razão científica para fazê-lo, porque o Covid-19 não chega pelo produto segundo um estudo que eles mesmos realizaram e ofereceram ao mundo”, ressaltou Turra.

Na opinião do analista de mercado da IHS Markit, Aedson Pereira, as medidas exigidas pela China são “severas”. “Nem a OMS e nem nenhuma outra instituição aponta que possa ter esse grau de contaminação pelo produto em si. Se uma carga sai hoje do Brasil, ela viaja quase 30 dias numa câmara frigorífica, o vírus não consegue sobreviver”, avalia Pereira. Segundo ele, a adoção da testagem em massa seria inviável para o setor. “ Fazer o teste em cada corte ou em cada lote é algo que nunca foi feito antes e que geraria um custo elevadíssimo. Estão querendo exigir uma normativa que é quase impossível de ser cumprida”, ressalta o analista.
Source: Rural

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