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(Foto: Max Pixel/Creative Commons)

 

A pandemia da Covid-19 trouxe um cenário instável para a economia mundial. A crise gerada atingiu de forma imprevisível inúmeros negócios, que precisaram ajustar suas atividades para manter o funcionamento ou, até mesmo, rever fluxos de caixa para minimizar os impactos. E este é o momento ideal para falarmos sobre a mitigação de riscos. Afinal, apesar da crise, o agronegócio não parou e, com isso, podemos refletir sobre a importância dos produtores estarem cientes sobre os riscos aos quais seus negócios estão expostos e como aproveitar oportunidades para, assim como o agro, passar por turbulências o mais protegido possível.

Embora o agro tenha sido o único setor econômico do país que registrou crescimento durante a pandemia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o isolamento social e a diminuição dos food services, muitas commodities têm enfrentado cenários desafiadores nos últimos meses, como açúcar e etanol, algodão e bebidas (café e lácteos). Mesmo com perspectivas mais positivas em relação aos setores da indústria e serviços, o cenário tende a continuar volátil nos próximos meses, com preocupações sobre a estabilidade do setor em relação às condições de trabalho, à logística e à demanda.

Sendo assim, para manter a saúde e desenvolvimento dos negócios, o produtor precisa ter uma boa organização financeira: avaliar a produtividade, os custos de produção, as oportunidades e fraquezas. Então, é hora de entender os fundamentos do mercado. Quem são os principais produtores e concorrentes, os consumidores, como o produto é precificado, qual é a oferta e a demanda. Por fim, desenvolver uma visão mais ampla, identificando as principais indústrias, tradings e cooperativas que podem contribuir com o negócio.

Com todas essas informações mapeadas, vem a parte mais importante: entender quais são os riscos e como se proteger deles. É isso que fará com que o produtor se destaque, já que, mesmo em momentos difíceis, ele terá um planejamento para manter sua produção segura. Para isso, ele pode contar com a disponibilidade de algumas ferramentas.

Olhando o mercado futuro

 

Existem algumas formas dos produtores se protegerem a médio longo e prazo. A mais popular é a negociação futura da produção no mercado físico. Nessa modalidade, o produtor fixa o preço da commodity que irá colher na próxima safra e, assim, já tem o valor das suas vendas. A negociação pode ser feita com bancos, tradings ou cooperativas. O recomendado é comercializar no máximo 70% da previsão de colheita, pois se deve considerar possíveis quebras de safra e, assim, não comprometer toda a produção.

No entanto, outra opção que vem crescendo, mas ainda é considerada certo tabu entre muitos produtores, são as operações de derivativos do mercado futuro. Com a volatilidade do câmbio, essa modalidade permite fixar o valor futuro da commodity em momentos diferentes do preço do dólar. Essas operações podem ser feitas diretamente na bolsa de valores, utilizando contratos futuros, ou com a intermediação de bancos.

Neste caso, o instrumento utilizado é o NDF (Non Deliverable Forward), ou seja, um contrato a termo de moeda, sem a entrega física do produto. Nessa modalidade, o produtor determina um preço futuro que hoje remunera suas atividades econômicas. E são essas instituições que serão as responsáveis por garantir ao produtor, por meio de mecanismos próprios, os ajustes de variações do dólar.

O mais importante disso tudo é ressaltar que as tomadas de ações não se baseiam em adivinhações. Todas as operações devem ser feitas a partir da análise de diversos dados e fatores, sempre considerando a margem de lucro da atividade como fator decisório principal. Acreditamos que os produtores devem ter cada vez mais acesso à informação e instrumentos financeiros necessários para que possam rentabilizar suas atividades, se proteger e continuar evoluindo seus negócios. Conhecer as operações de mercado futuro é abrir portas para oportunidades que podem ajudar a sair da insegurança de momento sensíveis e permitem um gerenciamento de riscos.

A instabilidade da pandemia tem assustado o produtor, mas vale recordarmos que o agronegócio, no geral, é formado por ciclos. O diferencial está em quem consegue se proteger nas baixas e tirar proveitos nas altas. O produtor não precisa temer a utilização de instrumentos financeiros e, muito menos, se desesperar ao se deparar com crises. Há caminhos para proteger os negócios e, consequentemente, permitir que evoluam com vigor. É necessário olhar para as oportunidades do mercado e lembrar que nenhum mal dura para sempre – basta estar preparado.

*Gerente de Rural Sales do Rabobank Brasil

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam necessariamente o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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