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(Foto: Reprodução)

 

 

Na terceira live da série promovida pela Globo Rural sobre os impactos da Covid-19 nos frigoríficos brasileiros, especialistas se mostraram preocupados com a dependência do setor de carnes em relação ao volume exportado para a China.

Participaram do debate, na sexta-feira (17/7), a pesquisadora e editora da Carta de Conjuntura Agro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Cecília Kreter, e o analista de pecuária da Agrifatto Consultoria, Yago Travagini Ferreira. A mediação foi do editor-chefe da Revista Globo Rural, Cassiano Ribeiro, e do jornalista Cleyton Vilarino.

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“Estamos chegando em uma situação em que dependemos quase 50% de um país em um momento de crise. Isso é um pouco preocupante no sentido da própria estrutura da produção”, afirmou Ana Cecília Kreter, do Ipea.

Segundo Yago Travagini Ferreira, da Agrifatto, o Brasil já corresponde por entre 5% a 10% da demanda interna chinesa por carnes. “É muito bom exportar para a China, é um país relevante e que compra muito. Mas a dinâmica de todo esse cenário tem se baseado muito na China, e isso é preocupante. Toda vez que a China sopra qualquer assunto lá, já vem um furacão para cá e os produtores ficam com receio”, disse.

Assista à live, na íntegra:

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Principais trechos do debate

Embargo à carne brasileira

Para o analista da Agrifatto, a suspensão das exportações temporária da carne brasileira diante da pandemia é um fator positivo para evitar problemas futuros.

“Vejo de forma positiva a antecipação e a entrada ativa do Ministério da Agricultura diante da necessidade de a gente fechar ou embargar temporariamente algumas plantas frigoríficas, até para evitar a perda da habilitação chinesa, porque o governo não está esperando o que a China deve fazer. A partir do momento em que você perde a habilitação para algum país, é mais difícil você recuperar do que suspender temporariamente”, afirmou Yago Travagini Ferreira.

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Por outro lado, a economista do Ipea acrescenta que há um risco para os embarques de produtos brasileiros por conta da dificuldade do governo em conter os níveis crescentes de desmatamento, o que impacta na imagem do País no exterior.

“Existe (o risco de embargo). Acho que, infelizmente, a gente pode estar falando da Covid-19, mas de o governo de um modo geral. Existe na Europa um abaixo assinado para boicotar os produtos brasileiros, não as carnes especificamente. E isso afetaria a produção do grande, do médio e do pequeno produtor”, avaliou.

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Mercado interno

De maneira geral, os especialistas acreditam que, embora o Brasil tenha aumentado em termos de quantidade e receita os embarques externos, principalmente para a China, há uma grande dependência do mercado interno. Isso pode ser um problema por conta da perda de renda com os impactos da crise econômica gerada pela pandemia.

“O mercado interno está, de fato, bem combalido. A proteína bovina, que é o nosso foco e gera grandes riquezas, está com muita dificuldade para avançar em termos de preço no mercado interno porque existe uma elasticidade entre a renda do consumidor e o preço no mercado. Existe essa passagem de que a população consome menos porque está com uma renda menor”, afirmou Ferreira, da Agrifatto.

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Ana Cecília, do Ipea, observa que, diferente de anos anteriores, não houve uma mudança na migração de proteínas por conta da crise. “Na questão da produção, apenas 25% é exportado (de carne bovina). Então, há uma grande dependência do mercado doméstico. O que a gente tem observado em relação às crises anteriores é que há uma substituição dessas proteínas", afirma.

Ela ressalta, ainda, que as famílias costumam consumir carnes mais baratas ou até migrar para outras proteínas, como o ovo. "Neste caso da Covid, nós ainda não vimos esse movimento, mas uma mudança de comportamento, onde as pessoas deixaram de comer fora de casa para comer em casa. Então, a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) aponta essa mudança na opção por cortes mais baratos em cerca de 40%, mas não uma redução em si do consumo de carne”, avaliou.

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Impacto negativo com a crise

Para Ana Cecília Kreter, do Ipea, embora a perspectiva para o PIB da agropecuária seja positivo, o cenário é incerto para a produção de carnes. “A gente começou o ano com uma previsão de crescimento de 1,9%, e a gente tem revisto isso todo o mês. A produção de carnes como um todo está descendo ladeira a baixo. A última estimativa que nós fizemos e vamos lançar na semana que vem, a gente observa que para todas as carnes teve uma queda. Esperamos uma recuperação no segundo semestre para tentar contrabalançar esse resultado ruim do primeiro semestre”, afirmou.

Segundo Yago Travagini Ferreira, da Agrifatto, não houve uma queda nos preços da carne bovina, mesmo em meio à crise, por conta do abate elevado de fêmeas em anos anteriores, o que reduz a disponibilidade de carne neste momento.

“O preço que não recuou foi o da carne bovina porque nós estamos passando por um processo de ciclo pecuário. Em 2017 e 2018, foram abatidas muitas fêmeas, que deixaram de gerar bezerros. E esses bezerros que deveriam estar prontos agora em 2019 e 2020, simplesmente não estão no mercado, e isso gera uma falta de animal agora. Por isso, o frigorífico está tendo que pagar a mais, e ele repassa esse aumento para o consumidor”, explicou.

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Diversificação de mercado

Ana Cecília Kreter, do Ipea, reconhece a importância das vendas para a China, mas diz que é necessário buscar outros mercado para reduzir a dependência para os chineses.

“O nosso rebanho é um dos maiores do mundo. Então, nós temos oportunidade de diversificar o nosso mercado. A China é um mercado que atrai muitos outros países porque qualquer comércio se ganha em quantidade. Os Estados Unidos, se não tivesse esse problema comercial entre os dois países, com certeza seria um importante concorrente do Brasil. Não só na produção de carnes, mas também na produção de grãos”, alerta a analista.

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Na avaliação de Yago Travagini Ferreira, da Agrifatto, o Brasil ainda pode aumentar o nível dos embarques externos. Isso, no entanto, demandaria investimento em tecnologia e adaptação às exigências sanitárias e de ciclo dos animais feitas pelos demais países.

“Todos os nossos 10 principais compradores, como Chile, Egito, Emirados Árabes e Itália, reduziram as compras. Eles estão sentindo o baque da Covid. A gente até tem uma capacidade de expansão frigorífica e também de rebanho apto para  exportar, mas depende de como esses compradores querem esses animais. Esses países exigem certos padrões, como cenário ou tempo do ciclo”, declarou.
Source: Rural

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