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(Foto: Divulgação/Funai)

 

Com 2.392 casos confirmados de Covid-19 entre indígenas no Brasil, o combate à pandemia dentro das aldeias do país enfrenta um desafio que vai além do alto índice de transmissão do vírus: a compreensão das recomendações de prevenção ao vírus. 

Com alta suscetibilidade a doenças respiratórias e hábitos socioculturais que favorecem a disseminação da doença, alguns índios ainda encontram problemas para entender as orientações do Ministério da Saúde passadas em português, dificultando o acesso a informações para enfrentar o novo coronavírus nessas comunidades.

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“A verdade é que temos ações muito pontuais em relação à saúde indígena. Não temos políticas amplas específicas para esse segmento e acabamos normatizando a saúde brasileira dentro de uma padronização da pessoa branca falante de português”, explica a professora doutora de enfermagem da Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Jucimar Frigo.

Junto com uma de suas alunas, Jucimar orientou a elaboração de um material explicativo sobre a doença na língua macro-jê, usada pelos povos Kaingang na região de fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Dia linguagem é uma barreira para entender mesmo como funciona a doença. Principalmente quando se fala em formas de prevenção e de como fazer para não pegar a Covid-19 a partir do que é passado na televisão ou orientado por enfermeiros não-indígenas

Clarisse Fortes, moradora de aldeia em Nonoai (RS) e orientanda de Jucimar

Entre os principais deslizes cometidos pelos indígenas na hora de se proteger estão o compartilhamento de máscaras e o baixo índice de isolamento. “Por que eles vão fazer isolamento se não compreendem a necessidade de isolamento? Se não sabem que a máscara é de uso individual?”, observa a professora.

Fuga do isolamento no MS

No Mato Grosso do Sul, uma iniciativa conjunta de Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, Vigilância em Saúde municipal, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, entre outras autoridades locais, chegou a isolar os primeiros casos registrados em Dourados, epicentro da pandemia no Estado.

Cerca de 30 índios foram retirados de suas aldeias e levados para uma instituição da arquidiocese local, de onde fugiram dias depois. No Estado, há 85 casos confirmados de Covid-19 entre indígenas.

O poder público fez esse isolamento na melhor das intenções, mas ninguém perguntou para essas pessoas se elas queriam ir para aquele lugar

Adriane Reis de Araújo, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do MPT

"O que eles querem é um isolamento dentro da própria aldeia, por isso é importante ouvir e encontrar a solução mais adequada para cada grupo”, reconhece a coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do MPT, Adriane Reis de Araújo. 

Na visão da procuradora do trabalho, é preciso que as ações de combate à doença sejam feitas de forma conjunta com as lideranças indígenas para garantir maior efetividade no repasse das informações. “Tudo isso só vai poder ser feito de maneira eficiente se tiver a participação do próprio indígena e das próprias lideranças para que isso seja transmitido dentro da cultura deles e, assim, seja acatado”, avalia Adriane.
Source: Rural

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