Skip to main content

Vinho da Adega Cartuxa, do Alentejo (Foto: Getty Images)

 

*Publicado originalmente na edição 414 de Globo Rural (abril/2020)

Não é difícil perceber a vocação vitivinícola do Alentejo, no sul de Portugal. As vinhas e florestas de sobreiro – árvore de onde se extrai a cortiça das rolhas das garrafas – estão por toda parte, à vista de quem desbrava a região de carro. São quase 22 mil hectares de plantações de uva, a maior parte delas de castas autóctones, que dão aos vinhos as características próprias do lugar. 

As castas típicas portuguesas mais cultivadas são aragonez, trincadeira, alicante bouschet e touriga nacional, que dão origem aos vinhos tintos, e antão vaz, síria e arinto, usadas nos brancos. Vinhos produzidos com uma dessas variedades, ou com uma combinação delas, recebem o selo de Regional Alentejano ou DOC Alentejo, conforme as normas da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), que promove o produto nos mercados português e internacional.

saiba mais

Crise do coronavírus pode aumentar preço do vinho em até 20%

 

“O Alentejo criou uma marca forte, com um vinho que é fácil de tomar, porque não é muito pesado. Pode acompanhar qualquer tipo de comida”, assegura Pedro Schmidt, gerente da quinta Paço do Conde, localizada ao sul de Évora, principal cidade da região. Dos 4 mil hectares da propriedade, 230 são de vinhas.

É com esses atributos do vinho alentejano que os produtores locais vêm aumentando sua participação no mercado brasileiro e esperam manter essa tendência, apesar das barreiras tributárias. Eles se queixam principalmente da concorrência com vinhos de países do Mercosul, que são menos taxados ao entrar no Brasil.

Dados da CVRA mostram que o Brasil respondeu por 11,41% das exportações do Alentejo em 2014. Foram 2,172 milhões de litros. Em 2019, a região dobrou essa participação, embarcando 3,586 milhões de litros para o mercado brasileiro, 20,51% do total exportado. Outros destinos importantes do vinho alentejano são Angola, China, Estados Unidos e Rússia.

Vinhedos às margens do Alqueva, o maior lago artificial da União Europeia (Foto: Getty Images)

 

O Brasil é estratégico para a Fundação Eugênio de Almeida, dona de marcas como a Cartuxa, que produz cerca de 7 milhões de garrafas por ano. A meta é chegar a 8 milhões até 2022, revela Vitor Nunes, gerente de exportação da empresa.

O mercado brasileiro representa cerca de 30% do nosso faturamento nos mercados internacionais. Faz parte dos nossos mercados estratégicos e vai crescer. É um mercado principalmente de vinho tinto

Vitor Nunes, gerente de exportação da Fundação Eugênio de Almeida

Na Casa Relvas, que exporta 70% de sua produção anual de 6 milhões de garrafas de vinho, o Brasil é o segundo principal destino, atrás da Rússia. O enólogo Alexandre Relvas considera o mercado brasileiro muito competitivo, com consumidor exigente e que gosta de um vinho fácil de beber. 

“Nossa expectativa é de um crescimento sustentado no Brasil nos próximos anos. Há perspectiva de baixa de impostos, o que seria fantástico”,  diz ele, avaliando que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia poderá dar mais competitividade.

Assim como os demais setores da economia, a vinicultura também está sofrendo o impacto negativo da pandemia de coronavírus. Mas a expectativa é de recuperação a partir da redução da turbulência pelo mundo e da retomada da confiança do consumidor, espera a entidade.

Azeite

Nem sempre as vinhas foram tão presentes no Alentejo. Mais recentemente, a criação do Alqueva, maior lago artificial da União Europeia, disponibilizou água para a irrigação e favoreceu uma diversificação que levou a região a reduzir as plantações de grãos, abrindo espaço para o cultivo de uvas viníferas, a fruticultura e a criação de gado.

Outra marca do Alentejo são os olivais, que dão suporte a 78% da produção portuguesa de azeite de oliva, segundo o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal). A principal variedade de azeitona usada na produção é a galega, presente em 80% das lavouras.

Na Herdade do Esporão, conhecida também pelos vinhos, são fabricados cerca de 1,5 milhão de litros de azeite por ano. A propriedade foi demarcada no ano de 1267 e até hoje conserva praticamente os mesmos limites. A visão da empresa é positiva para o mercado brasileiro, onde atua com uma distribuidora própria.

Apesar da alta taxa de câmbio no Brasil, nossa expectativa é continuar crescendo no mercado brasileiro. O Brasil é grande consumidor de azeite e nos desafiou a fazer um produto de qualidade

Ana Carrilho, executiva da Esporão

 

Já Luís Simões fez o caminho inverso. Brasileiro, ele foi para Portugal há 30 anos e se estabeleceu no Alentejo. Está à frente da Portugal Rural, que tem como sede a Herdade dos Gregos, uma propriedade com 250 hectares de olivais, equipada para a colheita mecanizada.
A empresa fornece azeitonas para a indústria.

“O Alentejo é privilegiado. Mercado não falta. Produção também não”, resume Simões. Ele tem planos de ampliação em Portugal, mas não pensa em investir em olivais no Brasil. “Já tenho dor de cabeça o bastante aqui”, brinca o empresário, que também é criador de gado em terras portuguesas.

 
Source: Rural

Leave a Reply