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(Foto: Rogério Albuquerque/Ed. Globo)

 

Um dos maiores produtores e consumidores de carne do mundo, os Estados Unidos vive cenas traumáticas na cadeia de suprimentos – com animais sacrificados nas granjas e produtos escassos em gôndolas de supermercados e restaurantes de fast foods. 

O calvário foi provocado pela diminuição na capacidade de abate após o fechamento temporário de quase 40 frigoríficos devido a surtos de coronavirus entre trabalhadores, desde o começo de abril.

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Com a oferta de carne reduzida no mercado interno, associada a incerteza global causada pela pandemia, projeções indicam desaceleração das exportações de carnes – que até então vinham batendo recorde.

O retrato mais cruel dos efeitos da Covid-19 na produção nos Estados Unidos é visto na criação de suínos. Com lotes prontos para o abate e sem ter para onde entregar, produtores são obrigados a sacrificar animais. Soma-se a isso a necessidade de abrir espaço para os leitões que nascem.

A medida extrema é tomada para evitar o sofrimento pela superlotação e os problemas de segurança do trabalhador com porcos muito grandes. E depois de um certo tamanho os frigoríficos não conseguem receber esses animais. A situação (eutanásia) é trágica e vai contra todo instinto do produtor

Jim Monroe, vice-presidente de Comunicação do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína

(Foto: National Pork)

 

Mesmo com a reabertura gradual dos frigoríficos em maio, após o presidente Donald Trump invocar a Lei de Proteção de Defesa para manter as plantas abertas, o banco cooperativo CoBank estima que produtores serão obrigados a sacrificar 7 milhões de suínos até o final do segundo trimestre. "Apesar dos frigoríficos estarem aumentando a capacidade de abate aos poucos, ninguém sabe quando voltaremos à capacidade total", acrescenta Monroe.

Enquanto esperam a normalização dos abates, produtores buscam maneiras de retardar o crescimento dos suínos, aumentando a temperatura das granjas para os animais comerem menos ou alterando a composição da ração para torná-la menos apetitosa.

(Foto: National Pork)

 

O Estado de Iowa, principal produtor de carne suína do país com cerca de um terço do mercado, deve sacrificar 600 mil animais até o final de junho, segundo projeções de autoridades oficiais.

"Porcos não são uma mercadoria armazenável como grãos ou ajustável como uma usina de etanol. O cronograma é biológico. Para a produção de carne suína, da fazenda ao varejo, leva-se em média cerca de 10 meses e, em seguida, novo ciclo começa com o nascimento de novos animais", explica o economista agrícola Lee Schulz, professor da Universidade do Estado de Iowa.

Concentração

 

Parte dos problemas é causada pela concentração do mercado americano, acrescenta o especialista. Cerca de 60% da carne suína produzida pelo país é processada em 15 frigoríficos.

A crise afetou principalmente produtores que geralmente enviam os animais para grandes frigoríficos, como Tyson Foods, que teve quase 6 mil trabalhadores infectados em suas unidades. Na maior unidade de processamento da compahia no país, em Waterloo, Iowa, pelo menos 1.031 de trabalhadores testaram positivo para o coronavírus ou para anticorpos da doença.

Uma grande questão de longo prazo é o impacto geral na demanda doméstica e internacional de carne suína. Outra é como a perda de renda nos locais mais atingidos pela pandemia reduzirá a demanda

Lee Schulz, economista agrícola e professor da Universidade do Estado de Iowa

Além dos prejuízos pelo sacrifício e descarte dos animais, os produtores acumulam perdas com a queda de preço do produto nos últimos meses. Desde o início do ano, o valor da carcaça paga ao criador caiu quase 40%, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).

O cenário deverá levar os produtores a perderem mais de US$ 5 bilhões neste ano, conforme estimativa do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína.
Source: Rural

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