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Para evitar o contágio pelo novo coronavírus, frigoríficos brasileiros têm reforçado a adoção de medidas de saúde e segurança, de acordo com a associação que representa o setor (Foto: Globo Rural)

 

O fechamento de frigoríficos nos Estados Unidos têm aumentado as oportunidades de acesso a novos mercados aos produtores brasileiros de carne, o que pode elevar ainda mais os embarques externos de aves e suínos. Com os americanos aumentando sua preocupação com o abastecimento interno, o espaço deixado por eles em outros mercados, como a China, por exemplo, pode representar uma oportunidade de ganho de mercado para a indústria do Brasil.

“Ao longo do ano, nós vamos ter uma demanda que está mais aquecida em função do espaço que os Estados Unidos deixou no mercado. Já vimos isso no começo de maio. Não tanto para exportar diretamente para os EUA, já que eles produzem aves e o triplo de carne suína na comparação com o Brasil. Mas pelos volumes que eles deixaram de exportar para a Ásia. São quantidades significativas, de 40% em aves e 50% em suínos”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.

Os números mostram que as exportações brasileiras estão mais aquecidas no mercado de aves. Segundo a ABPA, o Brasil embarcou ao exterior 5,1% a mais no primeiro quadrimestre de 2020 na comparação com o ano passado, saindo de 1,29 milhão de toneladas para 1,36
milhão de toneladas. Em abril, o volume foi de 343,3 mil toneladas, 17 mil (4,7%) a menos que no mesmo mês de 2019 – segundo a Associação, pelo grande número de feriados no calendário brasileiro.

Já no mercado de suínos, no primeiro quadrimestre de 2020, as exportações brasileiras de carne suína totalizaram 280,8 mil toneladas, alta de 28,4% sobre o mesmo período do ano passado. Em abril, foram 72,8 mil toneladas, superando em 19% o total embarcado no mesmo mês de 2019, que teve 61,1 mil toneladas.

Novos mercados

Maior parceira comercial do Brasil, a China é a principal responsável pela compra da carne de aves e suínos brasileiros. Antes da pandemia, o país já sofria com a peste suína africana, que devastou o rebanho local, levando à necessidade de importar maiores quantidades de proteínas. Entretanto, as possibilidades não estão limitadas ao mercado chinês.

Do final do ano passado até agora, os frigoríficos nacionais foram habilitados para exportar para países onde havia certa resistência, como a Coreia do Sul (9 unidades) e o Egito (27 indústrias). Isso pode ajudar a diminuir o problema da maior oferta de carne em meio à perda de renda dos brasileiros, afetados pela crise econômica. Normalmente, cerca de 80% dos suínos e 70% da produção de frangos fica em território nacional.

“Com a queda no consumo interno durante a pandemia, a tendência é mudar a margem um pouco mais para o mercado externo. Aliás, seria um melhor caminho para todos, visando manter a atividade aquecida, os empregos e o consumo de carne no limite”, disse Turra. “Nessa hora de crise econômica, o mercado externo se torna muito importante. Vemos demanda maior de países da Ásia e da África.”

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Esse aumento da exportação aparece entre as grandes companhias. Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF teve 48% do seu faturamento do primeiro trimestre deste ano proveniente da exportação, com R$ 4 bilhões – avanço de 25,6% sobre este tipo de receita obtida no mesmo período do ano passado.

Foram 457 mil toneladas exportadas pela empresa nos primeiros três meses do ano, 8% a mais do que no primeiro trimestre de 2019. Desse total, foram 358 mil toneladas de carne de frango in natura (alta de 5%) e 44 mil toneladas de suínos in natura (44,4% a mais), além de 55 mil toneladas de carne processada (queda de 3,8%).

"É uma oportunidade de exportação do Brasil para o mercado internacional, tanto em aves, quanto em suínos, principalmente para a BRF, que conta com grandes habilitações para atender a esses mercados”, afirmou o CEO da empresa, Lorival Luz, em entrevista coletiva para detalhas os resultados financeiros da companhia no primeiro trimestre. “O Brasil tem todas as condições para atender esses países na falta de um mercado como os Estados Unidos”, pontuou o executivo.

Alerta para o Brasil

Se por um lado há um espaço no mercado que pode ser ocupado pelos frigoríficos brasileiros, por outro as indústrias estão em alerta para evitar a disseminação do Covid-19 da forma como ocorreu nos EUA. Diversas plantas foram fechadas nas últimas semanas no território americano por conta do alto contágio entre os funcionários.

No Brasil, apenas no Rio Grande do Sul, nove frigoríficos em sete municípios registraram casos da pandemia, como mostrou a Globo Rural na última sexta-feira (8/5). Em alguns desses casos, unidades acabaram fechadas pelas autoridades.

Na BRF, além do reforço nos cuidados sanitários, a companhia criou um comitê multidisciplinar para avaliar diariamente a situação, já contratou mais de 1,7 mil funcionários desde o início da pandemia e pode chegar a 5 mil no próximo mês.

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“A gente não é imune a essa situação (do coronavírus). Pode acontecer uma contaminação acelerada em uma região. Isso vai fazer com que a gente tenha que reduzir a capacidade produzida e a quantidade de pessoas na planta, o que, sem dúvida nenhuma, afetará a oferta”, afirmou o CEO da BRF.

Segundo a ABPA, as empresas dos setor de aves e suínos adotaram um protocolo forte de cuidados desde o início da pandemia, como o afastamento das pessoas em situações de maior risco, como os mais idosos, grávidas e pessoas com doenças pré-existente, além do uso de máscaras e álcool em gel nas unidades produtoras, entre outros.

Com o aumento de casos, essas medidas foram reforçadas, com a crescente contratação de trabalhadores para substituir quem faz parte do grupo de risco, afirma a entidade. “Hoje, estamos bastante confortáveis. Mas é uma situação que a gente tem que monitorar sempre,
de maneira diária”, afirmou Francisco Turra, da ABPA.

Juliana Ferraz, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, observa que, diferente dos Estados Unidos, a indústria brasileira é menos concentrada e tem frigoríficos espalhados por diversas regiões do país. Isso não significa,
em nenhuma hipótese, a adoção de medidas mais brandas no controle da pandemia.

Preço menor

Em 2019, o Brasil exportou 4,17 milhões de toneladas de carne de frango, 4% a mais em comparação ao ano anterior, segundo o Agrostat, banco de dados do Ministério da Agricultura. A receita aumentou 9% no período, para US$ 6,97 bilhões. No caso dos suínos, o crescimento em volume foi de 17% no último ano em relação a 2018, para 745,6 mil toneladas. A receita foi 34,7% maior, com US$ 1,59 bilhão.

Já neste ano, um dos efeitos da crise é que os mercados com capacidade de importação durante a pandemia têm negociado mais os preços, o que resultou na queda da cotação do quilo da carne para o exterior e menor incremento das receitas com as vendas em dólar. Por isso, apesar do crescimento das exportações brasileiras em 66 mil toneladas de aves nos quatro primeiros meses (5,1%) de 2020, o acréscimo no faturamento foi de apenas 0,5%, para US$ 2,15 bilhões.

O cenário é bem diferente no mercado de carne suína. A receita com as exportações chegou a US$ 650,3 milhões no primeiro quadrimestre de 2020, US$ 226 milhões a mais em relação ao registrado no mesmo período de 2019, alta de 53,3%.

Uma das exportadoras é a Cooperativa Agroindustrial Coopavel. Com frigoríficos em Cascavel, no Oeste do Paraná, a Coopavel embarca cerca de 70 mil toneladas de aves e 25 mil toneladas de suínos anualmente. No caso do frango, que são exportados para a China,
houve um aumento na procura nos meses de março e abril.

“Aumentamos em 20% a exportação. Houve um ganho de 40% com a valorização do dólar, mas o preço do quilo caiu em torno de 25%. Então, ainda temos uma margem 15% maior”, afirmou Dilvo Grolli, presidente da cooperativa.

Ainda de acordo com ele, a China está sempre atenta à conjuntura para estabelecer as negociações. “Os chineses têm a noção de que estão comprando mais carnes de frango e têm a visão estratégica que aumentaram a oportunidade de outros países de vender mais carne. Sabendo que estão aumentando a demanda, eles colocam limitações nos preços”, disse.

Juliana Ferraz, do Cepea, explica que em um momento de crise, em que os países tendem a diminuir a demanda por carne, é natural que o comprador negocie mais  pela queda da cotação. “A China está fazendo uma pressão para a diminuir o valor, pois sabe que tem como comprar mais”, diz.

Na indústria brasileira, o entendimento é que será necessário continuar o trabalho da abertura de novos mercados, aumentando a habilitação de plantas para a exportação, para diminuir a dependência de grandes compradores.
Source: Rural

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