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Fruta embarcada pela trader Fresh Quality. Retração das exportações para o Canadá foi compensada por oportunidades em outros países (Foto: Divulgação)

 

O coronavírus praticamente travou a comercialização de frutas frescas entre Brasil e Canadá, cujos negócios vinham sendo viabilizados em um modelo de parceria entre a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) e a Air Canada. Como a exportação é baseada em uma frequência de cargas nos aviões da companhia aérea, os negócios tiveram queda significativa por causa das restrições de voos internacionais adotadas diante da pandemia.

O formato de negócios foi idealizado há três anos e representa uma boa alternativa para os exportadores, já que reduz custo com o frete. A operação começou com o envio de um palete de figo em um dos aviões que faz a rota comercial diária entre São Paulo e Toronto. Depois, foram atemoias, mamões, abacates e limões. No ano passado, a Air Canada passou a fazer o trecho entre São Paulo e Montreal três vezes por semana, favorecendo a venda de frutas.

Um dos desafios está no fato da cadeia da fruticultura ser formada por pequenos produtores e estar pulverizada em todo o país. Muitas vezes, é necessário ainda, organizar produtores que não atendem aos requisitos para a exportação, como as certificações que garantem a qualidade do processo produtivo.

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Além disso, como os produtos são perecíveis, precisam chegar rapidamente às prateleiras canadenses. “A fruta é colhida aqui, na manhã seguinte chega a um centro de distribuição no Canadá e, em 48 horas, esse figo ou atemoia já está disponível em um supermercado em Toronto (Ontário) ou Montreal (Quebec)”, afirma Paulo de Castro Reis, diretor de Relações Institucionais da CCBC.

Apesar de ainda representar uma parcela pequena no total de frutas exportadas (0,7%), os embarques brasileiros de frutas frescas no último ano chegaram a 6,9 mil toneladas, com uma receita de US$ 9 milhões, segundo o Agrostat, banco de dados do Ministério da Agricultura (Mapa). Para o Canadá, foram 547 toneladas no período, 89 toneladas a mais do que em 2018, e uma receita de US$ 1,8 milhão – 20% do faturamento brasileiro com as vendas externas para o segmento.

Em condições normais, dado o sucesso da iniciativa, a maior parte dos vôos comerciais entre Brasil e Canadá é composto pelas frutas, o que varia entre 10 a 11 toneladas, mas pode chegar até a 22 toneladas dependendo da aeronave. "É um case de sucesso. Da carga que nós despachamos para o Canadá, 70% representa as frutas frescas. Esse modelo agregou a necessidade dos produtores e importadores, e o perecível tem um preço um pouco mais elevado", avalia o presidente da Air Canada, Giancarlo Takegawa.

Exportação

 

Um dos prejudicados com a suspensão das rotas aéreas para as vendas de frutas frescas foi o canadense Etienne Beauregard. Ele administra a Samba Fruits, empresa com sede em São Paulo focada na aquisição de pequenos produtores e vendas para o país norte-americano. Beauregard exporta frutas brasileiras para o Canadá desde 2012. Entre figo, atemoia, caqui, manga palmer e tommy, goiaba, limão taiti convencional e orgânico, sua quantidade varia entre 50 a 80 toneladas por ano.

No entanto, a pandemia não só dificultou o escoamento da produção, como também aumentou o preço do frete. “Normalmente, o custo para o envio é de US$ 1 por quilo. No começo de março, estava em US$ 2. Isso torna o negócio insustentável”, diz o canadense.

Beauregard estava negociando uma carga de limão siciliano que seria enviada para Montreal de navio, uma alternativa à ausência da rota aérea. Porém, além dos 30 dias necessários para o trajeto, saindo do Porto de Santos (SP), sua oferta de US$ 26 para a caixa de 18 quilos da fruta era muito superior ao preço do limão produzido na Califórnia (EUA), de US$ 18 para a mesma quantidade, anulando qualquer possibilidade comercial.

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“Quando eu faço o embarque por navio, o importador canadense ainda precisa pagar taxas no porto. O limão da Califórnia não tem impostos e a entrega é feita direto no galpão do distribuidor. É uma condição muito dura”, afirma.

Apesar das dificuldades momentâneas, ele acredita que as frutas brasileiras têm grande potencial no Canadá. “O mercado canadense tem uma capacidade de comprar ainda mais frutas do Brasil, como o limão e a atemoia. Eu estou sempre trabalhando com pequenos produtores brasileiros e com produtos que não são exportados”, completa.

Desde 2016, Marcelo Corrêa, especialista em novos negócios internacionais, tem atuado na abertura de oportunidades para a fruticultura brasileira no Canadá. Além de Toronto e Montreal, ele trabalha com negócios em Vancouver, cidade da província de British Columbia conhecida pelo elevado número de brasileiros. O especialista também enxerga potencial no mercado canadense. "O canadense é exigente, mas o produto brasileiro tem qualidade e é bem aceito. Temos mercado a ser explorado", analisa.

Paulo de Castro Reis, diretor de Relações Institucionais da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (Foto: Divulgação)

 

Retomada das exportações

As restrições para a entrada de aviões em território canadense já causam queda nas variedades de frutas ofertadas nas prateleiras. “Não falta alimento. Mas se antes eram 12 tipos de frutas, agora são três. O comércio canadense na área de alimentos e bebidas é baseado em importados”, afirma Paulo de Castro Reis, da Câmara de Comércio Brasil-Canadá.

Os vôos foram suspensos pela Air Canada no período entre 1 de abril a 2 de junho. A primeira viagem saindo de São Paulo para Toronto deve ser realizada no dia 3 de junho – inicialmente, a rota deve funcionar apenas três vezes por semana. No entanto, o primeiro teste será feito já no dia 7 de maio, utilizando um avião que virá de Seul, na Coreia do Sul, para São Paulo, com equipamentos hospitalares, como máscaras e testes para a Covid-19.

Na volta para Toronto, a aeronave levará apenas mercadorias, como frutas. Sem malas e passageiros, a ocupação total pode chegar a 40 toneladas. “Nós temos alguns dias para vender esse voo. A tendência é conseguir, porque existe a procura de frutas frescas para o Canadá. Se der certo, vamos colocar uma demanda maior de cargas”, explica o presidente da Air Canada, Giancarlo Takegawa.

Para o especialista em negócios internacionais Marcelo Corrêa, uma retomada nas vendas deve levar cerca de seis meses. "As províncias de Ontário e Quebec e a cidade de Vancouver foram muito atingidas pelo coronavírus. O mercado vai absorver essa oferta brasileira assim que as escolas e restaurantes voltarem. Então, será um pouco devagar", pontua.

Oportunidades

Se para alguns exportadores as restrições impostas por conta da pandemia se transformaram em barreiras, para outros isso resultou em oportunidades. Entre gengibre, atemoia, limão, banana, batata doce, abacate, limão siciliano e manga, a trader Fresh Quality vendeu cerca de 500 toneladas nos 12 meses anteriores a abril com a exportação de frutas. A perda da rota aérea para o Canadá foi compensada com o aumento da comercialização para países como Alemanha, França, Rússia, Holanda e Espanha.

“Tivemos um aumento muito grande nos últimos seis meses. No mês passado, chegamos ao pico. O problema com o coronavírus resultou em maior demanda por vegetais e frutas, e, principalmente, pelo gengibre, que ajuda a fortalecer a imunidade. Para o nosso negócio, tem sido mais positivo por conta da comercialização em outros mercados, do que negativo com a perda do mercado canadense”, afirma o sócio Guilherme Marques.

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Cada fruta da Fresh Quality utiliza uma packing house terceirizada (espécie de galpão para o armazenamento das frutas), com uma estrutura física para reduzir ao máximo as perdas dos produtos com a logística. A falta de aviões para o transporte das frutas frescas exigiu mudanças nas operações. “Muitos estavam pedindo caqui. Em alguns casos, nós não temos o transporte aéreo. Isso exige mais embalagens à vácuo para manter a durabilidade do pós-colheita e enviar via transporte marítimo”, explica Marques.

Ele entende que a situação dos agricultores é delicada. E afirma que, sem os aviões, produtos de alto valor agregado, a exemplo do mamão e do melão, devem ser vendidos no mercado interno.

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Source: Rural

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