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Para especialistas, incerteza de agora pode afetar oferta de carne suína no longo prazo (Foto: Ernesto de Souza/Ed.Globo)

 

A combinação entre queda de preços, provocada por uma demanda vacilante durante tempos de coronavírus, e aumento dos custos de produção podem levar a uma escassez de de suínos no mercado interno no longo prazo. De acordo com o pesquisador do Cepea, Thiago Bernardino, a relação de troca do suíno com o milho já é a pior em dois anos, o que tende a desestimular a produção em tempos de recessão e incertezas com a economia.

“Desmotivado a continuar, o produtor reduz a alimentação, não engorda mais e assim vai retardando o ciclo. No longo prazo, vai faltar carne”, explica o pesquisador ao destacar as condições favoráveis para a exportação da carne suína, com o dólar acima de R$ 5 e uma demanda aquecida na China, maior consumidor mundial. “Com isso, essa carne acaba ficando muito barata no mercado internacional, não só para a China, que é o nosso grande comprador, mas também para a Rússia”, completa Bernardino.

Exportações promissoras

No primeiro trimestre deste ano, as exportações brasileiras de carne suína somaram 205,5 mil toneladas, um crescimento de 32,7% ante o observado em igual período do ano passado. O resultado foi puxado principalmente pela China, cujo volume importado praticamente
triplicou, passando de 33,6 mil toneladas de janeiro a março de 2019 para 97,4 mil toneladas em 2020. Com o país iniciando a sua recuperação após o período de quarentena provocado pela Covid-19, as expectativas do setor são positivas para o mercado externo.

“A peste suína africana não foi contida. Pelo contrário, atingiu outras regiões da Ásia. Além disso, há novos casos de influenza aviária na Índia e na própria China. Na Europa, houve queda da produção de carne suína este ano e aumento no consumo, então o continente
também deve ser um pouco mais demandante”, destaca o presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Segundo ele, o coronavírus dificulta a retomada da produção nesses países após esses problemas sanitários, abrindo espaço para as exportações brasileiras.

Pequenos sofrem mais

As exportações em patamares recordes, contudo, não poderão evitar que o setor sofra alguns danos, já que o mercado interno ainda responde por 80% das vendas de carne suína no país. “Alguns produtores talvez não consigam passar por esse período de transição. Claro
que quem está no mercado internacional, teoricamente, vai passar por isso com mais facilidade. A questão são os demais”, explica Thiago Bernardino, do Cepea, ao lembrar que o acesso ao mercado internacional ainda é restrito a poucos produtores.

“O consumo interno menor realmente é um desafio muito grande no longo prazo. podemos ter muito produtores deixando a atividade, podendo levar a problema de oferta no futuro”, aponta Bernardino.

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Francisco Turra, da ABPA, acrescenta que a desvalorização da carne suína e do frango no mercado interno chegaram ao limite. “Você pode ver que houve aumento no preço dos ovos, mas frango e suíno não subiram. É difícil esperar uma queda porque não há como a indústria suportar esses preços com um aumento de custo de 100%”, avalia Turra.

Desde o início do ano, o indicador Cepea/Esalq para o suíno vivo negociado em Santa Catarina, principal Estado produtor, acumula desvalorização de 39%, enquanto o indicador
Esalq/BM&Bovespa para o milho é cotado em patamares recordes.

Auxílio emergencial

 

 

Diante das incertezas com o futuro da economia, a indústria de proteína animal espera que as medidas de auxílio anunciadas pelo governo federal ajudem a manter o mercado consumidor mais aquecido nos próximos meses. “Há uma série de medidas que vão ajudar a manter um pouco mais aquecido o consumo interno. Entao nao vai ser aquilo que se imaginava, que poderia ser um caos”, observa o presidente da ABPA.

“Como a nossa proteína é mais barata, especialmente frango, suínos e ovos serão demandados por uma questão de escolha”, explica Francisco Turra, ao destacar que a situação, ainda assim, é grave.

Esses impactos, contudo, não terão efeito uniforme sobre a cadeia produtora de suínos e dependerá do portfólio de clientes de cada um. “A indústrias que tiverem acesso a diferentes mercados, tanto internacional quanto varejo, terão facilidade maior para passar por
essa crise, mas aquela que estiver focada em food service está quebrada”, aponta o pesquisador do Cepea, ao defender a reorganização da cadeia maior acesso ao crédito para salvar pequenos e médios produtores. “A garantia de transferência de renda ameniza um
pouco, mas não resolve porque é crise mesmo”, lamenta o presidente da ABPA.
Source: Rural

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