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Decisão de plantio da próxima safra de algodão dependerá da retomada da economia, avalia a Abrapa (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)

 

As dificuldades trazidas pela crise do coronavírus podem levar o Brasil a reduzir em até 40% a área plantada com algodão na próxima safra. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbujo.

Em entrevista ao vivo transmitida pelo perfil da Globo Rural no Instagram, na quarta-feira (22/4), ele avaliou que a falta de liquidez vivida pelo mercado atualmente traz incerteza para o planejamento da próxima temporada e pode levar o produtor a migrar para soja ou milho.

“O plantio pode cair. O que é ruim porque o investimento é alto. Se a economia mundial, mudar, isso pode mudar. Com a economia do jeito que está, o Brasil pode perder ate 40% da área de plantio”, disse ele.

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De acordo com o presidente da Abrapa, o algodão que está no campo neste momento tem condições climáticas favoráveis e a perspectiva é de boa produção. Mas com a redução da atividade econômica interna e externa, o mercado parou de se movimentar. Com 70% da safra brasileira comercializada, os cotonicultores já consideram a possibilidade de prorrogações de contratos.

“Os maiores compradores desses contratos são asiáticos e eles também estão com problemas. Vai ter atraso de embarque, vai ter alongamento de contrato e o produtor tem contas para pagar”, pontuou Garbujo, dizendo que, pelo menos até o momento, não há informações sobre rompimento de contratos de algodão.

Segundo o presidente da Abrapa, mesmo com o dólar cotado a mais de R$ 5, não houve alteração significativa nos custos atrelados à moeda estrangeira. Mas os preços de venda do produto, também dolarizados, caíram. Em Nova York, referência para o mercado internacional, saíram da faixa dos US$ 0,70 para menos de US$ 0,50 por libra-peso, desestimulando os negócios com os 30% restantes de safra nacional.

“Não vai ter liquidez no algodão e vai ter problema para o produtor cumprir seus compromissos. Temos que fazer o planejamento da próxima safra e a conta não fecha”, disse ele.

Minimizar danos

Na indústria têxtil, o cenário atual é de minimizar os dados trazidos pela pandemia de coronavírus para as empresas terem capacidade de responder à retomada da atividade econômica, afirmou Fernando Pimentel, presidente da Abit, que representa o setor.

Também na transmissão ao vivo da Globo Rural no Instagram, o executivo afirmou que a indústria tem direcionado parte da sua capacidade para o atendimento à demanda do setor de saúde. Ajuda, mas tem pouca representatividade nos negócios.

Outra alternativa que tem sido incentivada pela Abit é o comércio eletrônico, disse Pimentel. Segundo ele, a própria associação está apresentado para o mercado uma estrutura de market place para que as empresas possam vender seus produtos via internet. A evolução desse tipo de comercialização, avaliou o executivo, é visível, mas a representatividade desse tipo de comércio também é pequena em relação ao varejo total.

Uma das preocupações é com o Dia das Mães, no segundo domingo de maio. A data é importante para o setor, mas, neste ano, com as restrições de movimentação, deve ser perdida em termos de resultado.

“O quadro é de paralisia quase total, aguardando o retorno do comércio. Em algumas áreas do país, já houve uma flexibilização. Estamos monitorando como esse consumidor está voltando, porque temos um consumidor ainda assustado com a própria doença, preocupado com a existência de um emprego em um futuro próximo e acordos de redução de jornada e salário”, analisou o executivo.

Pouco crédito

Segundo ele, além da falta de movimento no comércio, o setor têxtil enfrenta um problema de fluxo de crédito. Pimentel explicou que as tecelagens facilitam o pagamento das confecções, que, por sua vez, também dão crédito para os seus clientes. Mas há dificuldades financeiras ao longo da cadeia e, ao mesmo tempo, o crédito anunciado pelo governo de apoio ao setor produtivo, ainda não chegou na ponta.

Além disso, vem a pressão da concorrência externa. O presidente da Abit lembra que a China já está voltando a se movimentar e retomando a produção em um momento que ele chamou de paralisia em outras partes do mundo. De acordo com Fernando Pimentel, há informações de que os chineses já reduziram em dois terços os preços de seus produtos.

“A China está voltando, é uma máquina de produzir, tem uma capacidade de produção inimaginável. Como vamos cuidar desse momento com a China, que vem com uma série de excedentes produtivos? Lá, você disputa com uma empresa e com todo um sistema econômico que dá suporte a ela”, explicou o presidente da Abit.
Source: Rural

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