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Milho para exportação no Porto de Paranaguá (Foto: Cláudio Neves/Appa)

 

Em relatório divulgado nesta semana, o Banco Mundial prevê um cenário de extrema dificuldade para os países da América Latina e Caribe para o pós-crise do coronavírus. Segundo a instituição, isso pode acontecer porque a demanda por commodities e produtos manufaturados deve cair "dramaticamente", com implicações diversas para os países exportadores.

"Diferente dos desenvolvidos, os países da América Latina e Caribe não têm o espaço fiscal aproveitado por países avançados. Alguns deles passavam por crises econômicas mesmo antes do surto da Covid-19", afirma trecho do documento assinado pelo economista-chefe da instituição para América Latina e Caribe, Martin Rama.

O Brasil é um dos países que vinha de um momento de crise. A economia contabilizou uma retração de 7,4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no biênio 2015 e 2016. O país é um dos que devem ter as suas economias deterioradas no curto prazo. A previsão do Banco Mundial é de queda por volta de 5% em 2020.

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Essa estimativa é baseada em três fatores: fraca demanda externa, preços do petróleo e a ruptura economica por conta da pandemia. “Esses três fatores devem reduzir o consumo e impactar a produtividade no trabalho, enquanto é esperado um crescimento do desemprego”, diz a instituição.

O Banco Mundial lembra que o alto nível de informalidade torna menos eficaz instrumentos de política econômica para combater os efeitos da crise, como o corte temporário de tributos para as empresas ou mesmo o subsídio de parte do salário dos trabalhadores.

Commodities

No caso das commodities, a economia brasileira é amplamente exportadora e dependente do bom desempenho da produção do agronegócio, principalmente de grãos, como soja e milho.

Para se ter ideia do peso dos dois alimentos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Coan) prevê uma produção total de grãos em 251,7 milhões de toneladas ao final da safra 2019/2020. Deste montante, 222 milhões de toneladas são da oleaginosa e do cereal.

No ano passado, os embarques para o exterior dos dois produtos somaram 134,4 milhões de toneladas, com uma receita de US$ 40 bilhões, segundo o Agrostat, sistema de estatísticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Segundo o consultor de mercado Carlos Cogo, o setor agrícola brasileiro tem sido beneficiado pelo repasse do preço das commodities e da exportação por causa do dólar acima de R$ 5. "O setor está respondendo bem por conta do câmbio flutuante. Os principais grãos, soja e milho, estão com níveis elevados de vendas ao mercado externo", disse.

Mercado interno

Quanto ao consumo interno, André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, alerta que a crise tem feito a população se preocupar mais em poupar, injetando menos dinheiro na economia, o que também impacta na retração dos 5% sinalizada pelo Banco Mundial.

No entanto, a população ainda precisa se alimentar. Neste sentido, ele diz que o agronegócio permite flexibilidade por parte do consumidor em alternar seu consumo em momentos de instabilidade econômica.

“Em alguns segmentos, podemos ter algumas migrações e os setores vão ter que ver pra onde vai essa substituição de compra das famílias”, afirma. Um dos casos é o da carne de frango, que é considerada alternativa à carne bovina e está com a demanda aquecida.

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Ainda assim, alguns alimentos registram maior demanda e, por consequência, alta nos preços, como frutas e hortaliças. Enquanto os consumidores estão em casa, em decorrência da pandemia, e buscam estocar alimentos, no campo muitos produtores sofrem para fazer o escoamento e a venda desses produtos, com a restrição no trânsito de veículos e no funcionamento de feiras livres.

“As medidas de restrição da circulação de pessoas, com dificuldades para as feiras, mercados institucionais e restaurantes, influenciaram diretamente e negativamente a demanda de frutas e hortaliças”, aponta relatório da Cogo Inteligência em Agronegócio.

Petróleo

Fator considerado importante na avaliação do Banco Mundial, o mercado de petróleo enfrenta um período de forte baixa nos preços. Além da pandemia de coronavírus, no começo de março, uma ruptura entre Arábia Saudita e Rússia elevou a disponibilidade do óleo no mercado mundial, fazendo a cotação do barril derreter no mercado internacional.

"A queda no preço do petróleo deve ter efeitos deletérios para os países cujo ganhos com exportações e as fontes de financiamento dependem criticamente do produto. Mas trará alívio para os importadores", diz o Banco Mundial.

Em teleconferência realizada entre os membros da Organização Mundial dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), no último domingo (12/4), eles chegaram a um acordo que propõe, inicialmente, a redução diária da produção de 10 milhões de barris.

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O problema, no caso do agronegócio, é que essa commodity também dita os preços e o ritmo de produção de outros três produtos: a cana-de-açúcar, o milho e o algodão, conforme explica o consultor Carlos Cogo.

“Ao cair o petróleo, cai o preço da gasolina e isso empurra para baixo o etanol gerado a partir da cana. No caso do milho, também transformado em biocombustível, vemos um grande fechamento de usinas nos Estados Unidos; enquanto o algodão, com a fibra produzida a partir de derivados de petróleo, tem o seu valor em dólar no menor patamar nos últimos 10 anos”, observa.
Source: Rural

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